Capítulo 1: Inesperado

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— Noite fria do caralho! — exclamei, enquanto acendia um cigarro para espantar o frio.

Odeio São Paulo! Odeio o inverno de São Paulo! Se eu pudesse voltar no tempo, na época em que fugi de casa, com certeza não escolheria morar nesse lugar de merda. Mas, o que eu faço a respeito? Nada. Sou um filho da puta acomodado demais para dar uma guinada na minha vida.

Os meus devaneios são atrapalhados quando o primeiro cliente chega. É um velho, de mais ou menos, 60 anos e, provavelmente, deve ser casado e com uma penca de filhos. Esses são os que mais me procuram. No fundo fico feliz, porque não sou o único prejudicado nessa vida.

Cabelos brancos, olhos pretos, barba rala e um cheiro embriagante de perfume. Gosto de analisar os meus clientes, virou uma mania minha. Procuro os pontos fortes da pessoa, afinal, trabalho com bajulação. Sou responsável por atender fantasias latentes de pessoas frustradas.

O nome do cliente é Antônio. Começamos um verdadeiro leilão dos meus dotes. Ele quer pagar R$ 150, mas uma hora do meu tempo é R$ 250. Então, o Antônio oferece R$ 200 e um relógio. Eu quase aceito, só que preciso manter a porra da aparência.

Reviro os olhos, soltando a respiração forte com direito a fumaça, pois, estamos no meio da Rua Augusta com os termômetros marcando 9º graus. Vai se foder, São Paulo!

Desisto de barganhar e uso a última tática que é, simplesmente, me afastar.

— Ei, garoto. Espera! — grita Antônio, em um tom mais urgente do que o normal. Volto e me encosto na janela. — R$ 200 e o relógio. É a minha última oferta.

— Ok. — finalmente cedo e entro no carro, um Fiat UNO preto e bastante conservado.

Imagino que seu Antônio deve ser um daqueles que ama carros antigos. Eu não entendo muito de automóveis, porém, tenho quase certeza que aquela restauração custou uma nota.

De forma tímida, ele pega na minha coxa e aperta. Não trocamos uma palavra até o motel mais próximo. Antônio entra, abre o vidro do UNO até a metade e pede uma suíte. A atendente demora mais que o habitual, porém, entrega a chave do quarto 10.

Nem sei quantas vezes já passei por isso. É como a caceta de um déjà-vu infinito. Só que algo muito estranho acontece comigo quando entramos no motel. É como se um interruptor fosse ativado e o Stefano Garoto de Programa assumisse o meu corpo.

O sexo nunca foi algo importante para mim, quer dizer, eu iniciei minha vida sexual cedo, muito cedo. Obrigado, papai querido. Aquele verme alcoólatra e homofóbico. Espero que apodreça no inferno. Desculpa, infelizmente, não vou ter uma história fofa ou romântica sobre a primeira vez que transei. Só lembro de dor, agonia e vontade de morrer.

Observo o quarto do motel. É o mesmo padrão de sempre. Uma cama coberta com um tecido fino, mas o colchão é envolto a uma espécie de plástico, acho que facilita a limpeza. O frigobar que quase ninguém usa, porque a porra de um refrigerante custa R$ 10. Espelhos, não posso esquecer dos espelhos. Tenho a sensação que pessoas nos observam atrás daqueles espelhos e eu fico com mais tesão.

Finalmente, consigo me livrar da porcaria do casaco. O clima dentro do quarto é maravilhoso. Tiro a camisa de manga, o tênis e a meia. Então, fico perambulando pelo quarto apenas de calça jeans skinny com cortes nos joelhos.

O Antônio me observa. Acho que ele deve ter várias taras escondidas. Confesso que pessoas safadas me deixam excitadas. De acordo com a minha colega de quarto, eu sou pan sexual, ou seja, o gênero e sexo da pessoa não são fatores determinantes para que uma atração apareça.

Claro que tenho meus limites, por isso, sempre ando com umas pílulas mágicas no meu bolso. O Seu Antônio está pelado na minha frente. É, acho que é um dos dias que vou precisar tomar uma pílula mágica. Ele se aproxima e toma em meu peitoral. Não sou o cara mais malhado do universo, mas graças a Izzy, a minha colega de quarto, comecei a frequentar uma academia e o resultado está aparecendo.

Apenas uma regraWhere stories live. Discover now