q u a t r o

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Eu tinha quase certeza de que meu cérebro pregava alguma peça em mim naquela manhã, parecia ser tudo perfeitamente encenado pra me tirar do sério e esvair toda a calmaria e paciência que cultivei durante todos os anos no curso insuportável de psicologia. Todo o percurso, da Coreia até aqui, se assemelhava a um filme de comédia e terror. Sentia estar pagando uma prenda por algo muito ruim que fiz no passado. Escolhi um dia pra agir por impulso feito um adolescente que recém se formou e nesse mesmo dia eu cometo todos os erros que alguém pode cometer em cerca de dez anos.

NamJoon voltou com os fios de seu cabelo alinhados e sobretudo abotoado, da mesma forma que o vi ontem pela primeira vez. Mesmo ele extremamente puto comigo por razões inexistentes — eu acho —, eu ainda me segurava pra não olhar ele como um louco. Todo esse estresse e não ganhei nem um beijo sequer. Essa parte era quase mais frustrante que o casamento e a possível adoção.

Eu sabia bem como funcionava, não era tão simples assim e provavelmente teríamos tempo pra desfazer todo o problema que eu arrumei da maneira mais humilhante possível.

— A gente exagerou ontem. Arrisco dizer que tivemos um coma alcoólico. — não consegui não rir baixo, era cômico de alguma forma.

Ele travou a mandíbula e cruzou os braços. Poderia ao menos facilitar pra mim, não?

— Tem remédio pra dor de cabeça, atrás de você. — apontei e ele olhou de canto, voltando sua atenção pra mim, esperando que eu terminasse. — Amanhã cedo a gente resolve a questão do casamento, é rápido.

Não que eu tivesse experiência com aquilo, apenas li os papéis, ele não precisava saber desse detalhe. Passei a língua em meu lábio inferior, pensando se contaria ou não sobre a confusão maior, o nome dele estava envolvido, ele gostaria de saber.

O vi se virar e tomar o remédio sem água, e então alcançando uma caneta e escrevendo algo no bloco de notas de cima da mesa, me levantei pra ver o que era. Ele iria escrever ao invés de falar? Era um voto de silêncio, um gelo? Me aproximei e vi números, era o número dele. Menos mal, eu acho.

Endireitou a coluna e me olhou, próximo. Posso dizer que estava lutando contra o desejo de beijá-lo, mas não era o momento, nunca seria, pelo visto. Ele esperava um pedido de desculpa? Eu não o devo isso, minha última preocupação era o que ele achava ou esperava de mim.

— Mais alguma coisa? — perguntou baixo.

— Não. — neguei com a cabeça, mas sabia que se eu não contasse, aquilo me assombraria. Era melhor falar de uma vez, não parecia ser uma situação tão simples de se resolver. Lembrei-me do tom de voz do Hoseok. — Sim!

Segurei seu braço antes que ele saísse e ele apoiou seu corpo na mesa atrás dele. Os olhos escuros voltaram a me analisar com atenção, eu me distraía todas as vezes que nossos olhos se encontravam, era difícil e eu me sentia pequeno em inúmeros sentidos.

— Ontem, quando a gente se conheceu, nós tivemos uma longa conversa sobre seu relacionamento. — ele suspirou, aquilo ainda o afetava e era a única coisa que o fazia se sentir pequeno, aparentemente. Desviei o olhar, alcançando minha orelha com a mão, tentando esvair o nervosismo. — E você citou sobre o seu sonho de ser pai, acho que conversamos muito mais sobre isso. — ele se sentou na cadeira e entrelaçou os dedos, erguendo as sobrancelhas e pedindo silenciosamente que eu continuasse. — Eu comentei sobre meu amigo que cuidava de casos de adoção.

— Isso não é tão fácil assim. — ele riu, massageando sua têmpora.

— Eu sei muito bem. — tentava não rir e demonstrar a ansiedade e vontade de me jogar da janela. — Mas ele disse que ja é meio caminho andando. Insistimos tanto que ele foi atrás, NamJoon.

Ele riu mais uma vez.

— Você só pode estar brincando. — se levantou abrupto, me fazendo dar alguns passos pra trás. — Você não fez isso.

— Eu? — deixei sair o riso de nervoso, apontando pra mim, tão surpreso quanto ele. Não esperava tamanha falta de maturidade, mas a verdade é que eu não sabia se cobrar isso dele era certo. — Nós fizemos. Agora você e eu vamos resolver isso. A culpa não é só minha.

— Isso não é crime?

— Seria crime se eu tivesse te forçado a fazer isso, mas ambos estavam completamente bêbados, e por quê eu iria querer ter um filho com um cara que eu acabei de conhecer? Pensa um pouco, NamJoon-ah.

Juntei minhas mãos na frente do meu corpo e o olhei com um sorriso irônico. Eu nunca falaria daquela forma com ninguém, ainda mais se acabei de conhecer aquela pessoa, só que ele conseguia ser terrivelmente irritante e imaturo, se ele pensasse um pouco saberia que eu estava tão inconsciente quanto ele. Uma coisa ainda martelava em minha cabeça, como Hoseok não percebeu minha voz completamente bêbada? Ou as mensagens ilegíveis, ou ele era muito burro ou eu realmente era muito convincente.

— Como é que a gente resolve isso, Min?

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⏰ Last updated: Jul 28, 2022 ⏰

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