16 anos atrás.
Palácio Pitti, Florença, Itália.– Nina! – A voz de Antônio e o som dos seus sapatos de camurça correndo apressado contra o piso de mármore branco eram os únicos barulhos presentes no enorme corredor do Palácio. – Nina!
Construído no século XV, o Palácio Pitti foi habitado por três dinastias das famílias mais importantes da história de Florença, sua arquitetura agressiva e robusta retratava o resquício renascentista que ainda estava fortemente presente em cada canto da cidade. Inspirado nas casas senhoriais da Idade Média, suas paredes eram grossas e a janelas pequenas e muito elevadas e as suas salas eram ricamente decoradas das mais diversas e belíssimas obras de arte que a Itália já viu.
Depois de minutos tentando achar Catarina, Tom finalmente a encontrou na sessão das Salas dos Planetas, mais especificamente na Sala de Vênus, a qual tinha as paredes preenchidas do chão ao teto com quadros, seguindo o estilo barroco, e o teto perfeitamente ornamentado com afrescos e estuques delineados por suntuosas molduras douradas. O único segurança do salão que estava ali perto repreendeu o garotinho e o olhou feio, mas ele não se intimidou. Continuou correndo até a amiga que estava parada a frente a um dos lindos afrescos perfeitamente elaborados por Pietro de Cortona, o primeiro grande protagonista da pintura barroca italiana que ficou responsável por aquela sessão do Palácio. A garota encarava a pintura retratada na parede com os olhos brilhando, sem perceber ou se importar com a sua presença ali.
– Nina, até que enfim eu te encontrei! Estou correndo por esse Palácio há meia hora procurando você. – Disse quando finalmente parou ao lado dela com a respiração descompassada pela pequena corrida, bochechas rosadas e os cabelos caindo sobre seus olhos. – Onde você estava?
– Aqui. – Ela respondeu baixo, sem olhar em sua direção.
Antônio estranhou as poucas palavras e um traço de indiferença em seu tom de voz, afinal Catarina Bordon falava até demais e sempre fazia uma festa toda vez que o via, mas ele preferiu deixar isso pra lá enquanto afrouxava o nó apertado de sua gravata, odiando com todas as suas forças ter que usa-las por causa da farda do colégio. Ele, no auge dos seus dez anos, se achava ridículo com aquela blusa polo branca, a maldita gravata azul marinho, uma bermuda acima dos joelhos no mesmo tom de azul e suspensórios. Nada comparado a beleza de sua amiga, que estranhamente conseguia ser a garota mais linda que ele já vira usando aquela blusa branca, a saia de pregas azul, meias até abaixo do joelho e sapatilhas. Seu cabelo liso e escuro caía em suas costas e ela usava presilhas delicadas de lado, com sua franja curta caindo sobre seus olhos. Aqueles olhos conhecidos e verdes encarando cada detalhe daquela obra renascentista em sua frente como se dependesse daquilo, olhos brilhantes, curiosos e atentos que podiam fazer as mãos de Antônio formigarem as vezes quando ela o olhava muito intensamente ou por muito tempo. Catarina era a garota mais bonita que ele conhecia, até mesmo usando a farda do colégio, mas isso ele nunca diria em voz alta a ninguém.
– Você não assistiu a aula? – Donato perguntou com os olhos arregalados em surpresa, afinal a amiga nunca perdia uma aula sequer, sempre era a primeira da turma e aquela que levantava a mão para fazer perguntas espertas e astuciosas. – Nós aprendemos sobre todos os quadros, você ia adorar.
– Eu venho aqui toda semana, não preciso assistir a aula. – Ela deu de ombros com o queixo levemente inclinado para cima em um tom superior fazendo o garoto de olhos castanhos ao seu lado franzir o cenho.
Ele olhou para o relógio em seu pulso e viu que marcava 15:20 da tarde. A aula-passeio daquele mês tinha sido no Palácio Pitti e acabado há 20 minutos atrás, exatamente o tempo que Tom passou correndo de um lado pro outro naquele museu enorme a procura da garota. Eles sempre voltavam juntos andando do colégio por morarem apenas três quadras de distância um do outro, Antônio sempre deixava Catarina primeiro e suas mães, que eram boas amigas, estabeleceram que deveriam chegar até as 16 horas. Talvez se fossem rápidos conseguiriam brincar um pouco no jardim e chegar a tempo em casa, mas para isso a garota deveria ir com ele e não ficar parada em frente a uma pintura como ela estava naquele momento.
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se florença fosse um planeta
RomanceDepois de quatro anos longe de casa, Antônio Donato foge um pouco da rotina caótica de Nova York e volta para Florença, a sua pequena cidade natal que aparentemente continuava a mesma. Agora Tom era um jornalista renomado que viajava o mundo para co...