A corte da princesa dourada

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     Margô não conseguiu se mexer, mas, após meia hora de pé, sentou-se ao lado das portas de vidro e abraçou as próprias pernas. Sua mente estava cheia e vazia. Havia muitos pensamentos, nenhum realmente inteligível.
     Talvez fossem deixá-la trancada para sempre. Talvez fossem vendê-la como escrava. Talvez... começou a contar os objetos do quarto. Uma mesa flutuante.      Duas mesas flutuantes. Três mesas flutuantes...
     Em algum momento, ela adormeceu, só para acordar com Nebulous sentado em frente a ela e observando-a com curiosidade. Ao ser pego no flagra, ele se levantou rapidamente e limpou a garganta. Ela se encolheu mais. Há quanto tempo ele estava ali?
     _ Não quis acordá-la, senhorita. Vossa Magestade disse que podemos seguir para a linha assim que a senhorita desejar. Gostaria de tomar um banho ou comer algo?
     Olhando para aquele rosto, os pensamentos que Margô trancafiara no fundo de sua mente voltaram à tona. Ele não era humano. Ninguém ali parecia ser. Aquele quarto não era normal. Ela não sabia onde estava. Outro planeta? No Além?
     Sua respiração se acelerou e ela sentiu o estômago se revirar. Nebulous se aproximou com preocupação e se agachou na frente dela.
     _ A senhorita está tendo uma crise de pânico. Preciso que se concentre em sua respiração e tente focar no presente. Foque em mim, está bem? _ Ele colocou a mão sobre a sua. O primeiro pensamento foi sobre se desvencilhar rapidamente, mas o calor de outro ser, ainda que não-humano, era reconfortante.
     Tudo bem. Tudo bem. Eles a estavam tratando bem. Ela seria levada de volta para casa. Tudo daria certo. Engoliu o ácido que subiu. Não havia nada em seu estômago desde... quanto tempo ela dormira? Ainda estavam no mesmo dia? Ela não sabia dizer. Seu peito apertou novamente. Respire. Respire.
     _ Muito bom. Você não comeu nada ainda, certo? Talvez uma água de cheiro?
     A garota o fitou num misto de terror e curiosidade. Então balançou a cabeça, negando.
     _ Só quero ir para casa_ disse e recolheu sua mão. Nebulous assentiu e se levantou.
     _ Então vamos. Tudo já foi preparado.
     Mais tarde, Margô notaria que não analisou aquela última frase com a devida atenção. Contudo, naquele momento, ela só queria voltar para sua pensão velha e decrépita cheia de comidas gordurosas. Seu estômago roncou em protesto. Comeria em casa. Se é que seria mesmo levada até lá.
Pôs-se de pé. O rapaz lhe ofereceu o braço e colocou sua mão sob a dela juntando os antebraços e as palmas sem que os dedos se entrelaçassem.
     _ Pronta?_ Ela anuiu.
     A porta do quarto se abriu. Não para frente ou para trás, notou, mas para dentro da parede. Como uma porta de correr.
     Permitiu que ele a guiasse por corredores vazios, que eram breves interligações entre grandes salões hexagonais muito bem decorados. Todos cheios de portas que deveriam levar a quartos como o seu, pensou.
Nebulous não lhe permitiu uma melhor avaliação. Ele a guiava com rapidez e eficiência. Quase como se não quisesse que ela visse demais.
     Sua roupa farfalhava ao seu redor. Era de um tom azul muito escuro, quase preto. Parecia ter padrões que lembravam couro de animais. Talvez pele de cobra? Também não sabia dizer. Seu peito voltou a apertar. Tudo bem. Tudo bem.

     Odiava não saber as coisas

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     Odiava não saber as coisas. A sensação de insegurança parecia real a ponto de sufocá-la. Era como um aperto em sua garganta. Puxou uma lufada longa de ar a tempo de ver que estavam em frente a uma... passagem? Porta?
Eram portas de correr que se abriram dando lugar a uma vista panorâmica... e as grandes de uma gaiola.
     Margo olhou nervosa para seu acompanhante que apenas sorriu e entrou primeiro. Ela o seguiu ficando ao seu lado. As portas se fecharam trancando ambos na estrutura de vidro.
Com um solavanco, começaram a descer. Um elevador, percebeu. Quase riu. Era até normal em comparação ao resto. Se Nebulous notou seu sorriso, não demonstrou.
     Ela ficou tentada a olhar a paisagem, mas, pela forma como o rapaz se mantinha muito próximo, achou melhor deixar o olhar fixo nas portas que se abriram logo depois.
     Saíram rapidamente e atravessaram mais um salão. Dessa vez, com o pé direito de uns cinco metros e passagens no lugar de portas.
     Não havia ninguém até onde a vista alcançava. Apenas uma confusão de cores. Aquele parecia ser um lugar de muito movimento. Havia diversas coisas, tão diferentes que ela não conseguia identificar sua utilidade. Por que estava vazio?
     Nebulous a guiou por uma das passagens e Margô precisou fechar os olhos quando a luz do sol a ofuscou. Estavam do lado de fora!
     Seu alívio durou pouco, logo foi substituído por pânico puro e simples. Não era real, não podia ser.
     Nebulous sacudiu seu ombro.
     _ Se concentre em mim, lembra? Em breve, isso tudo não vai passar de um sonho para você. Estamos indo para sua casa.
     Com delicadeza, ele a guiou até o que parecia ser uma espécie de veículo ovalado. Ela permitiu-se guiar ainda em estado de choque. Não se deixou pensar no que tinha visto.

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