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Para uma criança, aquela garota sabia muito bem dos seus direitos. Poucas crianças se importam com autorizações ou coisas do gênero... Ou ela é muito esperta, ou está escondendo algo.

Abri a porta do carro para que ela entrasse. Ela entrou meio apreensiva, parecia sentir medo, medo de algo que era difícil decifrar apenas pelas suas expressões.

─ Você pode abrir o vidro, por favor? ─ perguntou, e eu concordei.

Robert dirigia numa velocidade padrão, mas Erica parecia estar com medo. Não era medo do interrogatório que estava por vir, mas daquele momento. Ela estava com medo que fizéssemos algo com ela!

Constantemente, sua mão ia em direção ao trinco do carro, na tentativa de ter para onde correr, se algo acontecesse. Ela realmente estava em alerta.

─ Está tudo bem? ─ perguntei.

─ Sim... ─ tentou mostrar convicção, mas falhou.

─ Não vamos machucar você. Depois do interrogatório, você vai voltar para casa! ─ Tentei tranquilizá-la.

─ É... Eu sei! ─ disse, olhando pela janela.

Alguns minutos depois, chegamos à delegacia. Quando entramos e ela avistou Gabi na portaria, suspirou aliviada por ter outra mulher ali. Era claro, algum homem já fez mal para essa criança.

Entramos na sala de interrogatório e deixei a porta aberta para ela se sentir confortável. Ela me encarava com um olhar sereno, esperando que eu começasse a falar.

Fiz perguntas aleatórias, que certamente ela já havia respondido para Robert, mas eu precisava percorrer um longo caminho para chegar ao ponto.

─ Essa blusa é sua? ─ Puxei a blusa que estava na gaveta da mesa.

Seus olhos passearam rapidamente pelo tecido, analisando cada detalhe, e um sorriso meigo se formou em seus lábios.

─ É sim, eu havia perdido... Minha favorita, inclusive! ─ respondeu.

─ Encontramos no lago... ─ falei, e ela me olhou surpresa.

─ Sério? A última vez que a vi, eu estava entregando para o professor Marcel... Ah claro, por isso que você achou. O professor Marcelo se ofereceu para carregar meu casaco! ─ disse rapidamente.

Parecia que ela analisava toda a situação e calculava cada palavra. Eu realmente estava conversando com uma criança de nove anos?

─ Você pode me devolver meu casaco? ─ questionou.

─ Sinto muito, mas isso agora é uma prova! ─ respondi.

─ Tudo bem, então posso ir para casa? ─ perguntou, levantando-se.

─ Eu te levo...

─ Eu sei o caminho, obrigada! ─ Ela parecia apavorada e, ao mesmo tempo, determinada.

─ Infelizmente, não posso deixar uma menor de idade sair desacompanhada da delegacia! ─ falei.

─ Se é assim... Então vamos! ─ disse, saindo da sala.

A segui. Ela claramente estava desconfortável com toda a situação, mas por qual motivo? Traumas ou informações que não podem ser reveladas?

Dirigi em velocidade regular até o condomínio, tentando manter o olhar no volante. Queria abordá-la sobre um possível abuso... Mas como eu faria isso?

Estávamos chegando, e então decidi perguntar:

─ Erica, posso fazer uma pergunta? ─ Ela concordou com a cabeça. ─ Alguém já fez mal para você? Já tentaram encostar em você sem sua autorização? ─ perguntei.

Ela me encarou em silêncio por alguns segundos. Estacionei o carro no condomínio, e então ela abriu a porta.

─ Que feio, detetive Castilho. Esse não é o tipo de pergunta que se faz para uma garotinha de nove anos... Não dessa forma! ─ falou calmamente e desceu do carro. ─ Obrigada pela carona, espero ter ajudado!

Essas crianças são estranhas. Talvez eu não tenha me acostumado com crianças de cidade pequena.

De qualquer forma, parece que ela realmente não sabe nada sobre o casaco. Eu apenas preciso ir mais fundo nesse assunto. Tudo tem dois lados.

Meu celular tocou, e eu atendi.

─ Alô?

─ Detetive Castilho, aquele Lucas que as crianças foram visitar no hospital morreu...

─ O que? ─ acelerei o carro. ─ Já sabem o motivo da morte?

─ Ainda não... ─ respondeu.

─ Ok, estou indo!

⎘ » continue? ˎˊ˗ ࿐

REVISADO DIA 15/06/2024

𝙸𝚗𝚘𝚌𝚎𝚗𝚝𝚎𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎 𝚞𝚖 𝚊𝚜𝚜𝚊𝚜𝚜𝚒𝚗𝚘Where stories live. Discover now