7. Demônios não são tão ruins assim

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No final das contas, a aparição de Invidia foi um acontecimento extraordinário.

O Pecado apareceu para fazer uma checagem de rotina dos relatórios do SVAI, tarefa normalmente dada a demônios secundários, mas assumida pela segunda no comando pois havia um comunicado importante a ser feito: diversos setores da INFCORP passariam por uma série de vistorias e, se necessário, adaptações. Funcionários, desempenho, segurança e inventário seriam conferidos, e teria também um treinamento em forma de capacitação para melhoria de performance.

A última grande capacitação proposta por Ira tinha o objetivo de que menos braços e pernas fossem arrancados durante o expediente, então surgiu um minicurso de "Comunicação não (tão) violenta". Depois de uma série de seminários e da instalação de um salão de jogos com as mais diversas opções para aliviar o stress, o Diretor Executivo proibiu violência física extrema no espaço de trabalho e em suas extensões.

O aviso foi um dos propósitos de Invidia, contudo ela realmente propôs ao chefe do SVAI que Oblivium fosse realocado, recebendo uma recusa incisiva por parte de Jordan. O chefe do departamento contou para todo o escritório sobre como disse a ela que nunca abriria mão de seu melhor vendedor, nem que o dessem todas as virgens sacrificadas nos rituais do mês. Jordan era um tanto assustador como demônio, porém o que importa de verdade é que gostava de Oblivium, mesmo que o sentimento não fosse recíproco. Ele não era um dos Pecados, mas estava bem próximo do círculo hierárquico, isso o classificava como um aliado importante ali dentro – ainda que não fosse de todo confiável.

A aparente distância que os Pecados teriam do SVAI por mais um tempo não tranquilizou Oblivium por completo. O demônio do esquecimento decidiu realizar uma breve pesquisa sobre o que o quadro executivo planejava para o futuro próximo. Graças a Napo, um cara com muitos contatos, conseguiu a agenda dos chefões: estariam ocupados até o final da próxima Lua Nova, final do próximo Comitê de Seleção e momento em que vistorias teriam início.

No tempo que ficou no Inferno, pôde dedicar tempo a treinar seu duplo, já que Obli 2 se borrava de medo da maioria dos Pecados, em especial de Invidia e de Ira, os mais assustadores quando irritados. Oblivium não era ingênuo em relação ao poder de ambos, porém também não se impressionava ou tinha medo. Odiava Ira, Invidia e todos os outros, então o deixava indignado que Obli 2 sentisse tanto medo deles e que chorasse na presença dos dois.

Fizeram vários testes e ao final do quarto dia Oblivium fez sua melhor ilusão de Eva Green, mostrando-se orgulhosíssimo quando o duplo arqueou suas sobrancelhas em um olhar desafiador, ainda que não conseguisse dizer nenhum xingamento em retorno e começasse a tremer depois de alguns segundos. Era melhor do que nada.

Ficar alguns dias se dedicando a garantir a segurança de seu plano teve seu lado bom, porém ao final de mais um expediente, voltou a pensar no culto, no caderno, no demônio misterioso e no humano. Principalmente no humano.

Que já devia ter chamado.

O problema é que Jimin não tinha dado sinal ainda. Três dias humanos inteiros e nada.

Sabia que o artista era teimoso, os encontros que tiveram foram o suficiente para captar isso, contudo não foi a única coisa que aprendeu sobre ele. Ao ter um vislumbre de seus pensamentos dias antes, descobriu algumas coisas:

Sua família não tinha dinheiro, era com bastante esforço que o mantinham na faculdade de Artes, ele próprio tentava todos os bicos que podia para ajudar nas despesas; os colegas geralmente só o abordavam por interesse, e não era difícil de perceber; quase todos os relacionamentos que teve falharam de forma desastrosa, fosse por traição dos namorados ou por uma suposta falta de interesse do próprio artista; era muito esforçado e habilidoso nas artes, e isso despertava inveja de muitos colegas, mas ainda assim tinha um grupo pequeno com quem se dava bem; o próprio Jimin tinha inveja das oportunidades que os colegas ricos tinham, e vez ou outra revidava quando um esnobe tentava dar uma de superior para cima dele ou dos amigos, contudo na maioria das vezes se reprimia e isso deixava que uma boa dose de raiva acumulada se reunisse dentro dele; por fim, aprendeu que o artista costumava beber ou ter atitudes imprudentes quando se sentia vazio e frustrado, e segundo o que Oblivium viu em sua mente, Jimin vinha se sentindo assim há tempos.

Oblivium  |  jjk + pjmWhere stories live. Discover now