16 de agosto, Miami, Florida.

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Harry,

Você se lembra da primeira vez que disse que me amava? Era uma quarta-feira e chovia. Quase nunca chove em março na Flórida, mas, enquanto você me esperava do lado de fora com a bicicleta, seu cabelo ficava cheio daquelas gotas pequenas que parecem um véu. Eu lembro de te achar a coisa mais linda do mundo. A minha coisa mais linda do mundo. Mas chovia em março, Harry, e esse deveria ter sido o primeiro Sinal.

Desde o dia em que a gente se conheceu na aula de álgebra e você insistiu que precisava da minha caneta mesmo tendo várias no seu estojo, eu só pensava em você. Pensava em jeitos de te ver, jeitos de fazer você querer me ver, jeitos de te tocar e te amar. Mas eu deveria ter previsto que não existe espaço para mais uma história de romance em Miami. Não existe espaço para caminhadas com o pé na água e sorvete derretendo nas mãos no verão, nem para invernos que não são frios de verdade. Não existe espaço para nós e esse é o porquê.

Decidi escrever hoje porque apesar de você (provavelmente) não se lembrar, 16 de junho foi a última vez que nos vimos. Exatamente dois meses atrás. Eu mudei muito, mas, por algum motivo, acho difícil compreender que você também. Na minha cabeça, você ainda escuta as mesmas músicas e continua pedindo sorvete de menta com chocolate quando vai ao Freddo.

Estava pensando sobre isso outro dia: eu e você no Freddo no início de tudo. A gente achava que tinha tempo, Harry. Achava que podia simplesmente congelar o cérebro de tanto tomar sorvete olhando a praia e ia tudo dar certo. Você sempre me levava lá, acho que eu provei todos os sabores. Não tive coragem de ir sozinho ainda, de imaginar você levando outro cara pra lá e nem de pedir seu sabor favorito só pra sentir o gosto dos beijos gelados que você me dava.

Lolla me disse que você perguntou se eu sinto sua falta. A resposta é que sim, Harry. Sinto falta de tudo, mas tenho certeza que estou melhor agora e acho que essa é parte da beleza da vida: saber ler os Sinais que o Universo coloca quando é hora de parar. Foi difícil aceitar quando você parou de tocar o sininho da bicicleta aqui na porta, mas, eventualmente, eu me acostumei com o silêncio.

Não fez silêncio no dia que você me disse "Eu te amo". Em nenhum sentido, Harry. Eu escutei meu coração batendo dentro da cabeça quando você pegou minha mão e falou essas três palavras, como aquela vez que a gente dançou muito no meu quarto e depois deitou no chão. Deu pra sentir o calor subindo e tomando conta de tudo, o sangue correndo por cada pedaço de mim. Foi exatamente essa a sensação.

Tinha sido aniversário da Lolla na semana anterior e há 2 meses a gente estava oficialmente namorando, 4 meses que a gente se conhecia. Ela sempre quis fazer 21 naquela boate e deu um jeito de deixar a gente entrar também, mesmo só tendo 17 anos.

Eu passei pela porta e você disse que eu estava inacreditável. Com essas exatas palavras, você lembra? "Você está inacreditável, Tomlinson." Então me deu um beijo e eu soube ali que esse seria um dos momentos que eu sentiria saudade, porque mesmo não fazendo ideia que a gente ia acabar, eu já pensava em aplicar para UCLA.

A Lolla tinha pedido pro segurança deixar a gente entrar de antemão e eu só tive que falar que era irmão dela para ele abrir aquela corda vermelha que ela colocou na porta e deixar a gente passar. Você colocou as duas mãos na minha cintura e enquanto a gente andava e a música ficava mais alta, você beijou a minha orelha e falou que era assim que gente importante chegava nos lugares. Até hoje não sei o que você quis dizer com isso. Eu era uma pessoa importante? Ou a gente fingia ser importante só pra ter alguma coisa pra fazer?

Meus pais não estavam na festa e a gente bebeu um monte. Foi a primeira vez que a gente ficou bêbado juntos.

Estava tocando "The party song" do blink-182 porque minha irmã acha esse tipo de coisa hilária, uma música sobre festas tocando em uma festa, e eu disse "Acho essa música muito estranha, parece acelerada demais", mas você mudou o significado pra mim. Agora acho que nada é tão rápido quanto nós. Eu e você, Harry, a gente colocava essa música no chinelo.

we ended. and this is why. Onde histórias criam vida. Descubra agora