Capítulo 5

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Uma nova rotina se instituiu entre os moradores do pequeno apartamento nos confins da Zona Morta.

Durante a semana, no início da manhã, Genos limparia, lavaria e prepararia qualquer coisa que precisasse ser limpa, lavada ou preparada; mais tarde, instigaria Saitama a sair da cama e conversar sobre qualquer coisa que o interessasse — o que geralmente rendia diálogos estranhos e propositadamente inconclusivos ("O que tem de tão importante na maneira como cogumelos são marinados?", ele se perguntou após um acalorado debate sobre os melhores condimentos para o shimeki) —; e, quando entardecia, se dedicaria por completo aos estudos.

Nos fins de semana, sem falta, eles sairiam para dar uma volta, às vezes indo ao mercado ou então simplesmente vagando pelas ruas abandonadas.

A despeito da reticencia inicial, Saitama se acostumou ao novo ritmo facilmente. Ele resmungava e arrastava os pés nas primeiras horas do dia — e exibia um prazer especial ao desordenar as pilhas de roupa que seriam lavadas —, mas seu apetite retornara e as noites de sono eram mais tranquilas — embora Genos achasse engraçado o homem fingir estar dormindo sempre que o levava nos braços.

Quem diria que pequenas mudanças fariam tantos milagres? Era incrível!

E, ainda assim, havia um único hábito que Genos não conseguira alterar: uma vez, no dia 15 de cada mês, Saitama desapareceria do apartamento sem deixar rastros e retornaria apenas no fim do dia seguinte, tão exausto e indisposto que levaria dois ou três dias para convencê-lo a sair da cama outra vez.

Genos tentou segui-lo algumas vezes, contrariando as recomendações do Dr. Kuseno sobre "respeito ao espaço e privacidade", mas suas habilidades furtivas eram inúteis. Seu colega de apartamento era sorrateiro como um tanuki e suas armadilhas nunca o impediam de escapar do prédio quando o dia 15 chegava.

Só lhe restava uma alternativa: perguntar o motivo diretamente. Ao Saitama. E por alguma razão misteriosa ele sentia que derrubar uma parede de tijolos com um palito seria mais divertido.

Essa conversa não seria fácil.

Nem agradável.

Mas era necessária.

Então Genos esperou, atento a cada movimento, cada ato que parecesse remotamente singular, e, quando o dia 14 chegou, decidiu que era hora de agir.

As janelas estavam fechadas e o aquecedor zumbia fracamente no cantinho mais ignóbil do apartamento inteiro — o inverno chegaria dali a poucos dias e eles precisavam mesmo comprar um aparelho novo. Livros e cadernos formavam pequenas torres ao lado da televisão e o cheiro de arroz no vapor e torikatsu temperava o ar. De costas para a janela, Saitama assistia a um programa de variedades enquanto esperava Genos se sentar; mal sabia ele que o jovem cyborg estava a um passo de fritar os próprios circuitos calculando a melhor maneira de abordar o assunto.

Suas projeções sempre terminavam mal. O que era ótimo. Se todos os planos davam errado então qualquer resultado ainda seria positivo no fim das contas, certo?

Genos entrou na sala como um soldado em uma missão, o que lhe rendeu um olhar de esguelha por parte do companheiro. Sentou-se em seiza, rígido como uma tábua, e respirou fundo.

Saitama arqueou as sobrancelhas, levemente interessado.

— Amanhã é dia 15. — anunciou solenemente. A sutileza saltou pela janela naquele instante, mas ao menos ele tinha 100% da atenção do ex-herói agora.

— É... — o homem concordou cautelosamente.

— E eu notei que você sempre sai no dia 15.

— Hum...

O mais forte de nósWhere stories live. Discover now