•✨ Pearl

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Será que existe uma vida fácil ou que seja livre de problemas? eram essas as perguntas que Pearl fazia todas as noites antes de deitar sua cabeça no travesseiro quente e ouvir suas músicas para que o tempo passasse rápido, com pais separados ela nunca teve uma infância boa digamos assim, o pai não era presente em sua vida, não que a mãe fosse presente... por outro lado, era como o pai, mas ela tinha uma explicação, trabalho e mais trabalho.
Pearl foi criada acima de tudo pelos seus tios, avós ou até mesmo alguém da vizinhança caso os guardiões selecionados não pudessem ficar com ela, resumindo a infância dela pode ter sido em partes conturbada demais para a idade dela, a mãe então havia se mudado para sua cidade ficando assim mais tempo com a filha e colocando por fim as obrigações de mãe na mesa da família.
Além disso tudo, ela sempre esteve confusa sobre sua sexualidade, não que isso a incomodasse, mas ela sim tentava não pensar muito nisso pois sabia como era sua família, preconceituosa do tempo das cavernas, assim que ela chegava da escola o único conforto que ela sentia era com suas amigas, em ligação ou fofocando em uma rede social qualquer.
Eram duas horas da tarde naquele dia, Pearl já estava crescida o bastante, 18 anos assim como suas amigas, algumas mais velhas e outras mais novas, era uma tarde chuvosa na cidade e tudo que ela queria fazer era chegar em casa e deitar na sua cama esquecendo todos os problemas, abrindo a porta ela já se depara com sua mãe e com o pai que era quase um fantasma, ao olhar aquela cena seu coração palpitava, não sabia se era medo ou felicidade, mas ela nunca teve uma infância muito boa.
Pearl... – falou seu pai a olhando entrar na sala.
– oi...
– filha, não se preocupe, seu pai veio aqui só pra resolver umas coisas e já está indo.
– já imaginei, a final de contas, você sabe que tem uma filha?
– Pearl eu já expliquei meu lado... – disse o pai dela.
– enquanto ao meu... – Pearl respira fundo e para de falar seguindo para a cozinha.
Antes que ela pudesse entrar na cozinha escuta sua avó falando ao celular com alguém que não sabia quem era embora estivesse no viva voz, Teresa parecia séria ao celular tanto que nem notou a presença de Pearl.
então ela vai mesmo? – perguntava Teresa. – Ela não falou nada comigo a respeito disso ainda...
Ao se virar ela encontra Pearl que agora estava sentada em uma cadeira comendo maçã e observando a avó que havia levado um susto e desligado o celular na hora.
quem era? – pergunta Pearl enquanto mastigava.
– ninguém importante... seu pai ainda está aí?
– que pai? não tenho nenhum.
– você não sabe o que ele passou querida...
– nem ele sabe o que passei, se ele tivesse ao menos um pingo de solidariedade por mim tentava ao menos se reaproximar ou... sei lá, qualquer coisa do tipo.
– as coisas não funcionam assim...dizia sua avó sentando-se ao seu lado. – ...você quer conhecer ele?
– acho que não.
– mas isso pode ser importante pra você, você não fala muito com a gente, nem se quer fala sobre sua vida, você acabou de chegar da escola e quase não se senta como está aqui hoje comigo pra falar de você.
– eu tento... do meu jeito...
A conversa por fim parecia fluir de forma saudável até Petrick, pai de Pearl entrar na cozinha acompanhado de Leila, sua mãe.
No mesmo instante Pearl se levanta revirando seus olhos e vai para seu quarto, seu pai a chamava enquanto a mesma seguia para a sua caverna interior.

Naquela noite mais tarde alguém bate na porta do quarto chamando por ela, Pearl revirando os olhos novamente se levanta e vai ver o que querem, na sala estava sua mãe e sua avó, ambas com uma cara pra lá de estranhas.
tá bom, o que foi agora?
– se senta... – disse Leila.
– lá vem bomba né?
– sabe que não te chamaríamos aqui se não fosse algo muito sério.
– é sério em relação a que?
– Pearl... só escuta. – disse sua avó que agora tomava um gole de seu café.
– bom... – começou Leila. – sei que não sou muito presente na sua vida, faz pouco tempo que voltei e perdi quase sua infância toda, de certa forma você ainda é minha filha...
– mãe vai logo ao assunto.
– eu vou voltar a trabalhar longe e preciso da sua extrema compreensão.
– já era de se esperar...
– por favor, não torna isso mais difícil do que já é.
– mais difícil? não mãe, hoje não... por isso que eu não me abro em relação a vocês, não param quietos em um lugar!
– sua infância foi difícil eu sei, não teve um pai por perto, mas a culpa disso não é sua e sim nossa! – Leila se escora no sofá agora respirando mais fundo ainda.
– era só isso?
– não... eu vou morar longe novamente, mas eu vou vir visitar você assim que eu puder, sua avó...
– deixa que eu falo por mim. – disse Teresa. – eu vou viajar por uns tempos, e você não vai ter ninguém com quem ficar...
– sou maior de idade...
– maior de idade sem nenhum dinheiro Pearl! – gritou sua mãe.
Um silêncio enorme se fez na sala, Pearl olhava para as duas fixando o olhar nelas esperando alguém falar alguma coisa para que finalmente o gelo naquele local saísse.
bom... já que não vai ter ninguém, seu pai vai passar uns tempos aqui, por isso que eu queria por gentileza... – disse ela juntando as mãos. – que vocês se conhecessem melhor.
– só podem estar brincando não é?
– não, não estamos, se você se diz tão madura pra isso você vai saber deixar as diferenças de lado e tentar alguma coisa com seu pai, nem que seja forçado! – disse Teresa pegando a xícara e indo pra cozinha.
– mãe eu...
– sem mais nem menos Pearl, você é especial pra mim de verdade, e preciso de alguém de confiança pra estar com você enquanto eu não estou...
– alguém da sua confiança, não da minha! isso não vai dar certo.
– você nem ao menos tentou...
– quando você vai?
– depois de amanhã, sua avó vai aproveitar e vir comigo, não pro mesmo lugar, mas aproveitar a carona.
– bom trabalho! – diz Pearl se virando e esbarrando com sua avó. – e boa viagem!
Pearl não era do tipo que respondia seus pais, por outro lado, ela ouvia e estava tudo bem mesmo que realmente ela parecesse chateada com algo, ela tentaria não pensar de jeito nenhum no problema, mas aquela Pearl já estava cansada de tudo consumindo ela aos poucos e não fazer nada pra tentar pelo menos mudar tudo aquilo.
No quarto Pearl estava comendo chocolate que havia encontrado em sua bolsa enquanto assistia algo no notebook até que no mesmo instante seu celular toca, ela põe o notebook de lado e vai ver quem é... “Railey” dizia a chamada, sem pensar duas vezes ela pega o celular e atende.
– Railey!
– oi amiga, sei que não sou muito de ligar e você também sabe mas eu tava pensando que a gente poderia matar aula amanhã.
– não vai dar... queria de verdade, mas eu tô de certa forma querendo focar nos meus estudos. – falou Pearl se sentando na cama.
– desde quando você estuda? brincadeira, tá certo então... vai perder as novidades.
– que novidades?
– ia te contar amanhã mas já que não quer ir...
– Railey, você já faltou dois dias a escola só nessa semana, queria que você estivesse mais presente comigo...
– e eu tô amiga...
– não! não tá, você tá agindo como a Kate, Wendy, Emma... todas elas foram se afastando aos poucos.
– se chama vida Pearl.
– sei que temos mas... tem toda aquela coisa de amizade, sinto que posso estar ficando pra trás nesse quesito.
– deve ser coisa da sua cabeça, olha, se é tão importante pra você eu dou um jeito de ir amanhã...
– ótimo, a novidade é sobre quem ou o que?
– sobre o meu vizinho... – disse Railey rindo.
– não vai me dizer que finalmente conseguiu pegar ele...
– beijos amiga, amanhã mais detalhes, tenho que dormir cedo, se não acordo insuportável.
– não desli... vaca!
E logo depois apenas o som de que não tinha mais ninguém do outro lado da linha, Pearl larga o celular na cama logo depois de mandar mensagem xingando Railey por deixa-la um pouco curiosa, depois pega novamente o notebook e continua a fazer o que estava fazendo antes.

F I V EWhere stories live. Discover now