O canto das cigarras desvaneceu nas sombras. A luz do sol filtrada pelas folhas das árvores desenhava padrões estranhos no vestido azul. Os lábios macios, agora tingidos de vermelho, se curvaram num sorriso caloroso.
— Você está chorando?
O homem não teve forças para responder. A dor rasgava seus músculos, entorpecia seus sentidos, queimava em seus pulmões, e ainda assim não machucava tanto quanto a culpa atroz em seu peito ou o profundo sentimento de derrota em seu coração.
Se realmente era um herói — um maldito herói —, então por que não se sentia como um?!
— Eu sonhei um último sonho. — ela suspirou.
Ele tampou os ouvidos, tentou bloquear o mundo exterior, ignorar a confusão em sua mente, mas estava consciente demais do sangue revestindo suas luvas e escorrendo por seu rosto para encontrar a paz que tão desesperadamente procurava.
Entreabriu os lábios num lamento mudo e oco quando aqueles olhos — aqueles olhos que não carregavam um grama de ressentimento — se voltaram em sua direção.
— Sonhei esse para você. — dedos pálidos apertaram o peito manchado de carmesim. — É um bom sonho... eu acho...
E as lágrimas que correram pelas bochechas do herói eram mornas, salgadas, absolutamente humanas.
∴
Numa fria manhã de sábado, enquanto um chuvisco manso tamborilava nas janelas e o aroma de okonomiyaki ainda preenchia o ar, o Dr. Kuseno desceu as escadas que levavam ao laboratório subterrâneo e repassou o cronograma de tarefas que estabelecera para aquele dia.
Acendeu as luzes, ouvindo o zumbido dos computadores em atividade, e tomou um gole do café que preparara mais cedo; ligou os monitores, conferiu as estatísticas que deixara em processamento na noite anterior, verificou o andamento da nova liga metálica que vinha estudando e só então percebeu Genos sentado na mesa de operações segurando um calhamaço de papéis.
— O que...? — engasgou.
— Doutor! — o cyborg saltou, animado. — Coletei mais informações sobre Saitama-san na última semana e elaborei um relatório base. Também tenho gravações que precisam ser analisadas...
A toda pressa mostrou alguns dos cadernos encontrados no apartamento do ex-herói, explicando que os eventos ali registrados realmente constavam nos relatórios oficiais da Associação, e exibiu os paralelos que fizera entre suas observações antigas e as atuais.
As informações minuciosamente catalogadas chegavam a serem enervantes de tão pormenorizadas, mas lentamente a incredulidade na expressão de Kuseno deu lugar ao interesse genuíno quando soube que Saitama era, talvez, o único homem no mundo com as memórias intactas.
Duas horas mais tarde, após assistirem uma sequência de vídeos e repassarem as anotações pela enésima vez, o laboratório mergulhou numa quietude expectante. O rapaz olhou para o velho e o velho reprisou as gravações mais uma vez.
— E então? — instigou.
— Em primeiro lugar, Genos, não faça vídeos sem a autorização de Saitama. Suas intenções foram boas, mas isto não deixa de ser invasão de privacidade, entendido? — o cyborg anuiu obedientemente e o doutor voltou a observar a gravação. — Agora, se o que ele falou for verdade, então estamos diante de uma fonte de informações extremamente valiosa para o mundo.
— Devemos avisar à Associação?
Kuseno sopesou os prós e contras, esfregou o queixo fino e meneou a cabeça.
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O mais forte de nós
FanfictionOs monstros estão mortos. Os heróis não são mais necessários. E o mundo pode viver em paz mais uma vez. Ou não? Como voluntário do projeto de reintegração, Genos se muda para Z-City - o mais desolador e apavorante distrito - e espera encontrar respo...