PARTE 1: O PREÇO

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CAPÍTULO 1

Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o centro, foi proclamada a rainha dos salões.

Aurélia Camargo era rica e formosa. Herdou grande herança do avô.

Aurélia era órfã, e tinha em sua companhia uma velha parenta viúva D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.

Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquela época não tinha admitido ainda certa emancipação feminina.

Assaltada por uma turba de pretendentes que a disputavam como prêmio da vitória, daí provinha talvez a expressão cheia de desdém e um certo ar provocador, que era máscara de alguma profunda decepção.

Não era um triunfo que ela julgava digno de si, a torpe humilhação dessa gente ante sua riqueza. Era um desafio, que lançava ao mundo; orgulhosa de esmaga-lo sob a planta, como a um réptil venenoso.

As revoltas mais impetuosas de Aurélia eram justamente contra a riqueza que lhe servia de trono, e sem a qual nunca por certo apesar de suas prendas, receberia como rainha desdenhosa, a vassalagem que lhe rendiam.

Por isso mesmo considerava ela o ouro um vil metal que rebaixava os homens, e no íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela a sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis.

Aurélia cotava seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.

Uma noite no baile, Lísia Soares falou sobre Alfredo Moreira, que era um rapaz elegante, recém chegado da Europa. Aurélia disse que era um moço distinto, e valia bem como noivo mil contos de réis, mas ela teria dinheiro para pagar um marido muito mais caro.

Todos riam do que ela dizia, e falavam que era brincadeiras de moça. Mas as senhoras criticavam- a muito, que aquilo era impróprio para meninas bem educadas.

A verdades é que todos discutiam e reclamavam, às vezes por desânimo passageiro, mas logo ficavam esperançosos, e nenhum se atrevia a abandonar os campos. Muito menos Alfredo Moreira que parecia figurar na cabeça do rol.

CAPÍTULO 2

Aurélia estava sentada pensativa, concentrava-se ao todo dentro de si, ninguém ao ver essa gentio menina na aparência tão calma e tranquila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência, e prepara-se para sacrificar irremediavelmente todo seu futuro.

D. Firmina chega e começam a conversar sobre o baile, mas era como se a velha falasse sozinha. Então de repente Aurélia pergunta.

"Que achou de Amaralzinha?"

"É bem educada, dizem que toca piano perfeitamente, e que tem uma voz muito agradável, foi a primeira vez que apareceu na sociedade"

"Quem acha a senhora mais bonita? Amaralzinha ou eu?"

"Outras muito mais bonitas não chegam aos seus pés"

"É mais educada que eu?"

"Há de ser difícil que se encontre em todo Rio de Janeiro outra moça que tenha a tua educação"

Aurélia fala sobre como seu dinheiro ultrapassa em seus dotes. E D. Firmina diz que entende o que ela quer dizer, que o dinheiro faz de feio bonito. Mas a moça não podia negar que a maioria dos seus admiradores não podiam pretender sua riqueza.

Resumo Senhora; José de AlencarOnde histórias criam vida. Descubra agora