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A cidade bem iluminada e movimentada até demais para o horário me cegava em inúmeros sentidos. Minha cabeça doía e meus olhos mal ficavam abertos, acredito eu, que o álcool ainda não tinha tirado a pouca dignidade que me restava. Desde que cheguei em Las Vegas, todos os meus princípios e ideais estavam sendo repensados, ou melhor dizendo, estavam na sola do meu sapato. Afinal, eu realmente precisava de dignidade? Tudo que eu queria era continuar bebendo meu whisky.

- Não acredito que bebeu metade da garrafa. - ouvi Ayo reclamar. A mulher fez intercâmbio na minha cidade por uns anos, criamos laços e aqui estou eu, bancando a viagem dela.

- Você queria um pouco?

Perguntei com preguiça e humor na voz, erguendo a garrafa pra ela, que não pensou duas vezes antes de pegar e jogar no lixo mais próximo. Aquilo custava mais que todo o guarda-roupa daquela mulher, mas não reclamei, ela disse que faria isso caso eu saísse do hotel com o vidro na mão. Pelo menos bebi metade antes.

- Levanta do chão, 'tá passando necessidade? Tem que estar muito bêbado pra sentar no chão de qualquer lugar nos Estados Unidos.

Gargalhei, era verdade, mas eu não estava tão bêbado, só cansado. Vi uma escada e sentei. Era possível ouvir algumas pessoas que saíam do metrô reclamarem, já que eu estava sentado na saída do lugar, exatamente no meio. Estava frio e era madrugada, eu não enxergava estrelas no céu, tão pouco a lua, já que as luzes e placas chamativas das ruas roubavam toda a cena. Simplesmente, horrivel e desconfortável ao meu ver.

- Depois eu tomo banho, Ayo. - revirei os olhos, resmungando feito criança quando senti a mulher me puxar pelos braços e colocar os mesmos por volta de seu pescoço, atrás dela.

- Já que beber e apostar é a única coisa que se faz nesse lugar, é o que vamos fazer!

Sorri entre seus cachos curtos, finalmente enxergando uma vantagem. Aquela viagem não tinha propósito algum, apenas duas pessoas recém formadas em psicologia gastando tudo que têm. Eu só precisava tirar algo de dentro de mim que eu ainda não sabia o que era, e como qualquer adulto que não teve adolescência, naquela noite eu queria decididamente tomar decisões precipitadas e provavelmente prejudiciais.

- Ayo, eu quero casar! Casa comigo? - perguntei a apertando em meus braços e fechando os olhos, deixando ela continuar me guiando.

- Minha mulher some com você em dois minutos, Min! - ouvi ela rir e abri os olhos, vendo que estávamos próximos de um cassino, de vários, na verdade.

- Problema dela. Aliás, qual delas?

Parei de andar e a puxei comigo pelo antebraço, trazendo-a pra perto de mim.

- Não vou gastar um centavo nesse lugar.

- E nem em lugar nenhum, o quê você pagou até agora? - a deixei reclamando do lado de fora e lancei um olhar curioso para o segurança, que apenas concordou com a cabeça e me deu boa noite.

De fato, quando o assunto é festa, cassino, boate etc, o país dava um show. O lugar era bem iluminado e o chão inteiro era um tapete vermelho. Muitas cores, muita informação, eu me senti tonto novamente. Nem me preocupei em achar Ayo, ela com certeza estava apostando com o meu dinheiro. Procurei um lugar pra me sentar e beber algo. Eu nunca tive problemas com bebida, muito menos precisava de álcool pra me divertir ou sentir algo, bebia porquê agravada meu paladar. Dificilmente ficava bêbado, só um pouco animado.

Ao chegar, me deparei com um ambiente mais calmo e pouco iluminado, me dava sono. Apenas mais duas pessoas estavam, uma delas me chamou atenção. Era um homem três vezes maior que eu, tanto na altura quanto no porte físico. Não vi seu rosto, só suas roupas de frio pretas e grossas, também reparei nos dois riscos na lateral de seu cabelo.

20 Ligações  ❥ MYG + KNJOnde as histórias ganham vida. Descobre agora