Capítulo 40 - Bônus POV. Otávio Castro

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Creio em Deus, mas não posso me colocar exatamente como um devoto, nem sei dizer há quantos anos não vou a igreja ou a última vez que ouvi a palavra. Só que estou aqui, ajoelhado na capela do hospital e também não consigo numerar há quantas horas estou na mesma posição, mas sinto meus joelhos protestarem e também algumas dores pelo corpo.

Meu celular vibrou no bolso e só na terceira vez que criei coragem para me levantar e pegar o aparelho.

O meu primo continuou ali, de joelhos rezando para o seu Deus, estava visivelmente abalado e nem as gêmeas ou a Clara estavam conseguindo lhe dar esperanças desde que o médico veio falar com ele há três dias.

Três dias. Já se passou três dias desde o nascimento das gêmeas. Stella estava bem de saúde e já deram alta, mas estava ficando no berçário. A Sara está bem, mas está na incubadora por conta da complicação com o cordão umbilical. Já a Angel está em coma induzido até ficar estável.

Como estamos nos sentindo com isso? Um lixo. É uma merda ter dinheiro suficiente para comprar todo o hospital e mesmo assim ter que passar por isso e esperar que ela reaja aos medicamentos para poder tirá-la do coma.

O médico explicou que ela teve uma leve hemorragia no parto e quando estabilizaram teve um episódio de crise convulsiva generalizada e para prevenção tiveram que induzi-la ao coma.

Meu primo só faltou bater no médico quando ele disse que para prevenir induziu ao coma, os seguranças tiveram que conter a fera e injetaram um calmante na veia, eu nem tentei impedir, já que a qualquer hora é capaz de ele ter um treco e ficar internado também.

O que achamos estranho é que ela nunca nos falou sobre uma crise parecida, até procurei na internet se é normal ter uma convulsão pós parto, mas não encontro coisa nenhuma que preste ou que me faça entender.

Pode ter sido um caso à parte também, sei lá, não achei nada sobre casos isolados, o máximo que achei foi casos pós parto com antecedente de crise.

Saco, nunca quis ser médico, pelo menos não até agora.

Olhei para a tela do celular e era uma mensagem da Jana dizendo que a Clara está ardendo em febre por causa da mãe e não sabe mais o que fazer. Não contamos para ela sobre o coma, afinal é uma criança, mas ela pergunta sobre a Angel toda hora e não sei mais qual desculpa dar ou o que fazer para suprir essa falta.

Ela precisa sair logo dessa.

Também não falei para o meu primo, quando ele recebeu a notícia da Angel e ficou mal achamos que ver a Clara poderia ajudar a acalma-lo, mas foi uma péssima decisão porque além dele ficar nervoso, ela também ficou.

É um saco não poder fazer nada.

Me sinto uma planta, parada, apenas existindo sem poder fazer porra nenhuma, vendo a mulher mais importante da minha vida em uma cama de hospital e todo o dinheiro do mundo não ser capaz de fazer nada, segundo o médico só temos que aguardar ela estabilizar e vão tirá-la do coma.

Tudo bem que não é a pior coisa do mundo, ela só teve uma crise, mas já fazem três dias e ela continua na porra do coma.

— Primo, você precisa ir para casa — senti minha voz arranhar pela garganta seca, estou pecando na alimentação e na ingestão de água, a Angel certamente reclamaria que fica ajustando minha dieta para eu ficar furando refeições.

Angel.

A porra da mulher perfeita.

A mulher que estragou qualquer outra meia boca que eu pudesse encontrar.

Sei que me meti nessa já ciente de que no fundo o coração dela já era do Emerson, e vice versa.

Falei sério quando disse que tiraria meu time de campo se fosse preciso. E tirei.

Ardentemente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora