Capítulo 32

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- Alice Narrando -

- Flashback On -

Sabe quando você precisa ver algo pra acreditar? Eu estava assim, ainda tinha esperança de ser um engano, de ser uma brincadeira de péssimo gosto. Mas não era. Quando eu cheguei na capela que estava sendo o velório dele e vi rostos conhecidos minha esperança foi indo embora e quando eu cheguei perto do caixão quase desabei mas meu pai me segurou. Ele parecia está dormindo. Abracei a família dele e fiquei abraçada com o Igor próximo ao caixão o tempo todo.

- Tá na hora, gente - Bianca falou se aproximando

- Eu não vou aguentar - falei escondendo meu rosto na camisa do Pedro

- Não é fácil mesmo - Bianca falou chorando

- Vamos fazer por ele - Igor falou e eu assenti

Rolou uma oração lá que eu mal prestei atenção, na hora de fechar o caixão o choro de todos intensificou. Eu e o Igor nos juntamos aos amigos dele.

- É difícil pra todos mas vamos realizar o último desejo do Pedro e cantar uma música que ele tanto amava - Bianca falou em um tom que todos pudessem ouvir - Pelo Pedro, gente

Quando ela terminou de falar começamos a cantar "Meu novo mundo" do Charlie Brown Jr, nunca mais eu iria conseguir ouvir aquela música como antes. O caixão começou a ser carregado e cantávamos em meio ao choro a música que ele tanto queria. Enquanto cantava eu lembrava de todos os nossos momentos, desde os vômitos aos mais engraçados e felizes. Tinha certeza que aonde ele estivesse estaria feliz por termos realizado esse desejo dele.

Depois do enterro a mãe dele me entregou uma caixa que ele tinha deixado pra mim. Dentro tinha algumas fotos, uma camisa dele que eu amava, o perfume dele e uma carta. Eu não teria coragem de abrir essa carta nem tão cedo, guardei a caixa no meu closet e me deitei. Tem três dias que o Pedro morreu e eu posso dizer que tô sobrevivendo, mal me alimentava, não queria tomar os remédios e só ficava na cama. Hoje eu iria saber o resultado dos exames.

- Infelizmente a quimioterapia não foi o suficiente - o médico falou depois de enrolar bastante

- E o transplante? - meu pai perguntou sério e eu estava bem alheia a conversa

- É mais fácil achar compatibilidade entre irmãos, mas é bom fazer teste em toda família - meu médico explicou

- Eu não tenho outro filho - minha mãe baixo

- Vocês podem ter outro - começou a explicar mas foi interrompido

- Não posso ter outro filho - minha mãe falou nervosa

- Vamos informar nossa família pra fazerem o exame - meu pai falou

- Tudo bem, Alice? Está quieta - o médico falou me olhando

- Posso ir embora? - perguntei respirando fundo

É notícia péssima atrás de notícia péssima, eu não sentia mais vontade de viver. Parecia que minha morte estava chegando e nada poderia mudar isso. Quado cheguei em casa eu tomei um banho e tentei dormir, mas sempre vinha na minha mente eu recebendo a notícia da morte do Pedro e o médico informando que tinha dado tudo errado. Me levantei, fui até o banheiro, peguei um espelho pequeno que ficava em cima da pia e quebrei. Me sentei no chão, fechei os olhos tentando acalmar meus pensamentos mas minha cabeça estava a mil. As palavras do médico se repetiam na minha mente e eu cortei meu pulso, mordi meu lábio com força e mesmo chorando cortei o outro. Me deitei no chão e senti meu corpo se arrepiar com o gelado do piso. Estava quase perdendo a consciência quando escutei um grito da minha mãe e eu simplesmente apaguei.

Acordei muito desorientada e mesmo com as vistas embaçadas consegui ver os meus pais sentados próximo a cama chorando baixinho.

- Ei - falei baixinho e eles se levantaram rápido

- Filha - minha mãe falou me abraçando

- Nunca mais faço isso, princesa - meu pai falou e eu comecei a chorar

- Desculpa - falei chorando - Eu não aguentei, minha cabeça estava explodindo

- Ei, se acalma - minha mãe falou limpando meu rosto - Não precisa pedir desculpas, só prometa não fazer mais

- Eu prometo - falei firme

Fiquei dois dias no hospital e recebi algumas visitas, inclusive da família do Pedro. Estava arrumando minhas coisas pra ir embora enquanto conversava com o Igor e os meus pais.

- Os exames ficaram prontos - o médico falou entrando no quarto - Ninguém na família é compatível

- Não pode ser - minha mãe falou nervosa e respirei fundo

- Mas achamos um compatível fora da família - falou e meu pai respirou aliviado

- Quem? - perguntei curiosa

- Senhor Igor Andrade Schmitz - falou e olhamos pro Igor na hora

- Que foi, gente? - perguntou rindo

- Você não falou que tinha feito o exame - falei olhando pra ele

- Até parece que eu não iria tentar ajudar minha irmã - falou dando de ombros e eu abracei ele apertado

- Eu te amo - falei chorando e soltei ele quando meus pais se aproximaram e foram abraçar ele

Depois de baterias de exames fizemos o transplante e com o tempo tudo foi dando certo. Eu me curei.

- Flashback Off -

Meu Ébano Where stories live. Discover now