Capítulo 1- Um dia

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Acordo com os raios de sol batendo em meu rosto, estico meu braço pegando meu despertador, o encaro por um tempo com a visão ainda embaçada até os números se formarem claramente, 07:45, arregalo os olhos ao ver o horário, eu deveria ter acordado à uma hora atrás para comprar meus matérias, falta apenas um dia para o início das aulas.

Levanto da cama em um pulo e corro até o banheiro onde faço minhas higienes matinais, vou até o meu guarda roupa e visto uma camisa e calça pretas, um tênis branco desgastado e um chapéu azul marinho.

Desço as escadas correndo torcendo para que meu pai ainda estivesse dormindo.

Olho ao redor e apenas os móveis faziam-me companhia, suspiro aliviada indo até a cozinha. Pego uma maça e saio rapidamente da casa, indo rumo ao centro.

Em alguns minutos chego ao centro da cidade, indo em direção a papelaria. Chegando lá, a adentro, parando em frente ao vendedor.

- bom dia - digo sorrindo - como o senhor vai? - pergunto o encarando

- vou incrivelmente bem S/N e você? Como vai? - diz sorrindo meigamente

- vou excepcionalmente bem senhor - digo prosseguindo - o senhor guardou os materiais para mim? - questiono apoiando meus cotovelos no balcão, dando sustento a minha cabeça.

- claro que guardei pequena - diz pegando uma sacola cheia de trás do balcão - seu pai lhe deu o dinheiro? - pergunta delicadamente. Ele sabe sobre meu pai, sabe a situação que se encontra, gastando oque não tem com bebidas, tudo isso começou depois que..... bem... Isso não vem ao caso.

- infelizmente não, senhor - sinto o rubor tomar conta de minha face - mas ele disse que iria trazer o dinheiro hoje mesmo - completo envergonhada.

- não se preocupe querida, não tenho pressa S/N - fala tentando sorrir - não tenha vergonha, não é sua culpa - termina mais sorridente, mas não era um sorriso sincero, era um sorriso de pena. Já me acostumei com isso, por este motivo evito falar sobre minha vida pessoal.

- obrigada senhor - sorrio para o mais velho, enquando pego a sacola a passando por meu braço - tenha um bom dia - digo me despedindo

- não à de quer, um bom dia para você também - fala e saio da loja voltando para casa.

Durante o trajeto, passo por uma loja de brinquedos, paro em frente a mesma, encarando cada peça, em poucos instantes meus olhos pousam em uma boneca com tamanho mediano, tinha cabelos negros e ondulados até o ombro, um vestido rosa com flores brancas e amarelas cobriam seu corpo, um laço rosa choque prendia sua franja, ela era deslumbrante. Olhando mais para o lado vejo uma etiqueta :

"Boneca com botão de fala (mais de 300 frases) e sistema digestório (sim, nossa boneca faz xixi) por apenas 172,34 reais a vista ou a prazo"

Sinto meu coração bater mais forte, uma boneca dessas é meu sonho, vou saltitante para casa, cogitando a hipótese de pedir ela para meu pai.

Adentro a casa parando de solavanco no meio da sala. Lá estava ele, jogado no sofá com as roupas rasgadas e uma garrafa de cerveja na mão.

Suspiro pesadamente e vou em sua direção.

- pai? O senhor foi para o bar não é? - pergunto já sabendo a resposta.

- e isso te interessa? - fala com a voz turva.

- não, mas eu me preocupo com o senhor e só quero lhe ajudar - falo depositando a sacola em um canto, em seguida, voltando a atenção a ele.

- não preciso da ajuda de uma criança, sei me virar sozinho - diz dando um gole na bebida.

- já que entramos neste assunto - suspiro, tomando coragem - hoje cedo eu vi uma boneca na loja da esquina, será que o senhor poderia comprar para mim? São só cento e setenta reais - falo um pouco baixo, por conta da vergonha.

- só cento e setenta reais? - pergunta em tom incrédulo - eu já te disse e não pretendo repetir - fala dando outro gole na bebida - você sabe que não temos dinheiro para tolices, por mim você trabalharia e ganharia dinheiro sozinha, mas graças a essa lei estúpida de que criança não pode trabalhar, eu tenho que te sustentar, não vejo a hora de você crescer e ter idade para trabalhar, eu não aguento encarar essa sua cara imunda, tudo o que aconteceu foi culpa sua! Eu só quero me livrar de você - fala pausadamente. Cada palavra doiam como adagas espetadas em meu coração. Meus olhos marejavam.

- mas papai, eu não tenho nenhuma boneca, nem nenhum outro brinquedo a não ser o  Esperança - Esperança é meu urso de pelúcia, tenho ele desde que nasci, durmo abraçada a ele todas as noites - e senhor vai gastar esse dinheiro com oque? Bebida? Cerveja? Cachaça? Para ficar jogado nas ruas como um indigente? Sem família? Você- ia falando, quando sou interrompida pela mão do homem celando meu rosto.

- não ouse falar assim comigo outra vez - fala apontando o dedo para meu rosto - por mais que eu tenha vergonha, ainda sou seu pai e você tem o dever de me respeitar - fala se jogando mais no sofá.

Sem conseguir conter, as lágrimas escorriam em grande quantidade por meu rosto ardente.

Porquê meu Deus? Oque eu fiz para merecer isso? Todos os dias a mesma coisa, eu não mereço passar por isso, eu sou uma criança tão boa. Nunca fiz mal a ninguém, trato todos tão bem. Nunca faltei com respeito a nenhuma pessoa. Eu trato ele tão bem, porque ele me trata assim? Eu o amo tanto, é meu pai, porque meu amor não é recíproco? Tudo que eu mais quero é ter o amor dele, mas por mais que eu tente ele nunca me trata com carinho, só as vezes quando está sóbrio, oque é raridade. Eu tenho apenas oito anos. Eu só queria o carinho do meu pai.

Fico em silêncio, após alguns segundos ergo a cabeça e vejo o homem adormecido com o líquido da garrafa escorrendo no sofá. Dou um suspiro pesado e vou até a cozinha, pegando um pano úmido e passando pelo móvel o deixando um pouco mais apresentável.

Subo as escadas rapidamente voltando com um cobertor na mão, em seguida, o estendo no corpo do mais velho, o deixando no sofá. Pego a sacola e subo novamente até meu quarto, me trancando lá, não posso arriscar que ele invada e me bata. As deixo em um balcão, tomo um banho e vou direto para a cama. Ainda é de manhã mas, não sinto vontade alguma de sair dali, e sei que meu pai não irá reclamar, até porque, para isso, ele precisa estar acordado.

Em poucos minutos caio no sono e ali permaneço até as duas da tarde, quando começo a ler um livro. Por mais que eu seja nova, eu sei ler perfeitamente bem, muito melhor que muitos adultos (sem querer parecer esnobe).


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E ai galerinha como vão? Esse foi o capítulo de hoje! Oque estão achando? Resolvi escolher um passado mais pesado para dar um drama a mais para a história. Lembrando: caso isso aconteça com você ou com alguém que você conhece, denuncie! Isso não é normal e deve ser retratado as autoridades.

Se cuidem e até o próximo capítulo :).

mᥱᥙ ⍴rіmᥱіr᥆ ᥲ𝔪᥆r- 𝔐𝔞𝔯𝔦𝔬 𝔄𝔶𝔞𝔩𝔞Where stories live. Discover now