Capítulo 30

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[Murilo Lacerda]

4 anos depois

Copa do Mundo 2026

—Tudo certo? Conseguiu achar o que eu pedi?

—Não estava muito difícil, né, Mu... gaveta de meia? Nenhum de vocês dois têm imaginação.

Micaela revirou os olhos demonstrando toda sua falta de paciência e irritabilidade, mas esse era o normal dela, então eu ignorei. O que mais eu poderia fazer? A gaveta de meia era o único lugar que eu sabia que o Lucca não ia mexer e acabar descobrindo antes da hora, tudo porque ele dizia não ter interesse nenhum em usar minhas meias 'finas demais' para os seus pés gelados. Eu por outro lado também não gostava muito das suas meias grossas demais que dificultavam colocar os tênis, então era um lugar em suas coisas que eu também nunca iria mexer.

—Então, você trouxe?

—Sim. – Ela começou a revirar a bolsa que trouxe com ela em busca do que precisava, enquanto murmurava para si mesma. – Hum, esse! Aqui, toma.

—Você foi discreta, não é? Não contou pra ninguém, né? – Peguei a caixinha de suas mãos e rapidamente a coloquei no bolso.

—Lógico! Embora eu ache que você vai ter uma surpresinh...

Comentou baixo, balançando a cabeça e tentando disfarçar o sorriso afetado do rosto.

—O que?

—Nada.

—Hum, tá... – Resolvi deixar pra lá porque eu precisava voltar antes que minha conversa com ela gerasse suspeita. – Obrigado Mika, fico te devendo uma.

—Tá me devendo um pix, sabe né?

Sorri concordando, embora eu achasse que isso era uma extorsão.

—Eu vou fazer assim que voltar para o quarto.

—Ok. Boa sorte.

Sorriu mais uma vez, me dando um beijo no rosto e olhando para mim como se soubesse mais do que estava me contando. Resolvi ignorar. Vindo da Micaela poderia ser tudo. Ou realmente nada.

Como o horário de visitas das famílias estava acabando, me despedi dela e voltei o caminho que fiz pelo corredor escuro e estreito – afim de não ser pego em flagrante – e procurei pelo Lucca, que nesse momento não era muito difícil de encontrar. Era só procurar pelo bebê mais barulhento, que consequentemente eu encontraria o Lucca sendo a causa desse barulho todo.

—Olha, Mu.

Lucca pediu sem se dar conta que meus olhos já estavam, e sempre estariam, encantados por ele. Na verdade eu fiquei vergonhosamente hipnotizado na cena que acontecia na minha frente e, mais vergonhosamente ainda, tinha que admitir que isso acontecia com frequência. Mas eu não ligava, não quando aquela visão era tão encantadora.

—Olha como ele é esperto. – Continuou enquanto embalava o pequeno bebê barulhento em seu colo. – Ele já ama bola de futebol.

—Sim, ele ama mastigar ela.

Sorri para a bola de futebol de pelúcia que o pequeno Benjamin segurava entre seus pequenos dedos gorduchos e levava até a boca, numa missão muito séria de destruí-la com seus únicos dois dentes.

—Quando a gente voltar eu vou comprar uma bola de verdade para você. Melhor... eu vou levar a bola do último jogo e te dar de presente. Seus amiguinhos vão ter tanta inveja. Seu pai...

—Chega! Me da ele aqui, Lucca.

O Isaac chegou até nós, passando direto por mim e parando diante do Lucca com os braços estendidos, ao qual foi totalmente ignorado.

Jogo PerigosoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang