Capítulo 58- Any

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Hoje eu acordei cansada.

Cansada de sentir um vazio tão grande no peito, que nem consigo explicar.

Cansada de ir dormir chorando, de me sentir sozinha, cansada de guardar tudo para mim.

Cansada de não querer ver ninguém, cansada de fingir que estou bem.

Estou cansada de me sentir cansada.

Posso dizer que é possível vivenciar o inferno em uma madrugada triste. Quando o ar pesa e o coração começa a acelerar. A solidão bate junto com o escuro e parece deixar o quarto mais gelado do que aparenta.

Meu mundo escureceu de novo, me pergunto se um dia alguém vai me ajudar a recuperar as cores mais um vez, ou se alguém pode me ajudar a me reconstruir novamente.

Queria poder dormir uma noite tranquila como antes eu conseguia. Deitar a cabeça no travesseiro e descansar realmente. Mas toda noite, espero que a porta se abra e ele diga que está de volta.

Espere, ele vai voltar

Noah disse um dia, mas esperar está cada vez mais exaustivo.

Sinceramente, agora eu não faço nada, só existo. Vou para lá e para cá, às vezes sem nem entender o porquê.

Não vou ao trabalho faz dois dias, não faço ideia se a senhora Smith tentou me ligar em algum momento, meu celular descarregou e não fiz questão de colocar para carregar. Mesmo assim, penso em como seria louco receber uma mensagem com: "Vamos concertar isso, não posso te perder e sinto a sua falta."

Não sei quantas vezes saí do quarto nesses dois dias, mal saí para usar o banheiro. Enchi uma garrafa com água e ela ainda está na metade. As comidas estão na cozinha e aquele bolo está inteiro na geladeira.

Quando toco meus pés no chão, tenho vontade de chorar como todos os dias, e eu só quero um colo para deitar e fingir que o mundo lá fora não existe, que o garoto que eu amo nunca esteve em minha vida.

Eu posso ouvir meus próprios passos quando caminho até a sala, o silêncio está me ensurdecendo, acho que consigo ouvir meus próprios batimentos em meu peito.

Paro quando vejo o corpo do meu pai sentado no sofá. O cabelo penteado para trás e a cabeça um pouco curvada para frente. Está usando a camisa do trabalho, o que me faz pensar que ele veio direto para cá, mesmo eu não fazendo ideia se ele deveria ou não estar no trabalho agora.

- Pai.- choramingo arrastando meus pés até o sofá.

Sua cabeça acompanha meus movimentos até eu estar sentada ao seu lado. Deito minha cabeça em sua coxa, encolhendo meu corpo me fazendo parecer uma criança.

Sua mão mexe em meu cabelo, uma carícia necessária para um coração dolorido.

Ele não diz nada quando começo a chorar, as lágrimas marcando sua calça jeans. Ouço sua respiração, meus soluços se juntando ao ar.

Vejo minhas chaves na mesinha de centro, a explicação para ele ter conseguido entrar sem o interfone ter tocado. Me lembro de ter caixas de pizza sob ela também, mas já não estão mais ali.

- Você arrumou aqui?- sussurro as palavras.

- Você estava dormindo.- ele diz ainda mexendo em meu cabelo- Achei que poderia ir arrumando enquanto não acordava.

- Não deveria estar no trabalho?- pergunto.

- Disse ao meu chefe que não consegui passar seu aniversário com você. Ele me deu o dia de folga.

- Tem bolo velho na geladeira.- digo- Se por algum motivo quiser cantar parabéns.

- Acho que vou dispensar essa oferta.- fala rindo- Como você está pequena?

Pequena, há muito tempo que ele não me chama assim. Engulo em seco antes de responder.

- Às vezes, eu gosto de imaginar que tudo entre nós deu certo.

- Sabe que isso está te fazendo mal, não sabe?- concordo com a cabeça.

- Eu sei.- sussurro.

Mas pensar um pouco não vai matar ninguém, não é? Bom, ninguém além de mim.

- Saiba que eu sempre vou estar aqui quando quiser conversar filha.

- Eu sei pai. Eu sei.

★★★

Josh

A madrugada passa devagar, fico a noite inteira vomitando o líquido amargo que coloquei no meu estômago. Confesso que tive esperança de alguém entrar no meu quarto e perguntar se estou bem, mas sei que não mereço ajuda agora.

Minha mãe não me deixou carregar Joalin nos últimos três dias, não faço ideia do motivo. Noah nem me olha quando estou por perto, ao menos a marca roxa do seu rosto já está clareando. Também não faço ideia de como acertei o rosto dele.

Eu ainda fico bem pela manhã antes de sair para trabalhar, estou tentando pelo menos não perder o emprego. Saio com os olhos e a cabeça doendo, mas faz alguns dias que não encontro algum remédio aqui em casa, e, sinceramente, não penso em passar em alguma farmácia para comprar um.

O tempo que eu poderia caminhar para uma delas, perco andando até a lanchonete, sempre tentando ficar discreto quando passo pela janela na tentativa que Any não me veja. Mas faz alguns dias que não a vejo por lá.

Rio da minha própria situação. Uma vez ela me disse que rir é um ato de resistência, já não estou resistindo a nada ultimamente. Voltei para aquele beco escuro da cidade duas vezes nessa semana, tentando achar uma forma melhor de esquecer dela. Mas tudo que eu usei me fez lembrar ainda mais.

Eu não queria que tivesse dado errado o que tínhamos, mas eu não sabia fazer dar certo. Uma hora ou outra eu ia machucar Any de alguma forma, poderia ter sido ainda pior se estivesse com ela até agora, teria a machucado ainda mais.

Hoje eu acordei sentindo ainda mais a falta dela e meu coração doeu um pouco mais do que o costume pela manhã.

Sinto falta dos seus abraços repentinos, das vezes em que seu corpo rolava para cima do meu em busca de mais aquecimento, e de quando corríamos pelo apartamento quando eu prometia fazer cócegas nela por alguma bobagem nossa.

Sinto falta de nós. De poder segurar sua mão na rua sem ter medo de nos julgarem. De olhar para minha mão e a aliança prata refletir a luz do ambiente.

A saudade de tê-la comigo bate toda a noite. Saio do mercado e penso que eu deveria estar indo para o apartamento para poder esperar ela chegar, e não ir para algum bar onde me expulsam na hora que querem fechar.

Acho que apertei a campainha do vizinho essa semana, mas ele ainda me acha um cara legal.

Percebi que a pior dor é aquela que você sente quando sabe que perdeu tudo. E é isso que eu sinto, que perdi tudo... mais uma vez.

Talvez eu tenha sido projetado para ficar sozinho. Não mereço ser amado por ninguém. No fim, a mãe dela estava certa, eu só sou um drogado de merda.

Uma coisa que também dói muito, é ser idiota o suficiente para se afastar de alguém, e chorar no banheiro que fede a vômito sentindo falta dela.

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Famoso capítulo depressão para vcs

Comeback tá chegando, onde vcs acham que vão ser??

Votem e comentem

Até a próxima, Kyara!

De repente... Você!Where stories live. Discover now