Capítulo 4 - Parte 1

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"O vento sopra a noite sobre mim

E eu sinto tanto frio, mas eu sei

Melhor ficar assim, melhor não ter

alguém pra ir embora, pra esquecer"

(O que eu sempre quis – Heróis da Resistência)



Bia


Meu segundo dia na companhia da sra. Evans começou bem. Depois de uma ótima noite de sono, que eu definitivamente estava precisando, um café da manhã dos sonhos regado a uma boa conversa, nos sentamos novamente no deck e ficamos apreciando o mar. O dia estava parcialmente nublado e o clima ameno. Perto das dez da manhã, uma mulher loira, de meia idade, gentil e extrovertida, se junta a nós. Ela veio caminhando pela praia e foi apresentada a mim como sendo Helen Connor, moradora da primeira casa do complexo.

Assim como Laura, Helen foi muito simpática comigo. Procurou me deixar confortável e tentou me conhecer verdadeiramente. Contou um pouco sobre ela, sobre sua amizade com Laura, falou de como se conhecem a anos, mas que não chegou a conhecer o meu pai, e que mora ali com o filho.

Pelo que entendi, o filho de Helen, o morador da casa do meio, e o neto de Laura são sócios numa empresa e donos do condomínio. Ficamos ali algumas horas, até que Gia nos avisou que o almoço foi servido e nos dirigimos à mesa. Após o almoço e mais conversa, Helen decide voltar para sua casa. Laura se recolhe para um cochilo e eu resolvo ir até a praia.

Desço o deck, tiro a rasteirinha que estava usando e sinto a textura da areia.

Nossa, faz tanto tempo!

A última vez que estive numa praia ainda éramos uma família feliz. Lembro-me de fazer castelos na areia com papai, de pular ondas com mamãe segurando a minha mão e sorrindo para mim.

Ela tinha um sorriso tão lindo!

Sinto as lágrimas banharem meu rosto e não as impeço de correr livremente. Pela primeira vez desde que soube que teria que deixar meu passado para traz, sinto a insegurança me dominar.

O que estou fazendo aqui?

Quem são estas pessoas?

Só recebi carinho, cuidado e atenção desde que cheguei, mas tenho medo de fazer algo errado, medo de não conseguir fazer parte dos laços de amizade que eles claramente construíram aqui.

A saudade de casa, de papai, me pega com força e deixo meus pensamentos vagarem, tentando imaginar o motivo de termos passado pelas provações que passamos.

Meus pais acreditavam que o que morre é apenas o nosso corpo, e que nossa alma continua numa jornada de evolução e aprendizado, habitando então outros planos e outros corpos, em novas vidas.

Se é assim ou não, não sei, mas esta ideia me conforta, pois caso contrário, a vida seria apenas um véu de grandes injustiças. Sem os devidos porquês, eles certamente não mereceriam o destino que tiveram, e nem eu.

Depois de um tempo ali relembrando de todas as sensações que o contato com o mar nos traz e que eu não sentia há muito tempo, volto para casa. Entro no meu quarto, tomo um banho e troco de roupa, já que as ondas acabaram respingando bastante em meu vestido e a areia me encheu de grãos irritantes. Coloco um shorts mais folgado e uma camiseta. Dou uma olhada em meu telefone para ver se tem alguma mensagem de John a respeito da entrega do imóvel. Nada ainda.

Caos Particular (The Order I)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن