Capítulo 74

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Capítulo 74

Brooke

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        Após a língua de Chuck não estar mais enrolada na minha, o mimado me pressiona a falar como consegui o emprego. Lhe conto tudo. Não tem porque deixar um detalhe ou outro de fora. Há alguns dias atrás, eu teria que me contentar em digerir toda essa mudança sozinha, porém agora tenho Chuck pra compartilhar minhas vitórias e derrotas. O mimado se anima mais que eu com a ideia do emprego só no período da manhã, na verdade, muito mais que eu. Uma parte de mim mesma acha estranho sua reação, mesmo que eu tenha dado ênfase na parte que o cara sabia minha grade de horários e minha idade... Já outra, me relembra que estou falando de; Chuck Riston, o mimado, que do dia pra noite decidiu que iria fazer uma estranha qualquer, viver a vida como ela tem que ser vivida. Depois de alguns instantes brigando internamente comigo mesma, decido fazer a mesma coisa que Chuck está fazendo; finjo que está tudo bem, que essas variáveis não passam de meros detalhes. Ele pergunta se mesmo que eu fique com o emprego de babá, aceitarei continuar na fraternidade. Me pergunto em que momento cheguei a aceitar de verdade sua oferta, mas não pronuncio a provocação... Até porque ela não parece uma. O respondo com algo vago, estilo; "Quem sabe?" e me surpreendo, quando o mimado apenas concorda com a cabeça. Parte de mim pergunta se ele está voltando atrás na sua proposta.

— Então... — Chuck passa a mão dentre seus cabelos, em sinal claro de desconforto.

— Então? — repito sua única palavra e acabo sorrindo, ao ver os fios, agora completamente bagunçados no topo da sua cabeça.

— O que... É... Isso que está fazendo? — sua pergunta soa lenta, como se fosse formulada aos poucos, provavelmente o mimado está sem assunto.

Meus olhos caem no esboço do desenho que estou iniciando de dois corpos se enroscando um no outro, em um mover como ondas. Observo o desenho e mentalmente o comparo com o que Chuck e eu temos. O casal que de alguma forma transformaram as tempestades do mar, em maresia calma.

— Um esboço para uma competição de arte — o respondo dando de ombros, como se fosse algo de pouca importância e antes que eu pudesse impedir; Chuck pega o caderno das minhas mãos.

Observo seus olhos castanhos amendoados correrem meus traços e tenho vontade de rir, quando uma expressão confusa surge no seu rosto.

— Legal, bacana, interessante — Chuck pronuncia cada elogio de uma forma distante, como se ainda estivesse tentando entender o desenho.

Nunca me passou pela cabeça um Chuck Riston tentando entender a complexidade de uma obra de arte. Seja ela fajuta como a minha em suas mãos, ou não.

— Você não faz ideia do que está vendo, né? — me viro no banco, ficando de frente para Chuck e o mimado ri com o nariz, ainda com a atenção presa no meu esboço.

— Claro que sei, é o Kraken* — Chuck pronuncia com uma confiança elevada, o que me faz unir as sobrancelhas.

— Kraken? Sério? — olho para o papel tão indignada, quanto intrigada.

Tudo bem, antes de Chuck chegar, estava mesmo anotando mentalmente alguns detalhes para aprimorar no desenho. No entanto, dois corpos se compararem a um bicho do mar, é em certo ponto desestimulante.

— Não é? — seu rosto se vira para mim e então percebo seu sorrisinho de lado, tirando sarro da minha cara. Espremo meus olhos lutando para não sorrir e acerto seu braço com um soco, tentando recuperar meu caderno.

Talvez DesconhecidosWhere stories live. Discover now