• Capítulo 14

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Rugge on·
Eu devia estar trabalhando em vez de ficar de bobeira. Minha mesa estava coberta de documentos, havia pelo menos cem e-mails que precisava responder e eu ali escrevendo de novo para uma conselheira de sessenta anos.

Cara Ida,
A mulher com quem estou saindo expressou recentemente interesse em ser amarrada. Queria saber se pode orientar um novato em sua estreia. Corda é um bom investimento? Ou acha melhor algemas forradas de pele? Talvez fitas de seda que não vão deixar marcas nos pulsos? Tenho a intenção de enfiar a cara naquela bocetinha apertada, o que significa que vai haver muita pressão nas amarras enquanto ela estiver se contorcendo na cama com orgasmos múltiplos- Cinquenta Tons de Pasquarelli, Manhattan.

Rugge on·
Demorou apenas vinte minutos para a resposta aparecer na minha caixa de entrada. Eu esperava um texto longo e cheio do habitual sarcasmo. Devia saber que nunca poderia antecipar nada que tivesse a ver com Karol Itzitery.

Caro Cinquenta,
Posso sugerir uma olhada no criado-mudo de sua parceira? Como ela manifestou interesse talvez tenha ido fazer umas compras na hora do almoço.

Rugge on·
Essa mulher ia acabar comigo. Eu sabia.
Uma hora mais tarde a secretária me chamou pelo interfone.
Secretária: sr. Pasquarelli? Ligação na linha três.
Rugge: eu não pedi para não me interromper?
Secretária: sim, mas disseram que é urgente.
Rugge: quem é e qual é o assunto?
Secretária: humm, não perguntei.
Rugge: escuta...- como era o nome dela? Ellen? Que droga- Grande parte de seu trabalho é filtrar telefonemas, certo?
Secretária: sim.
Rugge: e me interromper mesmo eu tendo pedido para não ser interrompido, sem saber o nome da pessoa que está me ligando é fazer seu trabalho corretamente?
Secretária: eu...- minha paciência estava acabando.
Rugge: pergunte quem é e qual é o assunto urgente.- um minuto depois o interfone tocou- O que é?
Secretária: é a sra. Molfese. Ela me pediu para dizer que o assunto urgente é que o marido dela morreu- atendi o telefone.
Rugge: Candelária.
Cande: Ruggero, preciso de ajuda.
Rugge: eu disse ontem que estou cuidando do assunto.
Cande: preciso de mais que isso- tirei o óculos e joguei em cima da mesa. Passei a mão no rosto e respirei fundo. Há anos não tinha uma conversa civilizada com ela, mas diferentemente do que dizia a crença popular eu não era um completo babaca. Ela havia acabado de perder o marido, morto de infarto aos trinta e um anos.
Encostei na cadeira, expirei o ar envenenado e inspirei compaixão.
Rugge: em que posso ajudar Candelária?
Cande: não quero administrar uma empresa sozinha. Não consigo.
Rugge: é claro que consegue. É só contratar alguém de confiança se for demais para você.
Cande: eu confio em você Ruggero- eu também confiava em você. Senti a dor física ao morder a língua.
Rugge: você não está em condições de falar de negócios agora.
Cande: eu sempre estou em condições de falar de negócios e você também. É a única coisa que temos em comum. Um acordo comercial é mais importante que nossas emoções.
Rugge: acho que está enganada e neste momento só não consegue ver isso claramente, mas como acha que posso ajudar?
Cande: quero uma fusão com a Pasquarelli Financial Holdings.
Rugge: quer que eu compre a Gainesworth Investments? Uma incorporação completa?
Cande: não. A Gainesworth Investments e a Pasquarelli Financial Holdings juntas seriam uma união de forças. Quero administrar a empresa com você.
Rugge: como é que é?
Cande: você ouviu. Quero uma fusão. Vamos voltar a ser uma equipe.
Rugge: Candelária, não quero ser insensível, mas você acabou de perder o marido. Não acha que devia dar um tempo antes de procurar um novo parceiro comercial? Viver o luto, talvez? Não está raciocinando com clareza- ela suspirou.
