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Depois da conversa no elevador, Hailey foi para casa. Achou que não daria importância ao que ele disse, mas não conseguiu pensar em outra coisa.

Tinha convicção de seu plano, mas as palavras dele foram sinceras com o que ele demonstrava estar sentindo. Passou a noite em claro monitorando seus homens que trabalhavam por toda a cidade e o sentimento de orgulho que costumava sentir, quando via que seu time era poderoso e eficaz se esvaiu dando espaço ao sentimento de incerteza. Sua filha estava sumida há semanas e nem Justin com toda experiência e poder conseguiu encontrá-la. Ela não achou que seria possível, mas o estado de Justin mexeu mais com ela do que o esperado.

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— O que quer aqui? - Hailey perguntou ao abrir a porta para Kendall. As duas não se falavam a tanto tempo, havia tanta mágoa entre esse espaço, que ver Kendall não lhe fazia nada bem.

— Eu não imaginei mesmo que você viria. - Ela entrou como de costume, passando por Hailey calmamente. — Estranhei sua covardia, você pode ser tudo. Uma cretina completa, mas covarde você não é… Não era.

— Ainda não entendo o que veio fazer aqui. - Cruzou os braços depois de fechar a porta, esperava uma explicação.

— Vim ver com meus próprios olhos. Você virou uma espécie de lenda. A temida Baldwin. Já não lembram do seu pai ou da terrível Lilly quando falam esse sobrenome. É sempre sobre você e sua soberania.

Hailey permaneceu em silêncio. O tom de deboche de Kendall a irritava.

— Você sempre quis poder… Sempre exalou isso, mesmo em seus dias mais sensíveis. Devo confessar, você transmite mesmo o que dizem sobre você.

— Já terminou? - Perguntou sem paciência para aquela conversa.

— Bárbara não me deixou chegar perto da Maia. Chegou a ameaçar a Thea, e isso me enfurece, Fai não me permite fazer nada, ele teme pela vida das duas.

— Ele está certo, você não tem que fazer nada, já não é desse meio, colocar sua vida e a da Thea em risco seria uma grande burrice.

— Hailey, nós sabemos que ela não tem nada. Você foi embora pelo seu ego, pode haver sim uma mínima parte de você que temeu o que ela pudesse fazer, mas no fundo você sempre soube que se tratava do seu ego. - Kendall falou ainda exalando deboche. — Eu senti raiva quando você abriu mão dela, eu esperava mesmo que você tomasse uma atitude diferente. - Olhou nos olhos da loira. — O que te trouxe aqui? - Cruzou os braços. — Foi mesmo a Maia? Ou foi a culpa?

— Você acredita mesmo que eu voltaria por culpa? - Ela riu. — Não seja patética Kendall, você não vai criar um confronto para justificar as minhas razões para ter tomado as decisões que tomei. Eu não vou me desculpar e essa conversa não vai acabar em perdão. Não é minha culpa que as coisas tenham chegado a esse ponto. E me admira você, com todo esse deboche, apontando para mim com dúvidas sobre as minhas intenções, quando tem acontecido coisas debaixo do nariz de todos vocês e ninguém tem feito absolutamente nada sobre. Não cobre de mim que estava em outro país, coisas que vocês que sempre estiveram aqui, não deram a devida importância.

Kendall recuou, sua expressão foi de confusão.

— Eu passei um ano escondendo minha família. Trabalhando dia e noite para que nada acontecesse a eles, você não imagina o quanto foi difícil ser mãe de uma criança cheia de traumas, cheia de dúvidas que eu não sabia como responder, não sabe como foi difícil amar e segurar alguém que não queria ficar, que não via os riscos que sempre nos cercou. - Disse ela em suas palavras mais sinceras. — Eu me rasguei por dentro de inúmeras maneiras, cada vez que era tida como louca por guardar tão bem duas pessoas que não eram minhas. - Alterou o tom de voz enquanto desabafava quase sem querer. — Eu que sempre estive sozinha, que sempre me cuidei, tive que cuidar de duas pessoas, sem qualquer obrigação, mas por amor. Eu me permiti gostar daquela vida. Eu escolhi estar ali porque era importante para mim que eles ficassem seguros. Eu me casei, Kendall. - Ela riu porque aquilo era algo impossível antes. — Eu aprendi a cozinhar e a ser paciente, aprendi a pensar antes de agir, porque eu não queria que a Maia fosse uma pessoa com influências ruins. Eu queria que ela visse os pais com amor, que acreditasse que estaríamos ali sempre por ela, eu queria dar a ela tudo o que eu não tive. Mas como dar a alguém algo que você não faz ideia de como é ter? - Deu de ombros e maneou a cabeça. — Eu vi toda a minha bolha estourar quando o Justin decidiu ir embora. Eu senti medo, eu tive que me tornar a pessoa que não demonstra fraquezas. Eu tive que esfriar e continuar aquecendo a única coisa boa que eu tinha, e aí veio ela, e meu lado bom foi tirado de mim. Eu pensei que teria apoio para acabar com aquela palhaçada mas eu não tive. - Disse aquilo com dor na voz e Kendall se sentiu incomodada por não ter pensado em como aquilo foi difícil para ela também. —  Eu escolhi meu ego porque em momento algum, nenhum de vocês ficou do meu lado. Ou eu aceitava as condições da Bárbara, ou eu estaria fazendo a escolha errada. Para vocês, eu fiz a escolha errada, mas eu sei o que me motivou e seu deboche não muda isso.

Murder Love (Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora