Jake

21 6 4
                                    

Jake

Querida e amada Amy,

Confesso que fiquei surpreso ao receber sua última carta e admito que derramei algumas lágrimas. Quando recebi sua primeira carta foi uma completa e inesperada surpresa, ainda a tenho guardada assim como todas as outras. "Você deve estar pensando: Por que em pleno século 21 estou lhe escrevendo uma carta? A resposta é simples, é divertido. E se o correio sumir com minhas cartas vou processá-los", foi o que me disse em sua primeira carta. No início pensei que estivesse me escrevendo apenas para praticar a sua escrita para a faculdade, mas vindo de você era óbvio que tinha algo a mais, era uma forma de nos manter próximos e ainda poder guardar em caixinhas nossos momentos.

Não faço ideia de quantas vezes já li e reli algumas de suas cartas, Lucy diz que somos melosos demais e que qualquer dia vai parar no hospital com diabetes. Ter sua amiga estudando aqui no campus é engraçado, cada dia tem um drama diferente. Outro dia ela estava reclamando que o Mark era um almofadinha folgado que não ia passar o feriado com ela, no dia seguinte eles estavam planejando um mochilão para fazerem nas férias. Com você do outro lado do país, seu amigo em outro continente e sua amiga surtando pelo menos três vezes por dia, é como se rotina fosse algo que nenhum de nós conhece. Durante esse tempo só uma coisa não mudou, o meu amor por você. Talvez apenas a saudade gigantesca também não tenha mudado.

Tem sido difícil passar esses dois anos longe e cada vez que penso nisso sinto uma pontada no peito, sei que tudo isso é necessário para realizarmos nossos sonhos. Quando acho que vai tudo desabar e se tornar um completo e assustador pesadelo, respiro fundo e fecho os olhos me perdendo em minha imaginação deixando cada coisa se encaixar em seu devido lugar aos poucos. Acho que a convivência com a garota mais perdida na própria imaginação me ensinou algo, "A vida é mais colorida se deixamos nossa imaginação fluir", e ela estava certa. Não comece a se achar muito só porque disse que estava certa.

Inspirado por essa mesma garota perdida em seu mundinho colorido e cheio de flores, escrevo essa carta para contar meu lado em nossa história, afinal toda história tem dois lados. Começo dizendo que se alguém escrevesse sobre tenho certeza de que iriam dizer que sempre fui apaixonado por você e que sou o personagem cadelinha da protagonista, os boatos são verdadeiros. Para mim sempre esteve óbvio que era apaixonado pela garotinha de cabelos ruivos, mas vendo agora talvez não tenha sido uma boa ideia demonstrar o que sentia a irritando já que isso me rendeu uma cicatriz no rosto e um certo atraso na tentativa de conquistá-la.

Tudo começou quando por algum motivo, que nem lembro qual foi, meus pais resolveram se mudar, o dia da mudança foi cansativo e um tanto entediante. Embrulhar caixas e mais caixas para levar para a casa nova não é uma tarefa nada divertida quando se é apenas uma criança. Com os pertences colocados nas caixas e no caminhão que iria levar tudo dissemos adeus para um lugar e olá para outro onde iríamos recomeçar. Ao fim de um dia exaustivo com toda a mudança e a bagunça para tentar arrumar a maior parte das coisas no mesmo dia, a última coisa que esperávamos seria receber visita dos novos vizinhos.

Não estava a fim de ver ninguém, então fiquei no meu quarto arrumando minhas miniaturas de carros e a pequena coleção de personagens nas poucas prateleiras já montadas. Isso até uma garota xereta aparecer. De cabelos tão vermelhos quanto o carrinho de bombeiros que segurava e olhar curioso, ela apareceu sem que eu percebesse, por impulso peguei o carrinho de sua mão e sendo um idiota disse que meninas não deveriam brincar de carrinho e sim de bonecas. No mesmo instante ela ficou tão irritada e brigou comigo, não entendi bem o porquê já que nenhuma criança antes tinha gritado comigo como ela fez, o que me fez ficar curioso a respeito dela.

Nos dias que se seguiram tentei me aproximar, mas ela me ignorava e fazia questão de deixar isso bem óbvio. Como o bom garoto insistente que era e o "atormentador de garotinhas", continuei a insistir em implicar com ela. Acabei de perceber que estou me referindo a você como "ela", não quero que pense que estou me referindo a outra garota quando você é a única em minha vida. E continuou sendo assim até o dia em que fomos ao campo, o trágico dia em que ganhei minha cicatriz, pensei que seria engraçado te assustar e realmente foi, mas não esperava ser empurrado e dar de cara com uma pedra, literalmente. Sabia que você podia ter levado uma advertência ou suspensão por isso? Sorte que ninguém tinha visto e falei que escorreguei, ainda bem que acreditaram.

RosasWhere stories live. Discover now