Deslumbrante

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           Assistir Lilith jogar sempre foi uma experiência extraordinária

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           Assistir Lilith jogar sempre foi uma experiência extraordinária. Seus olhos brilham quando está correndo, transbordando foco e competitividade. O jeito que ela levanta rápido quando cai e logo retorna ao jogo é incrível. Ela está sempre de cabeça erguida e não deixa nada ficar entre si e seu caminho para a vitória. A pele branca que brilha por conta do suor seria repugnante em qualquer outra pessoa, menos nela. Seu cabelo rebelde que teima em fugir para além da xuxa que o prende no típico rabo de cavalo é sempre graciosamente divertido. O jeito como sua aparência demonstra tudo aquilo que eu sei que ela é a torna a menina mais deslumbrante que conheço. E eu esperava que, um dia, fosse como ela.

           Um dia, talvez, mas não naquele. Naquele eu só tinha que sobreviver à maldita aula em campo — colegas de classe, mato e mosquitos. Quem inventou isso há de ser uma pessoa horrível! - e à Educação Física.

           — Eva, cuidado! — Uma voz preocupada tentou me avisar algo, mas, quando percebi, já estava deitada no chão resistindo a uma enorme dor de cabeça. Não uma dor de cabeça convencional, mas dor na região da cabeça, porque algum infeliz chutara a bola no meio da minha testa.

           E, de repente, a turma inteira formava um círculo ao meu redor, me encarando feito cachorros curiosos. Tentei me levantar, mas escorreguei e caí de novo. Nunca tinha odiado tanto a minha própria mente por me prender longe do mundo real.

           Foi possível ouvir algumas pessoas rindo, até que alguém familiar estendeu a mão para mim. Era Lilith, com sua aparência ofegante e bochechas rosadas.

           — Vamos, Eva. A aula já está quase no fim — ela disse e eu tomei sua mão, me levantando. —Presta mais atenção no jogo, tá bom?

           Assenti com a cabeça e todos voltaram a jogar novamente, mas as risadinhas nunca cessaram. Eles podem estar rindo até hoje. Quanto a mim, tentei fingir que a interação com Lilith não havia me deixado nervosa e que eu não via arte no contraste que havia em nossa aproximação física, mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa.

           Ninguém percebeu, ninguém sabia. Mas eu sabia e me importava.

Eva & LilithWhere stories live. Discover now