Rosas

Amy

Amy

Querido Jake,

Esses dois últimos anos tem sido torturantes, odeio com todas as forças a faculdade e nossos empregos por nos impedir de nos encontrarmos. Tem sido divertido lhe escrever cartas durante esse tempo, sinto como se estivesse numa aventura pelo tempo e voltamos a época em que os amores mais intensos eram declarados através de cartas. Sei que você está bem e gostando da faculdade, e não o julgo por isso, afinal também gosto muito daqui, apenas sinto uma saudade gigantesca de meu amor. Não lhe escrevi muito nos últimos dias, mas fiquei viajando por minha imaginação durante as aulas e ela me levou a pensar em nossa história, para quando percebi que estava perdidamente apaixonada por você e para o dia em que tudo começou. Talvez essa carta fique bem maior do que as outras, espero que consiga ler tudo, todo o meu coração e amor estarão nela.

Era o primeiro dia de aula do primeiro ano e como muitas crianças eu estava assustada em ir para a escola, era apavorante a ideia de ir para um lugar cheio de pessoas estranhas. Vesti meu vestido de joaninha e um par de sapatilhas com um laço na ponta, minha mãe havia feito uma trança em meu cabelo e me disse para não ficar com medo e que logo faria vários amigos. Duvidei um pouco disso, e como sempre ela estava certa. Logo na primeira semana de aula conheci Lucy e Mark, desde então somos inseparáveis. Ah, não fique com ciúmes pela história começar comigo falando deles, mas eles são uma parte importante na história.

Ir para a escola se tornou normal e passou a fazer parte da minha rotina. Vez ou outra ia na casa de meus amigos e eles vinham na minha, era divertido ter com quem brincar e passar o tempo em vez de ficar sozinha. Certo dia algo diferente aconteceu, na época não fazia ideia de como aquilo iria mudar minha vida e vendo agora agradeço imensamente por aquela mudança, a casa ao lado que havia ficado por tantos anos vazia estava recebendo novos ares, uma família estava se mudando para lá. Rufem os tambores, adivinha que família era. Isso mesmo, era a sua! Você parecia tão assustado quanto eu em meu primeiro dia de aula. Fiquei te observando da janela de meu quarto, mesmo sendo apenas uma criança ajudava a carregar as caixas menores e mais leves em vez de ficar apenas olhando os adultos fazerem todo o trabalho.

Por todo um dia a movimentação de caixas com pertences e móveis prendeu minha atenção por completo, o que é de se espantar considerando que me distraio facilmente. Ao fim do dia quando parecia estar mais calmo, resolvi me deixar levar pela curiosidade de saber quem eram meus novos vizinhos e juntamente com minha mãe fomos até sua casa para lhes dar as boas-vindas ao bairro. Os adultos ficaram conversando e seu pai tinha me dito para ir até o seu quarto porque você ainda estava arrumando suas coisas. Ter subido aquelas escadas aquele dia foi um completo desastre e fiquei tão irritada com você que se não fôssemos crianças talvez o teria jogado pela janela.

Com todas as minhas forças e a raiva de uma criança jurei te odiar por todos os dias de minha vida. Já sabemos que falhei completamente em cumprir esse juramento. As vezes precisamos quebrar algumas promessas. Para o meu azar e desprazer o garoto que acabara de se tornar meu vizinho e jurei odiar iria para a mesma escola que eu e para piorar ainda mais a situação seria da minha sala. Quais as chances de o destino ter pregado uma grande peça em nós nisso tudo? Pensei em ignorá-lo a todo custo e o faria sempre que estivesse por perto. Eu não o suportava e você parecia perceber isso já que insistia em se sentar perto de mim.

Lucy e Mark estavam sempre comigo e raramente nos separávamos, até o fatídico dia. Chamei de fatídico porque era a última coisa que eu esperava que fosse acontecer, foi horrível quando aconteceu e lembrando agora parece apenas engraçado. Depois de um ano inteiro de aula e muitas alegrias e brincadeiras infantis, nos últimos dias de aula do primeiro ano tivemos uma excursão da escola para uma visita ao campo e pode ter certeza de que voltei para casa esbravejando para os quatro cantos o quão idiota você era e que o detestava. Talvez você não se lembre e mesmo se lembrar de qualquer forma vou falar o que aconteceu.