prólogo

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Florença soava como casa.

Antônio Donato logo percebeu isso dentro do taxi, no caminho do aeroporto até o centro da cidade, composta pelas famosas ruas de muros altos construídos com pequenos tijolos velhos e um pôr-do-sol laranja de fundo, um verdadeiro cartão-postal italiano. As memórias de anos atrás, de quando ainda morava ali com a sua família, cercavam pela sua cabeça de forma involuntária e por um momento ele desejou nunca ter saído daquele lugar.

O pequeno aeroporto do qual tinha acabado de sair, confirmando a sua volta para Itália – mesmo que apenas por duas semanas –, era o mesmo em que ele havia se despedido de sua família e amigos há quatro anos atrás quando partiu para Nova York para terminar sua faculdade de jornalismo na renomada Universidade de Yale, com direito a um estágio na Vogue América. Aquele era um sonho que ele nunca tinha se dado o luxo em ter, mas soube no momento em que provou aquela experiência, que tinha nascido para vive-la. Naquela época sua partida girou em torno de um grande drama e Antônio se perguntou diversas vezes se estava fazendo a coisa certa, mas agora, com os seus 26 anos completos, um diploma relevante nas mãos e o cargo de colunista do setor de Arte e Cultura da revista mais importante, conceituada e influente do mundo, ele não tinha arrependimentos.

Um par de óculos de sol redondo pousava sob seu nariz e as ondas de seu cabelo castanho escuro voavam e se bagunçavam conforme a brisa quente da Toscana batia em seu rosto bronzeado e torneado. As experiências que tinha vivido e as oportunidades que agarrou quando estava nos Estados Unidos, as viagens que fez aos cinco continentes a trabalho e as pessoas que conheceu em todo esse processo o fizeram crescer e expandir sua visão de mundo de uma forma realmente transformadora. Voltava naquele dia para sua cidade natal completamente diferente de como tinha saído, mas de um jeito estranho, se sentia o mesmo ali no meio da encantadora Florença. Esta, que era o berço do Renascimento Italiano e uma das cidades mais belas do mundo, certamente foi uma grande influência sobre o amor de Antônio pela arte. Em cada esquina daquela cidade tinha uma história pra contar, desde a Ponte Vecchio até o Palácio Pitti, a capital era cenário de obras lendárias como O Nascimento de Vênus de Sandro Botticelli, A Anunciação de Leonardo da Vinci e até mesmo a famosa Medusa de Caravaggio. Sua paisagem era composta por ruelas pequeninas, prédios e torres de pedra, lares de aristocratas e ricos burgueses no período da Idade Média e seu charme encantava não somente os turistas que vinham diariamente de todas as partes do mundo, mas principalmente os moradores locais apaixonados por cada canto daquele lugar.

Ao chegar na frente da casa da sua família, ele pegou a única mala que trazia consigo, tocou a campainha e assim que a porta fora aberta, foi puxado para um abraço apertado e cheio de saudade de sua mãe Martina, seu pai Luigi e sua irmã mais nova Giordana. Sua família costumava visita-lo em sua casa em Nova York para as festas de final de ano ou nas férias de verão, mas aquela era a primeira vez que voltava para a casa de seus pais na Itália desde que partira há quatro anos atrás, então a recepção calorosa durou mais que o normal. O sorriso nostálgico demorou para sair de seus lábios enquanto observava as paredes que dividiam os cômodos daquela casa e junto delas as memórias de infância de quando cresceu em um lar. Depois de vários minutos daquela acolhida afetuosa por parte da sua família, Tom só conseguiu colocar suas coisas no seu antigo quarto - que estava exatamente do mesmo jeito que ele tinha deixado quando foi embora – e tomar um banho rápido, porque logo em seguida estavam os quatro sentados no sofá da sala com a lareira acesa e uma garrafa de vinho tinto em meio a muitas conversas, sorrisos e abraços felizes porque era bom estar em casa e era bom ter a família reunida.

Seus pais pareciam mais felizes do que nunca com a presença do primogênito ali. Martina era uma mãe protetora e sensível, tinha muito orgulho do homem que o seu filho tinha se tornado e não cansava de dize-lo isso. Já Luigi era mais fechado e calado, não demonstrava tanto quanto a esposa, mas bastava algumas taças de vinho ou até mesmo copos de chopp para abraçar forte Antônio e dizer baixo apenas um "eu te amo" que era mais do que suficiente. E por último tinha Giordana, com seus 24 anos, a irmã mais nova entusiasmada que enchia seu saco todas as horas do dia, mesmo estando a milhas de distância durante os últimos anos. A família Donato era conhecida pelos moradores do pequeno bairro onde vivam por ser muito unida e íntima, principalmente os dois irmãos que cresceram com apenas dois anos de diferença.

se florença fosse um planetaWhere stories live. Discover now