Cande: Facundo e eu estávamos separados.
Rugge: eu não sabia.
Cande: peguei Facundo transando com minha assistente de vinte e três anos.
Rugge: lamento.
Cande: mentira. Está pensando que tudo que vai volta. Eu pensaria a mesma coisa- surpreendentemente eu não estava pensando nisso.
Rugge: mesmo assim, sofreu uma perda. Sua filha deve precisar de você agora. Deixa eu terminar de impedir que os acionistas comprem muitas ações, assim garanto sua vantagem. Podemos falar de negócios depois que tiver tempo para pensar.
Cande: esse é o jeito Ruggero de dizer que conversamos depois que você decidir o que quer.
Rugge: Candelária, vai ficar com a sua família. Os negócios podem esperar.
Cande: está bem, mas verifique sua agenda. Você tem um compromisso na sexta-feira às dez com a sra. More, deve estar agendado como indicação de Bob Baxter. Marquei esse horário há duas semanas. Estava mesmo planejando falar com você sobre isso.
Rugge: vejo você no velório hoje à noite Candelária- desliguei e olhei minha agenda. Era verdade, havia um horário marcado para uma nova cliente na sexta-feira. Sra. More, indicação de Bob Baxter. Eu tinha que reconhecer que ela era astuta. Normalmente eu ligava para alguém que indicava um novo cliente, colhia informações sobre a indicação, mas Candelária era esperta. Aquele homem não sabia o que era uma ligação de dez minutos. Ele me manteria ao telefone por três horas e me impediria de recusar um convite para jantar antes de desligar.
Incapaz de me concentrar decidi ir à academia. Correr e levantar peso sempre me ajudavam a clarear as ideias. Depois de cinco quilômetros na esteira minha cabeça ainda girava. Flashes da minha vida passavam por ela aleatoriamente.
Os olhos de Karol se abrindo hoje de manhã na minha cama, sorrindo ao me ver olhando para ela.
Candelária e eu abrindo uma garrafa de champanhe no escritório na noite em que nosso portfólio de administração de bens chegou a um bilhão de dólares pela primeira vez.
Karol ajoelhada olhando para mim enquanto deslizava o piercing na cabeça do meu pau.
Entrar no escritório de Candelária depois de voltar mais cedo de uma viagem de negócios pronto para comemorar outro acordo fechado. Encontrá-la ajoelhada com o pau de Facundo na boca.
Eu corria mais e mais depressa, mas quanto mais corria mais rápido as imagens passavam pela minha cabeça.
Agus perfurando minha pele com a agulha e tinta cobrindo o nome de Candelária.
Facundo e eu juntos vendo pendurarem a placa na frente do nosso escritório três semanas depois da formatura.
Minha mãe. Minha mãe. Frágil na cama de hospital tentando fingir que estava bem.
Que porra?
Corri mais ainda.
A tatuagem de pena de Karol.
Candelária sentada no canto da minha mesa.
Facundo correndo na esteira ao meu lado.
Olhei para a esquerda. Facundo estava correndo ao meu lado. A visão era tão real que por um momento pensei realmente que fosse ele.
Quando por fim parei, tinha corrido
tanto que levei cinco minutos para
recuperar o fôlego. Abaixado com as
mãos nos joelhos e ofegante, pingando
de suor, fechei os olhos. Merda. Merda. Merda. Quando tudo começava a parecer simples, por que de repente tinha a sensação de que era complicado?
Naquele momento eu nem imaginava, mas a sensação era uma premonição do que estava por vir.
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Rugge on·
Eu não bebia muito, nunca usei drogas. Meu único vício era sexo, e quando estava estressado precisava mais ainda, como uma droga. Sei que não devia estar pensando em transar com Karol a caminho de um velório, mas não conseguia me controlar. Ela estava linda no vestido preto.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now