Capítulo 10 - Corromper-se

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Sob um sol forte da tarde daquele sábado, Rafaella encarava através dos óculos escuros as duas amigas em meio ao convés do barco de sua família. Era uma comemoração íntima com as únicas pessoas que se aproximavam de uma relação de confiança. Manoela e Gizelly alternavam a garrafa de champanhe na tentativa falha de abri-la, consagrando o início da comemoração das três mulheres.

Sem paciência para esperar, Rafaella rompeu a pequena distância que separava as duas mulheres tomando em suas mãos a garrafa cara que guardava o melhor dos espumantes. Com pouco esforço, um som seco se misturou entre a brisa fresca que contornava os corpos e o champanhe foi aberto. Rafaella sorriu convencida, arqueando uma das sobrancelhas antes de levar os lábios até o gargalo para tomar o primeiro gole de muitos outros.

— Onde estão seus modos, candidata? — A pergunta cheia de intenções saiu de Gizelly que mesmo envolvida pelo momento, não poderia deixar de alfinetar a amiga que sempre era tão polida e cheia de etiquetas.

— Não me encha, Gizelly. Estamos aqui para comemorar. Rafaella Kalimann está para vitória assim como a vitória está para Rafaella Kalimann. Posso me dar ao luxo de sair do padrão perfeito para comemorar como se deve. Prove. É o mais próximo que você vai chegar do meu beijo. — Gizelly aceitou a garrafa de bom grado, engolindo uma expressiva dose do champanhe se deliciando com tudo que tinha ao redor. O sol forte, o mar tão azul que ao horizonte se juntava ao céu límpido de um estado que escondia suas belezas em cidades interioranas. A chave de ouro se dava por Rafaella, que mesmo não estando produzida em suas vestimentas elegantes, em um biquíni ficava ainda mais hipnotizante.

Secaram a garrafa com tanta rapidez que não tardaram a abrir outra. Sozinhas e livres para dizerem o que queriam, Manoela foi a primeira a voltar o assunto da campanha. Gostava e precisava relembrar cada passo que precisavam dar, mas Rafaella estava segura do que fazia. Havia nascido para aquilo, sua vida girava em torno da política, era alguém engessado e perfeito por um único motivo.

Estava chegando próximo do seu maior objetivo de vida e não poderia estar mais realizada. Talvez estivesse mais se uma agente baixinha ocupasse um lugar daquele barco para satisfazê-la da forma que ela sabia fazer. No entanto, Bianca era um assunto em aberto. Rafaella ainda não havia tido tempo para resolvê-lo por completo.

— Um voto pelo pensamento. — Ofertou Manoela se juntando a amiga que encarava o mar em um silêncio no mínimo curioso. — Talvez dois se a Gi estiver interessada — Rafaella riu, ainda encarando um ponto do mar convidativo.

Sentia vontade de mergulhar, como há muito tempo não fazia, no entanto, com tantos assuntos para resolver e tantas estratégias para traçar ao lado de sua equipe, um momento de lazer era algo que estava em débito há meses. Era a primeira vez em meses que se divertia sem nenhuma intenção por trás, sem nenhuma relação falsa criada para favorecê-la. Somente suas amigas em um barco no meio do nada.

— Estou aproveitando o nosso dia. Você sabe, melhor do que eu, inclusive, que até as eleições as coisas tendem a piorar. Mais eventos, mais entrevistas, debate... Enfim. Estou feliz de estar aqui com vocês. A gente vai acabar com aquele idiota do Jonas, reduzi-lo a pedaços e deixá-lo humilhado perante a opinião pública — Falou desde o lugar de mágoa do último evento. Não tinha esquecido a mão que envolveu seu braço naquele dia.

— Rafa... — Algo no tom de voz de Manoela caminhava para o desagrado, o que fez Rafaella franzir as sobrancelhas imediatamente. Desde quando sua chefe de campanha não ficava satisfeita com suas palavras? — Não me olhe assim. O que eu quero dizer é que, mesmo estando em guerra com ele devemos tomar todo cuidado. Nos deixar levar por essa raiva cega pode levar nossa equipe a ruína — Manoela pontuou sempre se deixando guiar pela razão.

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