Green card

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Desde que cheguei aos Estados Unidos, tenho fugido, me escondido, foram dias tão difíceis, não mais difícil que perder minha mãe, ela era minha luz, meu raio de sol. Infelizmente ela partiu cedo demais. E me vi sozinho, meu pai não gostava de mim, apenas me suportava por causa de minha mãe, então assim que ela faleceu, iniciaram os maus-tratos, por obra do destino ele precisou fazer um exame e acabou descobrindo que era estéril, logo eu não poderia ser seu filho e passou a me odiar mais ainda, minha única alternativa foi fugir.

Aos 15 anos, após alguns meses da morte da minha mãe, peguei a passagem que ela havia comprado escondida e fui para os Estados Unidos, apenas com uma mochila, poucas roupas e algum dinheiro, vendi algumas joias que ela guardara. Passava seis meses no máximo em cada bairro tentando conseguir um emprego, mas quando descobriam que eu era imigrante me ofereciam os piores empregos, sem contar a pouca idade, morei em New Rochelle, Queen, Brooklyn, por último em Manhattan. Fui garçom, motoboy, Dog Walker, o mais difícil que me ofereceram foi numa boate, na verdade, era para ser garoto de programa, eu tinha acabado de completar 18 anos, não aceitei. Então me falaram que em Manhattan havia uma senhora que abrigava jovens imigrantes e conseguia empregos informais para que pudessem se manter.

E assim conheci Dorotéia, dona de uma loja de especiarias, ela me acolheu, me ensinou tudo que eu precisaria saber sobre os produtos e as origens de cada país, eu estava feliz, finalmente um emprego que me conectava às minhas raízes. Contudo, quase um ano depois, alguém denunciou a pensão em que eu morava, foi quando conheci o oficial da imigração, Ragnor Fell, passei a ficar num quartinho escondido na loja para despistá-lo, porém, num dia improvável ele apareceu na pensão com o mandado de prisão para os centros de imigrantes, eu fugi, saí correndo sem destino.

Não queria ir para aquele lugar, ouvia histórias de pessoas que nunca voltaram ao seu país e estavam a anos presas lá. Me desesperei, corri pelas ruas sendo seguido por Ragnor, toda vez que ele aparecia eu fugia, dessa vez ele estava muito perto de me alcançar. Entrei na Quinta Avenida, era a mais movimentada na esperança de despistar o oficial, deu certo por alguns minutos, continuei correndo e olhando para trás para saber se ele estava perto, quando de repente bati em alguém. Derrubei minha bolsa, olhei rapidamente e Ragnor estava a dois quarteirões. Coloquei minha atenção na pessoa que esbarrei, era um homem bem-vestido, cabelos negros, pele alva, num surto de coragem o chamei de amor, como se estivesse esperando encontra-lo e foi nesse momento que meu mundo parou.

O homem levantou o rosto e seus olhos eram tão azuis, nem esperei ele falar nada, coloquei minhas mãos em seu rosto e o puxei para um beijo, lembro estar tão desesperado, sentia o medo correndo em minhas veias, então tudo se acalmou, ficou silêncio, o homem me envolveu com seus braços e retribuiu ao beijo e por um momento tudo em mim se acalmou. Quando parti o beijo em busca de ar, ele fez as perguntas mais impensáveis de se fazer a um estranho: "está com problemas?" "Alguém fez mal a você?" parecia um anjo e senti vontade de chorar.

Ragnor me alcançou e agi rápido, disse que o homem era meu noivo, o mais surpreendente foi ele confirmar tudo, me abraçar, dizer que eu morava com ele e ainda passar seu endereço para o oficial. Esperei Ragnor ir embora e agradeci a Alexander, um verdadeiro anjo. Ajudei a pegar suas pastas e folhas do chão, e ele fez algo que realmente não esperava, perguntou se eu tinha para onde ir, eu não tinha, não podia voltar para pensão, ele simplesmente me levou para seu apartamento.

Enquanto caminhávamos eu pensava em tudo que tinha me acontecido, minha situação era muito complicada, eu teria que voltar para a Indonésia ou me casar com um americano e conseguir o Green Card permanente. Decidi me preocupar depois, eu precisava de alguns minutos para descansar a mente, quando Alexander me chamou para ir a seu apartamento, senti que ele não tinha maldade, apenas queria me ajudar.

A proposta (Malec) Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt