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Na: depois vocês me matam

Eu não morri e nem levei uma bronca, ou seja, quase ajoelhei em agradecimento para o meu pai. Ele disse que eu era uma adolescente normal fazendo burradas normais, enfim, eu estava vivendo e me aventurando.

De início eu achei que ele tinha sido possuído ou que era uma piada e na verdade eu ficaria de castigo por uma semana. Mas. Acho que eu estava tão enfurnada em casa, sem fazer nada demais, indo para a escola, indo para a casa, indo para a loja, indo para a casa. Que o meu pai ficou desesperado em me ver tão no motorizado, que ele acabou surtando de felicidade quando viu um cara maluco e aventureiro como o Joshua sendo o meu namorado.

Já o meu irmão.

Fiquei duas horas e meia - sem brincadeira - sentada na cama o escutando falar o quanto eu fui irresponsável, teimosa e descuidada. Disse pra eu parar de ser impulsiva e começar a falar onde eu estava a cada minuto.

Típico irmão mais velho.

Não trocamos uma palavra direito sobre "aquilo" quando ele me acordou as 5 da manhã pra me levar de volta.

Fazia tempos que eu não dormia tão mal, acordei com uma baita dor nas costas que eu não sei se foi por ter dormido sem nenhum conforto, ou o fato da tensão não ter saido de mim.

Entrei na sala correndo, trombando em quem aparecer na minha frente, acabei indo para a escola com o meu irmão, resumindo, fiquei encolhida no banco com medo até de respirar e ele começar o seu chilique de novo.

- Díos Mio! Foi atropelada por um caminhão? - Sabina diz pasma enquanto tira a sua mochila do meu assento.

- Você pelo menos dormiu a noite? - Jô pergunta sentada ao lado da Sabi e se inclinando pra me olhar.

Me sento eufórica, fiz um rabo de cavalo ao mesmo tempo em que corria pra aula, estava tão preocupada em chegar atrasada que coloquei um vestido.

Sim, um vestido. Sem comentários.

Ele era até que bonitinho, eu tinha ganhado da minha madrinha de aniversário. Era verde água, estilo ombro a ombro, com algumas florzinhas desenhadas à mão, tirando o fato de eu me sentir um pouco arrumada demais, o tecido era maravilhosamente leve.

- É uma longa história - respondi desfazendo o meu penteado pra pelo menos deixar isso decente.

- Ainda bem que hoje é aula de história! - Sabina bate palmas atrás de mim.

- Poxa, eu sempre podia dormir mais um pouco na aula do senhor Wilson - Joalin apoia a cabeça entre as mãos desanimada.

- Pode botar fitas nesses olhos! - a morena aponta pra Jô - eu tô sentindo que a Any tem uma baita história pra contar, que envolve um atraso do Beauchamp e a raiva do Lamar!

Organizei os meus materiais até afundar na cadeira. É incrível como mais cedo ou mais tarde essas duas vão saber de tudo.

- Olha vocês leem mentes ou é só um hobbie? - pergunto me virando.

- Se chama juntar as peças Gabrielly - Sabi me manda um beijo enquanto passava o seu batom vermelho intenso.

- E desde que você do nada resolveu assumir essa sua paixão pelo Beauchamp, a sua vida virou uma novela mexicana! - Joalin põe seus óculos e entrelaça os dedos, como uma verdadeira psicóloga.

- E uma novela das boas! - Sabi comenta.
Acabo rindo de desespero.

Existe uma lista quilométrica das coisas que eu gostaria de contar para as duas, incluindo sentimentos confusos, problemas e acontecimentos. Se essa conversa rolasse, noventa por cento de tudo isso seria resolvido.

•Imunidade•Where stories live. Discover now