Capítulo 14 - Chegando ao Pior Ano da Minha Vida

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Se tivesse que eleger o pior ano da minha vida, não teria nem dúvida. Aquele ano, o ano em que fiz dezenove anos, seria o pior ano da minha vida. Confesso que depois de passar por aquele ano sem enlouquecer ou morrer, os outros até me seriam fáceis, e eu encararia conformada.

Algumas decisões levariam este meu ano a ser pior do que se pode definir como pior. Não é fácil explicar como as coisas mudaram. Há acontecimentos que não tenho como pular. Apenas posso dizer que aquele ano ruim teria duas culpadas. Luana e Ana, aliás três, eu era a mais culpada.

Depois daquela noite catastrófica de balada, Ana acordou e se espreguiçou ao meu lado. Eu, como disse antes, não havia dormido. Estava frustrada, cansada de tudo aquilo, e muito aborrecida. Tinha chegado ao meu limite! Encarei durante aquela noite em que Ana dormia serena, que as coisas não podiam ser assim! Eu tinha dezoito anos, não era mais uma garotinha. Ana não podia simplesmente me magoar, dormir com um cara qualquer, dizer que me odiava, me atirar coisas, e depois dormir serenamente em meus braços. Ela também não era mais criança. As coisas iam mudar!

--Nossa! Minha cabeça tá explodindo! – Ela disse sorridente. – Eu tava muito louca ontem! – Riu. Eu tinha o rosto aborrecido e até um pouco irritado.

--Você lembra da noite de ontem Ana?! – Perguntei seca.

--Mais ou menos! Foi muita tequila! Que loucura! Tenho que me recuperar pra hoje! Como você tá? – Era meu ponto de ebulição. Ameacei explodir. Disse bem irritada.

--Recuperar pra hoje?! Pra onde vai hoje?! – Ela parecia ignorar minha irritação. Disse muito sorridente.

--Pra balada ora! É sábado! E "vai" não, é "vamos"! Tenho o telefone de vários gatinhos no bolso do meu short. Vou arrumar um pra você, tem que parar de ficar grudada na "Luaninha"! – Pronto! Ali ela alcançou e passou todos os limites que eu podia suportar. Saltei da cama a olhando furiosa.

--Gatinho Ana?! Porra! Você tem noção do que fez ontem?! Você deu pra um desconhecido qualquer! – Ela sacudiu os ombros.

--E daí! Uma hora ia acabar dando pra alguém mesmo! Tenho dezoito anos! Estou velha pra esperar já! Que se foda! Já sabia que mais cedo ou mais tarde ia dar mesmo! – Eu estava vermelha de ódio.

--Olha Ana, você passou a noite dizendo que me odiava! Bêbada! Querendo dar pra todo mundo que aparecesse! Você quebrou tudo na sala da minha casa! Atirou coisas em mim! Eu... Eu não quero olhar pra sua cara agora! Por favor! Sai da minha frente! – Ela ficou nervosa. Um pouco sentida. Veio na minha direção.

--Ei, nunca falou comigo assim! Sou eu... Sua Aninha! Eu te amo lembra? Porque eu ia te odiar?! – Tentou me abraçar e eu esquivei. Suspirei e disse magoada. Triste.

--Não Ana! Eu cansei! Cansei disso! Cansei de fazer o que quer comigo! A minha Aninha, a garota que eu amo muito, não faz metade do que você fez ontem! Sinto muito... Mas você não é a garota que eu amo, aquela que eu escondo no meu abraço! Quero que você vá, e pense bem em tudo que fez ontem antes de aparecer na minha frente outra vez! – Uma lágrima escapou do meu olho. – Por favor... Sai. – Uma lágrima escapou do olho dela. Ela saiu. De camisola e muito triste.

Como devem saber me estirei na cama e chorei, depois dormi, depois chorei. Foi isso que fiz aquela tarde toda, dormir e chorar. Minha Mãe veio duas vezes dizer que Ana queria falar comigo. Neguei. Ainda não estava pronta. Recebi uma mensagem de Luana perguntando como eu estava. Morta. Foi com esta palavra que respondi. Eu estava morta. Ela insistiu para que nos encontrássemos em uma praça ali perto para conversar. Neguei. Depois de um banho pensei melhor. Topei.

Assim que cheguei vi que Luana voava perigosamente alto em seus patins no half pipe da pista de skate. Ela parecia querer se matar com aquilo. Também não estava bem. Sentou suada ao meu lado. Nós duas mudas. Fez sua cara mais séria e profunda.

Tortura-meWhere stories live. Discover now