Capítulo 23

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Olivia:

Olivia se sentia uma tola por ainda pensar frequentemente em David. Na verdade ela não conseguia se lembrar de um tempo em que não havia pensado nele. As lembranças de sua infância eram antigas demais para lembrar-se com clareza, mas ela se lembrava das aulas que compartilhou com David e Charlotte, quando era apenas uma menina. Naquela época, David costumava puxar suas tranças e as da irmã, para provocá-las; os três corriam ao redor do lago, e até chegaram a se aventurar a nadar algumas vezes, quando o clima os permitia. A pedido de David, o Conde havia mandado construir uma casa na árvore, onde frequentemente se escondiam da Sra. Gibbs, e onde Olivia se lembrava de ter secado as lágrimas de David quando ele soube que seria enviado para estudar em Eton.

Durante a primeira temporada de Charlotte na sociedade, em Londres, pela primeira vez as duas jovens foram apresentadas a uma centena de cavalheiros, e embora alguns rapazes tivessem demonstrado certo interesse pela beleza de Olivia, ela não conseguia deixar de pensar no garoto com quem havia compartilhado as aulas e brincadeiras na infância. Ainda que ela não era mais uma menina, e ele aos vinte e poucos anos, não era mais um garoto. Tantos anos haviam se passado, sem que David retornasse para o Kent, que Olivia não conseguia se lembrar de seus traços com clareza. Se flagrou olhando para o retrato de David, pintado em tela, várias vezes enquanto visitava a galeria da mansão. Mas a pintura fazia pouco jus a beleza do garoto de cabelos loiros escuros e olhos verdes, que Olivia se lembrava.

Quando encontrou David pela primeira vez, após ele retornar a Penwood House, Olivia soube que tudo era diferente. David não olhou para ela como o garoto que costumava ser, ele olhou para ela como se fosse capaz de enxergar sua alma através de uma troca de olhares, como se fosse capaz de deseja-la. E após tantas provocações, quando ele a puxou para dentro daquele lago, ela sentiu tanta raiva dele, que seria capaz de beija-lo. Olivia não sabia como os seus sentimentos podiam se confundir tão facilmente. Quando aceitou ir à galeria e dançou uma peça a sós com David, escondidos de tudo e de todos, Olivia soube que estava perdida. Estar nos braços de David era sua perdição.

Ao mesmo tempo em que ela queria afastar David, por ser tão arrogante, ela viu seus pés caminhando em direção ao estábulo para encontrá-lo. Quando eles cavalgaram juntos, e ficaram não próximos quanto ela nunca havia estado de ninguém, ela foi capaz de entender porque algumas moças arruinavam sua reputação. Naquele momento, ela não se importava com sua reputação, ou com a sociedade, ou com qualquer coisa que não fosse David às suas costas. E com isso ela se permitiu tudo. Embora tivesse tentado fugir de David, e o evitar, no final das contas, ela havia se permitido se apaixonar por ele. Havia oferecido seu corpo e sua alma para David. Havia se permitido se conectar tanto a ele, que após ele deixar o Kent novamente, era como se uma parte dela estivesse faltando.

Ela havia sido uma tola ao se permitir sonhar com esse amor. Filhos de Condes não se casavam com filhas de governantas nem mesmo em contos de fadas. Mas ela não conseguia frear seus pensamentos, que frequentemente vagavam até David, mesmo após tanto tempo. E agora ele não era somente o filho do Conde. Com a morte precoce de Jonh, David havia se tornado O Conde de Penwood, e estava ainda mais distante dela.

Quando soube que David estava retornando para Penwood House, Olivia não foi capaz de se manter ali. Três anos tinham feito muito pouco para ajuda-la a esquece-lo. Ela ainda pensava nele todos os dias, ainda adormecia com lágrimas rolando dos seus olhos ao lembrar dele, ainda se pegava entrando no quarto dele com a desculpa de arruma-lo, mas só queria sentir seu cheiro familiar. Os dias que ela havia passado com David haviam sido os melhores da sua vida, e seria impossível suportar que quando ele voltasse, tudo estaria diferente mais uma vez.

Charlotte se esforçava para não mencionar o nome de seu irmão, pois sabia que isso magoaria Olivia, e Olivia agradecia por ter uma amiga tão boa, quanto Charlotte. A amiga havia até a apresentado a um jovem burguês, que começou a corteja-la. Mas quando a frequência das visitas do jovem aumentara, e ele parecia propenso em a pedir em casamento, Olivia o desencorajou, pois não seria capaz de aceitar. Ela não poderia pensar em dividir sua intimidade, sua vida, com alguém que não fosse David.

Os herdeiros do CondeWhere stories live. Discover now