10. O parque

539 72 21
                                    

ABRIL DE 1833,

"NÃO SIGNIFICOU NADA."

Sarah estava perdida em seus pensamentos, não tinha pensado muito bem e só estava andando no modo automático em direção à Baker House, no caminho que ela já tinha feito dezenas de vezes durante o dia. Então aquele ser – porque aquilo não podia ser chamado de homem – pulou do meio das árvores e Sarah viu a faca na mão dele. Roupas maltrapilhas e uma barba enorme, a pele suja e enrugada com uma expressão ameaçadora no rosto, estava óbvio qual era a intenção daquele homem. Será que era ele que a seguia há tempos e a tinha feito parar algumas vezes e olhar para trás?

Ela puxou os livros contra o peito e recusou-se a ter medo. O homem aproximou-se e Sarah se perguntou por que nunca tinha pensado em carregar uma faca junto de si. Agora ela estava de frente com um assaltante e não tinha nada além dos seus livros para atingi-lo, mas, se conseguisse lhe dar um bom golpe na cabeça com os livros, ela ainda podia sair íntegra daquela situação.

- O que uma moça tão bonita faria sozinha à essa hora em um caminho escuro do parque? – o homem indagou com um sorriso enquanto aproximava-se dela.

- Estava procurando unicórnios. – respondeu ela, forçando uma voz doce.

Talvez tenha sido a resposta errada, porque o homem grunhiu, deu um passo na direção dela e agitou aquela faca cega que tinha em mãos. Sarah tentou pensar em algo que podia fazer quando o homem segurou seu pulso.

- Me entregue seu dinheiro. – Exigiu ele, puxando o pulso dela e derrubando os livros de Sarah no chão.

- Não tenho dinheiro. – falou ela.

Quem andava com dinheiro quando se podia ter uma linha de crédito e mandar as contas para casa?

- Você está no parque dos ricos, indo em direção às casas chiques, e quer me dizer que não tem dinheiro?

Foi a vez de Sarah grunhir.

- Sou só uma universitária. – Ela disse. – E o senhor está atrapalhando o meu caminho.

Ele a estudou de um modo curioso e ameaçador.

- É a senhorita dos jornais, então. – Constatou. – Ouvi dizer que é de uma família muito rica.

- Mas não tenho dinheiro aqui comigo. – Ela livrou seu pulso da mão do homem e abaixou-se para pegar seus livros.

Ela foi observada enquanto fazia aquilo e, ao levantar-se, o homem tentou segurá-la de novo, mas Sarah recuou. Aquele homem fedia à álcool e parecia não tomar banho há dias. Ele avançou na direção de Sarah, exibindo os dentes amarelos e agitando sua faca na direção dela, mas Sarah recuou de novo.

Tudo que Sarah viu foi um livro muito grosso e pesado, parecido com o seu guia de Medicina, cair do céu e atingir o braço do homem em que a faca estava. Ela se assustou e caiu ao chão enquanto gritos de susto escapavam tanto dela quanto do assaltante, seus livros caíram de novo ao seu lado e Sarah observou, do chão, enquanto um rapaz que ela conhecia muito bem lutava pela faca do assaltante no chão.

- Simon! – exclamou ela e, pela primeira vez na sua vida, se sentiu grata de alguém tê-la contrariado.

Simon estava envolto em uma troca de golpes e tentativas de conseguir recuperar a faca com o assaltante. Ele chutou a lâmina na direção dela e Sarah a pegou, levantando-se rapidamente.

Seu corpo todo tremia e ela não conseguia manter a lâmina firme na sua mão, mas mesmo assim Sarah foi para cima dos dois com a faca em mãos.

- Parem! – gritou ela.

Os sintomas do amorWhere stories live. Discover now