04. p e r d ã o

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Minha mente é um caleidoscópio,
ela pensa muito rápido
Desfoca todas as cores
até que eu não possa ver através
Do último erro, da escolha que fiz.
Encarando o espelho comigo a culpar,
às vezes tenho medo
dos pensamentos interiores.
Sem lugar para se esconder
dentro de minha mente.
...
Quando a esperança da manhã começa a desaparecer em mim
Eu não me atrevo a deixar a escuridão me dominar
E a esperança da manhã faz a luta valer a pena
Eu não vou ceder essa noite.
Hope of Morning Icon for Fire

Gabriela pegou suas muletas, limpou as lágrimas e caminhou até que seus pulmões, braços e a única perna pedissem ajuda

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Gabriela pegou suas muletas, limpou as lágrimas e caminhou até que seus pulmões, braços e a única perna pedissem ajuda. Não queria sentir aqueles olhares de pena, não queria sentir mais nada. Quando Brenda saiu, deixando ela sozinha com um aglomerado de pessoas ao redor assistindo, se sentiu exposta demais a todos aqueles bisbilhoteiros e a culpa caía novamente em si, porque ela estava viva e eles não.

— O que você está fazendo aqui?! — Gritou Dalilah ao encontrá-la encostada em um muro da praça. — Se esqueceu de que eu te buscaria?

— Como se eu fosse mesmo te esperar. Não tenho toda essa paciência.

— Argh! Então aprenda a ter! — Disse furiosa. — Às vezes, parece que sou a mais velha, inacreditável... — Ela cruza os braços abaixo dos pequenos seios. — Sempre te tirando de furadas, salvando você e seus amigos. Onde é que se viu deixar o Daniel dirigindo?! Ele mal consegue tirar o carro do estacionamento.

— Não diga isso, eles não estão aqui pra se defender! — Sibilou a ponto de explodir de raiva, Maria caminhou até o veículo de sua irmã sem sua ajuda, o orgulho tinha sido ferido.

Ambas foram em silêncio com uma nuvem de descontentamento no ar. Dalilah comentou que Thalia teve que ir acompanhar as outras mães, que assinariam o atestado de óbito, e ficaria por lá para acalma-las enquanto ela tomaria de conta da irmã mais velha. Maria soltou um longo suspiro seguido de uma risada fraca.

— Lili, o que você acha sobre perdão? — Seus pensamentos foram direto a um moreno de olhos esverdeados.

— Hum... Acho que todos merecem. — Respondeu a encarando de canto.

— Mesmo aquele que foi condenado por assassinato? — Sorriu, sem deixar de dar atenção na pista.

Silêncio, elas retornaram em casa assim, Dalilah não respondeu e Maria tampouco traria outra pauta. Seu pai abraçou-lhe com força na recepção, pensou por um momento que perderia um pulmão pelo sufoco. Depois, para sua surpresa, a mãe também fez o mesmo, pedindo desculpas que só as duas sabiam o porquê.

— Lili deve ter te contado, vou agora vê-las e dar apoio.

— Posso ir com você?

— Gabriela! — exclamou sua irmã pasma.

— Mais um minuto parada e vocês podem ter a certeza de que me jogo pela janela.

— Mamãe! — Com os olhos castanhos esbugalhados, Dalilah convocou a autoridade.

— Tudo bem. — Sussurrou contendo um sorriso, tinha sentido falta daquelas piadas horríveis. — Mas você vai ficar no carro.

— Bem, não se pode ganhar todas. — Balbuciou acatando sua ordem, logo as duas estavam saindo de casa em direção aos enterros.

Ali, sentada dentro do automóvel, Gabriela encontrou as mães de Alana, Daniel chorando em frente aos caixões, uma havia desmaiado. Os olhos de sua mãe também choravam junto das mães de Brenda e Edmundo.

Encarar o moreno ainda lhe subia uma repulsa, fazia ela se lembrar de tudo entre flashs e sangue. Quando foi transportada para uma maca enquanto sentia todo o seu corpo dormente pelo acidente, seus olhos estavam meio turvos, mas conseguia enxergar os rostos de todos os seus amigos.

"Se essa pessoa estiver realmente arrependida, sim."

Ela pegou seu celular e discou um número, decidida a recomeçar, mas nem chegou ao primeiro bipe e já ouviu uma voz do outro lado da linha. É rouca, como se tivesse chorado por horas.

— Black! — Seu tom bem-humorado ofuscava a dor que sua voz transbordava.

— Está ocupado hoje à noite?

— Da última vez que você me viu estava usando um gesso no braço, vou estar por um longo tempo sem me comprometer.

— Como você está?

— Bem, na medida do possível. — Falou meio receoso, sua voz grave ficou mais suave, quase chorosa. — É como se um peso estivesse nas minhas costas e eu... Eu não consigo aguentar.

— Mesmo tendo quebrado o braço continua sendo um exagerado. — Diz o fazendo rir, era o jeitinho dela de mudar de assunto ou descontrair um clima ruim.

— Não sou nada. — Rebate feito uma criança birrenta, boa parte dela se felicita por isso. — Mas não acho uma boa ideia, você perdeu uma perna.

— Por favor...! Preciso tentar me acostumar com tudo isso. — Pediu se controlando para não chorar no telefone, ela seria forte, por eles.

— Certo. — Suspirou derrotado. — Aonde quer ir?

— Se lembra daquele parque de diversões perto da sua casa? — Sugere, notando que sua mãe já estava se aproximando.

— Sim, é o lugar preferido da Alana... Você tem certeza disso, porque isso é estranho não acha?

— Por favor! — Suplicou, repetindo várias vezes até que ouviu o rapaz aceitar. Ela marcou o horário e aonde iriam se encontrar, dado as informações ele desligou.

— Quem era? — Questiona sua mãe ao entrar no carro, pôs seu cinto e ligou o motor.

— Um amigo, marcamos de nos encontrar num parque de diversões. — Explica, amarrando o cabelo em um coque frouxo. A mulher no volante rapidamente desligou o carro e virou-se na direção de sua filha, seu rosto carregado de indignação e incredulidade.

— Está tentando se matar por acaso?! Acha que isso é brincadeira, Gabriela? Você mal saiu do hospital, mal consegue andar sem essas muletas, não tem condições de ir sozinha! — Esbravejou a fazendo bufar.

— A senhora sabe que não pode me impedir, não é?

Ela sabia. Desde que sua filha era bem novinha sabia que ninguém consegue pará-la, mesmo que as circunstâncias dissessem ao contrário. Mas, seus olhos continuaram raivosos e a voz um verdadeiro trovão.

— Maria, seus amigos morreram. Morreram! Acha isso engraçado?!

— Você está falando como a Brenda... — Sussurrou cruzando os braços.

— Claro que estou, já que ela não está aqui pra jogar a realidade na sua cara! — Bufou furiosa, voltando a ligar o carro e tira-lo do estacionamento.

As duas foram em um silêncio sepulcral, ninguém ousava dizer mais nada. Então, a fachada de casa apareceu e antes que o carro estancasse a Maria já tinha saído com sua muleta em mãos e o único pé correndo até seu quarto. Com o celular na mão, deitou-se na cama e digitou uma mensagem ao Edmundo.

Não se esqueça de hoje (visto, 10:35)

Não se esqueça de hoje (visto, 10:35)

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Maria Gabriela ᶜᵒⁿᶜˡᵘⁱ́ᵈᵒWhere stories live. Discover now