Capítulo 16

283 43 76
                                    

[Lucca Zarmora]

O meio futebolístico é machista, muitas vezes racista e frequentemente homofóbico. Anualmente são feitas diversas campanhas sobre conscientização com uma mensagem forte e bem montada para atrair os olhares da mídia, mas aquilo tudo é uma grande mentira inventada pelos grandes empresários para dizer que eles se importam. Mas eles não se importam. Essa é a grande verdade.

Carreiras são destruídas dia após dia por racismo, discriminação e intolerância sem que alguém mova um dedo para fazer nada além de uma nota de repúdio no rodapé do jornal. Jogadores são postos dentro de seus armários com frequência e impedidos de ser quem eles são, de amar quem eles amam publicamente, apenas porque não é benéfico para ninguém ter a diversidade estampadas nas cores do clube.

A torcida que te aplaude e te enaltece na glória, é a mesma que te sacrifica e te bota na lama quando algo destoa do que eles estavam esperando. Você não passa de uma imagem, de um produto, e os dirigentes podem até dizer que não, mas tem veem apenas como uma mercadoria descartável feita exclusivamente para lucrar, independentemente do quão bom seja o seu futebol.

Afinal, só não importa com quem você dorme no final da noite se você for discreto e não trazer dor de cabeça para aqueles que se acham donos da sua vida, do contrário, você terá problemas e eles vão tentar tirar o único poder que é exclusivamente seu.

O poder de ser você.

Naquele dia depois que saí daquela sala, frustrado e bastante revoltado, eu caminhei pelos corredores entre os escritórios sem saber realmente como sair dali e completamente desacreditado que aquela conversa realmente tinha acontecido. Eu queria poder xingar com todos os meus pulmões, gritar aos quatro cantos da cidade e a Deus e ao mundo a minha revolta, mas sabia que não poderia dar aquele gostinho a eles de me ver tão descontrolado.

Eu cheguei a duvidar que aquilo realmente tinha acontecido e que aquela proposta ainda pairava no ar de tão de absurda que foi, mas eu sabia que minha mente não era tão fértil assim, então tudo tinha que ser real.

O Murilo não demorou a vir rapidamente atrás de mim e chamar pelo meu nome quando eu finalmente havia encontrado o que parecia ser o caminho para a saída:

—Lucca, espera.

Me virei na direção em que ele vinha e parei para esperá-lo, mesmo que meu desejo mandasse eu dar continuidade no trajeto até o Roberto e pedisse para que ele me levasse para o lugar mais longe dali.

—Por favor, me diz que não concorda com aquela merda.

Pedi desesperado porque naquele ponto eu já não tinha fé em mais ninguém e em mais nada. Tudo estava confuso e fora do lugar, eu sentia raiva, muita raiva e mais raiva ainda por eles me fazerem sentir aquela raiva toda. Tudo era tão confuso, mas fazia sentido pra mim.

—Não, claro que não – Garantiu vindo em minha direção e me pegando para um abraço.

—Isso é tão ridículo. – Murmurei no seu ombro, sentindo seu cheiro que trazia certa tranquilidade e calmaria para aquele turbilhão de novas informações. – Eu não quero fazer isso, Mu.

—Vamos dar um jeito.

Depois daquele dia, se a gente ousou achar que tudo se estabilizaria sozinho, estávamos completamente enganados, pois querer ignorar a situação somente fez com que ela se tornasse o grande elefante branco no meio da sala. Chegamos a ter uma pequena conversa com a Gina – que não ajudou em nada, devo acrescentar – onde ela nos explicou o que ocorria e garantiu que o que eles estavam oferecendo não era nada ilegal ou absurdo, visto pelos meios jurídicos, uma vez que existia uma cláusula importante no nosso contrato pra isso.

Jogo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora