Capítulo 4

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Ficamos em silêncio por todo o percurso, mas nada constrangedor. Na verdade, minha cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. Em um momento, pensava em meu pai no hospital, em como eu poderia ter insistido em uma relação mais próxima com ele, depois minha imaginação voou mais longe, através dos rascunhos do meu novo livro.

Na história, minha protagonista é Maria Romina, dona de uma das maiores marcas de maquiagem da Argentina. Entre uma reunião e outra em que discutia a expansão de sua marca para novos mercados, ela conhece Fernando, um dos homens mais charmosos que já viu em sua vida. Ele, entretanto, tinha um grande defeito: era frio e antipático com as pessoas ao seu redor, especialmente com a própria Romina. Isso a deixava furiosa e, ao mesmo tempo, motivada a tornar a vida de Fernando um verdadeiro inferno. Mas como parei no sexto capítulo, Romina ia ter que esperar um pouco para executar o seu plano.

Cansada e com uma forte dor de cabeça, me ajustei no banco do carro enquanto observava pela janela um grande prédio se aproximando. Era totalmente revestido em vidro e de, pelo menos, vinte andares. Tão lindo e imponente. Parecia até uma escultura.

É verdade que estava acostumada com ambientes luxuosos. A Sikera Empreendimentos atua principalmente na construção de imóveis comerciais e corporativos, e sempre foi muito lucrativa, mas esses lugares eram diferentes. Tão exclusivos que até eu me impressionei.

— Chegamos! — entrando no estacionamento do prédio que eu vinha admirando, Aleff anunciou.

Não era tão distante do hospital. Chegamos em cerca de cinco minutos de viagem. Desci do carro atenta a tudo ao meu redor, mas parei assim que o vi tirar minhas coisas de dentro do veículo.

— Ei! Pra onde você tá levando minha mala?

— Como assim 'onde'? Para o meu apartamento, é claro.

— Mas eu achei que a gente só ia comer alguma coisa.

— E onde você vai ficar hospedada? No hospital? Você tem que descansar, dá pra notar que está exausta. Não precisa ter medo de mim.

Nem mesmo esperou que eu respondesse. Entrou no elevador e ficou me olhando com impaciência.

— Eu não tenho medo de você — também entrando, resmunguei.

Eu não tinha pensado em ficar em nenhum hotel. Na realidade, fui tão cega pelo estado de saúde de papai que não pensei em mais nada. Por mais que não achasse uma boa ideia ficar no mesmo apartamento que aquele homem, eu não estava em posição de recusar um banho e um bom prato de comida. E além do mais, meu pai não iria fazer negócios com uma pessoa que não confiasse.

O que mais me preocupava era a forma como eu me comportava com ele. Não sou de ferro e nem cega. É lógico que me sentia tentada por sua beleza desproporcional. Mas desejar um cara que me tratou como uma menina boba e inocente seria uma prova de que eu não tinha nem amor próprio.

Fomos para o vigésimo andar. Ele ficou atrás de mim durante todo o percurso do elevador, o que me deixou um tanto inquieta, visto que eu conseguia notar pelo espelho embaçado do elevador ele me analisar de cima a baixo.

Foram os segundos mais longos da minha vida.

Assim que o elevador parou, saí apressada. Ele abriu a primeira porta que nos deparamos e entrou com minhas coisas.

Me surpreendi com a beleza do apartamento. O ambiente parecia ter sido planejado nos mínimos detalhes por alguém que o conhecia muito bem. As cores neutras, um grande sofá de frente para uma televisão instalada na parede. Alguns jarros de decoração em uma mesinha no canto da sala, um tapete que cobria quase todo o chão, exceto o da grande cozinha americana em uma das extremidades da área, e o que mais me chamou atenção: duas janelas que iam do chão ao teto com uma vista maravilhosa da cidade.

A Minha Vez, Catharine - livro 1 completoWhere stories live. Discover now