Capítulo 156 - Orgulho da servilidade

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Quincas Borba divergiu do alienista em relação ao meu criado. — Pode-se, por imagem, disse ele, atribuir ao teu criado a mania de ateniense; mas imagens não são idéias nem observações tomadas à natureza. O que o teu criado tem é um sentimento nobre e perfeitamente regido pelas leis do Humanitismo: é o orgulho da servilidade. A intenção dele é mostrar que não é criado de qualquer. — Depois chamou a minha atenção para os cocheiros de casa-grande, mais impertigados que o amo, para os criados de hotel, cuja solicitude obedece às variações sociais da freguesia etc. E concluiu que era tudo a expressão daquele sentimento delicado e nobre, — prova cabal de que muitas vezes o homem, ainda a engraxar botas, é sublime.

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de AssisWhere stories live. Discover now