Cap.20

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Desde que a nossa hóspede está enfiada em casa ou melhor no quarto do Edu que eu me tranquei em plantões consecutivos e quando estava de folga estava no apartamento do Miguel. Mas justamente hoje após uma semana ele vai viajar, o paciente do transplante começou a apresentar algumas complicações e o chamaram.
- você pode ficar aqui linda - Miguel diz enquanto faz as malas.
- sozinha não dá - dou de ombros - vou pra casa.
- tem certeza? Sabe que por mim você já estaria morando comigo.
- tenho. Já conversamos sobre isso não?- ele assente.
- ok ok me rendo.- levanta as mãos - te ligo todos os dias.

Volto pra casa e encontro somente a Juliana sentada no sofá em frente ao computador e tomando um vinho. Ela sorri quando me vê.
- finalmente te encontrei - ela ri - tudo bem?
- tudo e com você?- falo largando minha bolsa no sofá e sentando em sua frente.- cadê todo mundo?
- Brenda é João foram jantar fora, Edu está de plantão e bem eu estou resolvendo problemas do hospital - sorri - mesmo longe não consigo me desligar, o Edu abriu mão de tudo relacionado ao hospital então acabou que ficou tudo pra mim.
- não sei se entendi - digo confusa e ela me olha sorrindo.
- eu sei que não tivemos uma oportunidade para conversarmos - me encara e oferece a taça de vinho pra mim que não recuso - mas sabe Helo, vou te chamar assim,eu ouvi muito sobre você sabia.
- de mim?- pergunto confusa.
- sim, eu , edu e branda nos conhecemos desde crianças e nossos pais eram sócios do hospital do exército em Brasília, o que consequentemente seríamos herdeiros já que o pai dele era extremamente preconceituoso quando ao fato de uma mulher assumir como a Brenda e eu, já meu pai aceitou contanto que eu fosse casada de preferência com o Edu.
Eu a olho sem saber como agir, porque cada vez que escuto algo do pai deles me choco ainda mais. E muitas feridas em meu coração são abertas.
- nossos pais combinaram de deixar em nossas mãos o comando do hospital, o pai do edu o chantageou para que ele aceitasse casar comigo - ela ri - mas por ironia do destino eu já tenho alguém, e ele quando veio obrigado também tinha alguém, você.
- não ele não me tinha, me largou com uma carta - falo amargurada e tomo um gole de vinho - não me procurou e não falou comigo durante dez anos. Só soube o que aconteceu quando ele voltou do nada.

- entendo. Mas quando ele foi pra Brasília conversamos muito sobre o tal casamento, ele me contou sobre você e acompanhava seus passos através da Brenda, ele sofreu muito sabendo o quanto você ficou machucada. Mas enfim - ela suspira - eu sugeri que ele falasse com você após o casamento para resolver a situação de vocês, já que não seríamos um casal de fato.
- essa história fica cada vez mais estranha - suspiro.
- ele disse que você jamais aceitaria. Hoje eu estou finamente com a Alissa minha noiva.- eu a olho espantada e ela ri - sim Helo eu sou lésbica.
- uau! Nunca imaginei - digo constrangida - me sinto ridícula agora.
Acabamos rindo.
- eu imaginei que você estivesse com ciúmes - brinca. - não é isso...
- tudo bem Helo - bebê seu vinho - mas voltando ao assunto, nossos pais foram viajar de carro e acabaram que foi fatal. Rompemos o noivado no mesmo dia já que não existia nenhum contrato ou cláusula que nos prendesse. Edu me concedeu uma procuração para assumir o hospital e ele me auxilia a distância e repasso os lucros com ele e a Brenda.
- parece até uma novela de coisas absurdas que o pai dele fez - constato.
- sim. E tudo ficou mais intenso pro Edu quando a Brenda mandou um vídeo pra ele de você ficando noiva- eu o olho chocada- nunca o vi tão arrasado. -Ele mantinha esperanças de que você  ainda o esperasse, até que decidiu voltar pronto a tentar ter você de volta, caso você não quisesse ele voltaria definitivo para Brasília.
- não sei o que dizer - falo.
- eu sei, e no seu lugar eu faria a mesma coisa. Edu agiu por impulso achando estar protegendo vocês e te deixando no escuro. Agora ele está sentindo as consequências da decisão que teve dez anos atrás.
Eu fico chocada com a nossa conversa, a Ju é uma mulher linda e extremamente gentil e nós entendemos muito bem.

Depois da terceira garrafa de vinho estávamos as duas sentadas no chão da sala rindo de diversas coisas.
- a cara dele quando soube que eu gostava era de mulher foi impagável - Ju contava divertida.
- imagino eu fiquei chocada- brinco.
A porta e destrancada e o Edu entra parando em seguida quando nos encontra ali, rindo e bebadas.
- olha quem chegou - digo alegre.
- tá tudo bem?- ele diz com receio.
- melhor agora que o assunto chegou - Ju diz rindo.
- do que vocês estão falando?- ele ergue a sobrancelha.
- de você coisa linda - Ju responde na lata fazendo ele me olhar.
- por isso minha orelha estava queimando - ele ri.
- bom Helo foi ótimo conversar com você mais eu já vou subir preciso ligar pra Alissa - pisca - e Edu se a porta estiver trancada me respeite que estou transando pelo telefone. E aliás você tá precisando, acho que faz um tempão heim- ela ri e pisca pra ele que a olha achando graca.

Ficamos sozinhos num silêncio desconfortável eu queria falar tanta coisa mais não tinha coragem. Eu levanto do chão cambaleando e quase caio sentada novamente mais Edu me segura a tempo.
- obrigada - digo nervosa. Seus olhos me sondam.
- você tá cheirando a álcool- ele ri.
Assim que fico de pé eu o abraço, sem aviso, mas sou correspondida imediatamente.
Seus braços me apertam forte contra seu peito.
- você cheira tão gostoso - falo com a voz arrastada e ele ri.
- vem Helo vou te ajudar a ir pra cama - me carrega firme contra seu corpo.
- você vai vir junto?
- não.
- ahhhh daí não tem graça - falo bebada.
- o álcool entrou e a boca perdeu o filtro? - brinca assim que abre a porta. Ele me coloca sentada na cama.- quer alguma roupa específica?
- quero ficar sem roupa com você - falo tirando minha blusa.
- você bebeu demais Helo - ele segura meus braços - vem.

Acordo com uma dor de cabeça terrível e ao meu lado vejo o Edu. Me olhando e rindo.
- droga!- digo com a mão na cabeça.
- acordou pinguça- ri
- o que você tá fazendo aqui? Droga não me diz que...- não consigo falar.
- apesar de você ter tentado transar comigo várias vezes, não fizemos nada helo.
- então o que tá fazendo aqui?
- você insistiu pra eu ficar e acabei pegando no sono depois de você tentar me deixar pelado. - ele ri.
- eu não fiz isso.- digo gemendo.
- fez, e você enfiou a mao na minha calça. Foi difícil eu confesso.- fala sem graça - mas não aconteceu nada você dormiu em seguida.
- aiii que vergonha!- digo.
- não precisa ter vergonha Helo. É um segredo nosso - ele pisca e levanta indo ao banheiro.

Quando ele sai entro imediatamente ficando um tempo lá, tomo um banho, hoje estou de folga. Agradeço mentalmente quando não o encontro em meu quarto.

O café da manhã foi silencioso, Juliana eu e Edu nos olhávamos e ela sorria pra mim. Quando Edu foi trabalhar ela me contou que ouviu meu pequeno assédio contra ele o que me deixou morrendo de vergonha.

Fico no meu quarto um bom tempo, sinto meu coração apertado quando me dou conta que desde a ida de Miguel ontem eu não penso nele, não falo com ele e não senti saudade.
Meu corpo gira em torno do Edu. Agora que escuto a versão da Ju fico mais confusa ainda.
Eu preciso falar com ele.

- Louca saudade #Where stories live. Discover now