Capítulo 8

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Capítulo 8

A aula de química havia encerrado, os alunos do segundo ano estavam dispensados. Mirta não apareceu no colégio. Peguei o meu caderno e o pressionei contra o meu próprio peito, era de costume eu andar daquele jeito. Isso era uma mania que eu carregava desde quando eu entrei para a escola.

Eu e Eros descemos à escada a qual ligava as salas de aula até ao térreo. Na distração eu acabei tropeçando em um dos degraus da escada, onde a minha queda seria certa se não fosse à rapidez da mão de Eros em meu braço e me segurou na hora. Fiquei paralisada com a frieza de sua mão, como era gelada, mesmo fazendo aquele calorão todo.

-Cuidado! - Ele disse ao me segurar no braço esquerdo.

-Que mão gelada! - Eu murmurei sem pensar- Eu quis dizer... - Tentei contornar o que eu disse e fui interrompida com sua voz sensual.

-Eu sofro de uma doença rara.

Reparei que ele ficou sem graça pelo meu comentário impensado, e ele logo justificou o porquê de sua frieza.

-Evito tocar nas pessoas por causa disso.

Ele olhou para baixo.

-Eu nunca ouvi falar nessa doença. - Eu disse piedosamente.

-Por ser um caso entre um milhão,... Muitos a desconhece. - ele explicou olhando de volta em meu rosto.

-Eu sou uma dessas pessoas. - Eu reconheci.

-É um transtorno para mim, conviver com isso. - Nos encaramos seriamente. -Pareço um morto vivo.

Nossos olhares investigavam-se entre si.

-Não existe tratamento? - Perguntei-o enquanto desviei meu olhar para o lado. Eu parecia meio atordoada.

-Fiz vários tratamentos e de nada adiantou.

-Você é sempre assim... 'Gelado'? - Eu insisti.

-O tempo inteiro.

-Nossa!... - A minha voz soou extasiada.

-Até amanhã. - Seguiu em frente, me deixando para trás.

-Thiau. - Respondi desanimada, eu achei que eu não deveria ter comentado a respeito de sua mão fria, ele poderia ter ficado ofendido.

Segui o percurso até a minha casa, caminhando lentamente. Levava apenas meia hora, andando devagar. Eu olhava para o chão refletindo a geladeira que eram as mãos de Eros.

De como era possível uma pessoa ser gelada o tempo inteiro, até mesmo nos dias quentes.

A sua doença não só o incomodava como incomodava também as pessoas que tocassem nele ou eram tocadas por ele. Senti uma vontade enorme de poder ajudá-lo e tentar descobrir uma cura para resolver o seu problema. No entanto nada eu poderia fazer a não ser lamentar e sentir um pouco de pena dele.

Isso o tornava 'anormal'.

Comentei com a minha mãe a respeito do acontecido, assim que eu coloquei os meus pés dentro de casa.

-Ele disse que sofre de uma doença rara.

-O seu pai também parecia um gelo. - A minha mãe disse ingenuamente.

-Meu pai? -Fiquei surpresa com o comentário de minha mãe. -Ele sofria dessa doença?

Ela delatou os olhos. -Não sei, ele nunca disse nada... Na verdade eu só o vi uma única vez.

-Você e o meu pai nunca namoraram?

-Eu nunca te disse isso, mas eu acho que está na hora de você saber toda a verdade.

-Verdade? - A minha voz pareceu severa. Eu a encarei.

-Eu conheci o seu pai em uma boate, nós saímos e... Como eu posso dizer...

-Você dormiu com ele. - Facilitei as palavras de sua boca.

-Nós passamos a noite juntos. - Sentou-se no sofá, desencorajada. -Bastou uma única noite...

Desabafou arrependida de seu passado e as suas mãos apoiaram a sua cabeça enquanto ela olhava para o chão.

-Para eu vim ao mundo. - Completei a frase revoltada - É por isso que você o odeia tanto?

-Eu não odeio o seu pai, eu apenas evito falar nisso. Foi muito difícil para mim, enfrentar tudo sozinha.

Uma lágrima brotou em sua face.

-Ser mãe solteira, e ninguém saber quem é o pai de seu filho... - Ela levou a mão em seu rosto para interromper uma lágrima de angústia.

-Você deveria ter se prevenido. -Eu disse arduamente.

-E você não estaria aqui.

-Teria sido melhor. - Busquei refúgio em meu quarto.

Falar do meu pai sempre foi um tormento para nós duas.

-Não diga isso Valquíria! - Ela veio atrás de mim. -Você é a minha vida.

-Não estou dizendo que não sou. - Encarei-a, sentei na cama e coloquei uma almofada em meu colo. -Só acho que você não precisava ter passado por tudo isso... Se eu não tivesse nascido.

-Eu enfrentaria coisa pior para ter você aqui comigo.

O seu abraço demonstrou tudo. Permanecemos juntas por um longo tempo, a minha mãe era tudo que eu tinha e eu era tudo o que ela tinha. Aquilo ficou mais claro para mim naquele momento.

Uma dependia da outra.



Valquíria - A princesa vampira ( DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora