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                           Ana Luz
                                          Sábado, 17:50

— Ei, eu te amo muito, só que preciso trabalhar, pra ajudar no tratamento da nossa tia, pra dar uma vida melhor pra você e pra Bia...— dizia tudo enquanto acariciava os cabelos de Enzo, que a segundos atrás estava chorando, dizendo que eu não gosto mais dele— você entende isso né?

— Sim mas você não fica mais nem um pouquinho comigo, não brinca mais comigo e nem me faz carinho— parei a caricia e ergui a cabeça para ficar cara a cara com ele e como estávamos na cama tive que segurar a minha cabeça e apoiar com o cotovelo.

— Que mentira Enzo! Seu nariz vai crescer viu.— voltei a deitar— eu sempre tento ficar com você, sempre, inclusive combinei de nós assistirmos o tal filme que você disse que ia passar, até comprei pipoca e refrigerante.

— Tá bom, desculpa— ô gente, era tão fofo ouvi-lo com essa voz mais dengosa que o normal, tive que me erguer novamente para limpar as lagrimas que insistiam em cair de seus olhos.

— Só desculpo se você parar de chorar e ir lá pra sala brincar com a Bia, ela já te chamou várias vezes— não demorou até ele se levantar pra ir até ela, logo depois eu pude ouvir as vozes animadas brincando.

Me sentei na cama com as pernas cruzadas e a costa na parede, sentindo levemente algo na minha intimidade, era estranho, eu não sentia dor o tempo todo mas as vezes até pequenos movimentos me fazia sentir um grande desconforto. Por um momento implorei para que o destino fosse bom comigo e que eu não tivesse problemas com a pílula do dia seguinte que eu tomei assim que cheguei em casa, após ter pagado uma fortuna pro uber que me trouxe, eu não poderia abusar ainda mais da boa vontade da Gabriela afinal ela estava super cansada também, me esperou por um tempão, porém por causa de uma paradinha na farmácia, a corrida foi um absurdo de cara.

Depois que cheguei em casa, por volta das 10:40, não consegui dormir, e nem podia, ainda tenho as crianças pra olhar, sem contar que os meus pensamentos não estavam me deixando quieta hoje, o garoto e a nossa noite não saia da minha cabeça, mesmo eu tentando a todo custo não pensar.

Despertei dos meus pensamentos no filho da mãe gostoso que me levou pra cama noite passada, quando ouvi o toque do meu celular, eu já estava esperando ansiosa por essa ligação.

— Alô? Ana Luz dos Santos— a enfermeira falou.

— Sim, sim, como minha tia está, senhora— já passava das 18h, então eu já estava com o celular em mãos esperando a ligação do hospital.

— Então, o quadro clínico dela vem evoluindo muito bem, não teve nenhuma crise mas o novo médico responsável nem falou sobre reduzir os dias de internação, continua tendo mais quatro pela frente.

— Tudo bem, desde que seja para o bem dela, muito obrigada por ligar.

— O doutor pediu que eu avisasse que ele gostaria de ter uma conversa com você, tudo bem?— engoli em seco, essas conversas nunca eram coisas boas.

— Sim, tudo bem!

— Ele vai estar de plantão amanhã, recomendo que venha pela manhã, o fluxo de pessoas é menor, então provavelmente ele vai ter mais tempo de falar com você.

— Okay— nos despedimos e ela desligou a ligação. Mais essa agora meu Deus? O que será que o médico quer falar comigo? Por que tiveram que trocar de médico?

Depois de ficar uns bons minutos perdida em pensamentos, levantei da cama e segui para fora do quarto para poder dar um olho nas crianças, eles estavam calados demais, isso nunca era um bom sinal. Dito e feito Bia estava lavando uns pincéis sujos de tinta na pia, com a ajuda de Enzo e eles estavam molhando a cozinha inteira, sem contar que estavam todos sujos de tinta também, principalmente o Enzo.

Aqueles olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora