Capítulo 13 - Aquela Noite

1.2K 95 24
                                    


Chegamos à minha casa com Ana delirando daquele jeito. Assim que acendi a luz da sala Ana percebeu que era eu quem estava ali. Sem nenhum aviso ela pegou um dos vasos do aparador e lançou-o contra mim. Eu já estava meio bêbada, mas ainda tive reflexo para abaixar e o vaso se estilhaçou contra a lareira.

--Eu odeio você Paula! Porque não vai procurar a Luana?! – Enfurecida ela chorava. Nem mesmo percebia que Luana estava ali. Eu nem sabia o que dizer. Ela me jogou mais um vaso de cristal e uma estátua. Fui até ela e a segurei pelos pulsos.

--Ei Ana para! Porque tá fazendo isso?!

--Porque eu tenho ciúme tá legal?! Porque eu odeio você! Porque eu não quero olhar pra sua cara nunca mais! Nunca mais! – Ela amoleceu em um pranto convulsivo em meus braços. Eu não sabia o que eu estava naquele momento. Eu estava ferida por dentro, estava cansada, machucada, magoada, irritada, arrependida. Estava tantas coisas! Ela escondeu o rosto no meu pescoço.

--Ei, calma Aninha... Eu te amo... Vai ficar tudo bem! – Nisto meus pais e meu irmão desciam a escada.

--O que tá acontecendo aqui? – Meu Pai perguntou. Suspirei.

--Lu, faz um favor. Leva ela pro meu quarto e dá um banho nela! Ela precisa... E eu não tenho condições! Não hoje! – Luana concordou com a cabeça. Passei gentilmente Ana dos meus braços para os dela, e as duas subiram a escada devagar. Ana ainda conversava com Bruna, sem perceber que era Luana quem estava ali com ela. Sentei no sofá da sala. Minha Mãe e meu pai sentaram lado a lado e meu irmão sentou atrás de mim no braço do sofá. Ele já estava um alto rapazinho de treze anos. Suspirei, passei a mãos nos cabelos.

--Vocês brigaram? – Mamãe perguntou. Meu Pai concluiu.

--Ulisses, sobe, nós precisamos conversar com sua irmã. – Neguei.

--Não, deixa ele Papai, se eu vou dizer isto vou dizer uma vez só, então deixa ele ouvir. – Suspirei buscando forças. – Eu amo Ana. Amo... Amo como amiga, mas amo mais... Eu gosto de garotas, na verdade eu gosto de Ana. Mas ela é só minha amiga! Só que ela tem ciúme! Ela briga, enlouquece toda vez que uma garota chega perto de mim! – Mamãe escorou-se sobre Papai e segurou minha mão.

--Filha, eu acho que Ana também gosta de você! Independente disto, você precisa viver! Mais vida e menos Ana! Sabe que amamos Ana! Desde que ela perdeu a mãe, eu a tornei um pouco minha filha, mas você devia estar vivendo! Você é uma garota fantástica! Devia estar namorando, conhecendo pessoas, beijando bocas, e está vivendo Ana! – Uma lágrima me escapou.

--Sei Mamãe, mas não consigo! É mais forte do que eu! Eu a amo e só quero estar com ela! E ela não permite que eu me aproxime de nenhuma garota! Ela enlouquece! Não quero nem pensar no tanto de besteira que ela fez hoje! – Meu pai afirmou.

--A contrarie filha! Deixe que faça besteira! Se afaste só um pouco! Deixe que ela perceba que está errando com você! Precisa se envolver, se entregar a outras pessoas. Você precisa de amor, e se Ana não está pronta a te oferecer isto precisa buscar em outro alguém! – Apenas balancei a cabeça confusa e desanimada.

--Posso te apresentar umas garotas! – Disse meu irmão sorrindo. – Sabe... Sempre me interesso pelas mais velhas e nunca querem nada comigo, quem sabe com você... – Apenas me abracei a ele rindo enquanto chorava. Papai e Mamãe se abraçaram a nós e aquilo virou um grande abraço em família. Acho que no fundo meus pais não erraram tanto em querer estar sempre grudados nos filhos.

--Obrigado gente! Amo vocês! – Eu disse já um pouco mais calma. Luana descia a escada.

--Vamos todos voltar pra cama! – Meu Pai declarou. Mamãe completou.

--Filha, sobe no meu quarto, Mamãe vai te mimar um pouco. Tô com saudade. – Concordei com um sorriso fraco. Fui até a porta com Luana.

--Não quer ficar? – Ela sorriu cansada.

--Não, nem quero estar aqui quando Ana acordar! Dei um banho nela e vesti uma camisola. Ela só falava em você. Não parou de perguntar de você um minuto! Devia subir... Boa noite. – Abracei Luana e lhe dei um beijo na face. Nem precisava agradecer. Ela sabia e eu sabia, éramos aquele tipo de amigas que nem precisam dizer obrigado.

Até pensei em ir direto para o meu quarto, mas confesso que cinco minutos imersa em sais de baunilha na banheira da minha mãe enquanto ela silenciosamente me fazia uma massagem nos ombros melhoraram muito meu estado. Entrei no quarto escuro de toalha. Assim que acendi a luz do closet ouvi Ana chamar com a voz mole, mas parecia menos bêbada.

--Paula? É você? Vem deitar comigo! – Vesti uma camisola curta e caminhei até a porta do closet. A visão que tive não me saiu da cabeça até hoje. Ana estava deitada de bruços, vestindo apenas uma minúscula calcinha. Ela havia despido a camisola que Luana lhe vestiu. Meu coração acelerou. "Calma Paula, ela só devia estar com calor, ela tá de porre!", disse a mim mesma mentalmente. Olhei mais uma vez. As costas nuas e a linda bunda. Tudo tão perfeito! Apaguei a luz.

Deitei a lado de Ana e ela se jogou nos meus braços. Nem parecia notar que estava nua. Eu sentia os seios nus comprimirem contra meu corpo e delirava! Meu coração já batia em cinco ritmos diferentes, descompassava! Ela escondeu o rosto no meu pescoço como sempre. Estava toda molinha, quase sem forças. Puxou minha mão para seus cabelos. Sussurrou contra meu ouvido.

--Tá cheirosa... Faz carinho gostoso faz... Faz cafuné! – Nunca senti nada tão forte como naquele momento. A boca do meu estômago gelou. Estremeci, arrepiei, totalmente estática. Passei a mexer meus dedos entre seus cabelos de leve. Sentia que ia explodir. Ela sussurrou. – Não esqueci daquela vez lembra... Faz carinho nas minhas costas, me arrepia. – Lentamente me desvencilhei dela. Ela ali, linda estirada de bruços, olhos fechados. Passei minhas mãos em suas costas de leve, as pontas dos dedos arrepiando tudo onde passavam. Num ato de coragem deitei sobre suas costas. Senti a pele fervente, beijei-lhe a nuca, e ela retesou-se. Pude ouvir seus lábios exprimirem um pequeno gemido. Ela estava tão arrepiada! Meus lábios desceram pelas costas. Beijei os ombros, deslizei meus lábios suavemente pela espinha. – Ai... Isso é gostoso... Demais... faz assim faz..! – Ela disse num sussurro excitado. Beijei o fim das costas, fui subindo lentamente, beijando toda sua pele, me excitando, me arrepiando também, sentindo calafrios. Era a hora! Eu beijaria os lábios de Ana e a tomaria em meus braços. Deixaria o amanhã para depois, para amanhã! Eu entregaria todo meu amor à garota que era a dona dele! Eu faria amor com ela! Beijei mais uma vez a nuca sem que ela tivesse nenhuma reação. Afastei um pouco e olhei seu rosto. Ana dormia.

Vesti-lhe a camisola pois não suportaria tê-la a noite toda daquela maneira. Ela ainda falou algumas vezes meu nome sonolenta e inconsciente, enquanto a trazia para meus braços onde ela logo se acomodou. Não dormi naquela noite. Tudo foi forte demais para que eu tivesse sono. Eu nunca esqueceria daquela noite. A noite em que quase fiz amor com Ana. Nunca esqueceria do sabor e do calor da sua pele. Seu cheiro que me enlouquecia, seus gemidos e sussurros tão baixos. Nunca esqueceria o quão perto estive de fazer amor com Ana. E o uísque nunca voltaria a me dar a mesma coragem. Muitas vezes fantasiei com aquela noite. Em minhas fantasias, ela apenas não dormia.


NOTA:

Por esse "quase" vocês estão querendo me matar não é? kkkk é sim!

Tortura-meWhere stories live. Discover now