Are you crying?

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Ele passou a mão pelos cabelos castanhos antes de soltar o ar pela boca, Nick parecia nervoso, nervoso era pouco, parecia que seu rosto ia explodir a qualquer momento, tentei pensar em algo para dizer, conseguia sentir seu desconforto daqui
-eu... desculpa desperdiçar o tempo de vocês-
-espera, é normal ficar nervoso mas isso não é realmente um teste- falei vendo que ele estava andando em direção a porta, o baixista parou e virou novamente na nossa direção, Alex assentiu com a cabeça e tirou sua guitarra da case
-que tal eu tocar junto com você?- O'Malley concordou com a cabeça e o vocalista ficou ao seu lado com a fender pendurada no ombro, ele sorriu para o Nick e novamente senti aquela sensação, meu coração parecia ter ficado quente
-prefere que eu te acompanhe?-
-posso te acompanhar? Não sei porque estou tremendo tanto-
-não se preocupa, esses caras são muito legais, tirando aquela garota ali mas ela não é da banda então pode só ignorá-la- Alex olhou para mim com um sorrisinho nos lábios, sorri para ele de volta e depois dei língua, não sei como havia conseguido responder rapidamente a brincadeira, estava maravilhada com aquela cena, por que? Não sei. Turner começou uma melodia leve e Nick o acompanhou, no começo de forma nervosa e depois mais relaxado, ele era ótimo, Matt e Jamie apertavam o meu braço de forma ansiosa e quando o garoto terminou de tocar eles levantaram de uma vez
-isso foi foda, Nick-
-muito, você foi incrível-
-amanhã vamos nos reunir aqui novamente, podemos tocar todos juntos, o que acha?- Alex perguntou para o baixista que concordou com a cabeça, ok, esse garoto é muito fofo, seus olhos verdes brilhavam. Assim que Nick deixou a sala, ficamos em silêncio por alguns segundos e depois começamos a pular de forma aleatória
-porra, M, você é foda, você formou nossa banda- Matt disse me pegando no braço e girando, a felicidade dele era suficiente para me deixar feliz mas eu nunca falaria isso na frente de outras pessoas, Helders era uma das pessoas que eu mais amava no mundo
-você conseguiu, conseguiu mesmo- Jamie disse balançando meus braços aleatoriamente, o abracei concordando com a cabeça, seu coração batia forte no peito
-agradecimentos não são o suficiente, quero 10% do lucro- eles riram e eu cruzei os braços, para afirmar que não tinha desistido da minha ideia e que falava sério.

Jamie e Matt fecharam a sala e se despediram, Alex havia sumido poucos minutos antes, Helders pediu que eu fosse procurá-lo para avisar que já tinham ido e eu concordei, não tinha muito o que fazer em casa então não fazia mal enrolar um pouco, ainda mais se esse enrolar envolvesse um dos meus passatempos preferidos: irritar o Alex
-não sei, pai, tava com meus amigos. Sim, amigos, é, até um merda como eu tem amigos, não sei, não sei se vou pra casa, beleza, eu arrumo o que comer- Alex desligou a ligação e apertou o celular na mão, seu rosto estava vermelho e suas veias do braços estavam saltadas, nunca o tinha visto assim e aquilo me causou um desconforto enorme
-ei, o que tá fazendo aí?- ele perguntou olhando para mim com desconfiança, tentou relaxar sua expressão ao máximo e realmente conseguiu, se não tivesse chegado antes provavelmente nem jogaria nada, sorri passando a mão na nuca, eu conseguiria sair de fininho antes mas agora não sabia o que fazer
-eu... os meninos já foram-
-ah, beleza, a gente se vê amanhã-
-na verdade...- corei encarando o chão, não sabia quem era o pai dele mas não parecia que eles se davam bem, por qual motivo ele mandaria o próprio filho "arrumar o que comer"? E por que isso me incomodava tanto?
-é que eu aluguei um filme e... bom, se você me ajudar a fazer o jantar...-
-isso é um convite, M?-
-não enche, vamos logo- falei dando as costas para ele, Alex correu e ficou ao meu lado enfiando as mãos dentro do bolso do moletom. Acabamos juntando alguns trocados e pedimos uma pizza, era de calabresa e estava maravilhosa, tinha planejado passar a noite sozinha mas ele não era uma má companhia, obviamente eu nunca falaria isso em voz alta

-nossa, isso aí é uma lágrima?- Turner perguntou quando o filme acabou, passei a mão na bochecha enquanto negava com a cabeça, Alex fechou a caixa de pizza que estava entre nós no sofá e a colocou em cima da mesa de centro antes de se aproximar
-então você é humana mesmo? Não esperava por essa-
-você que não deve ser humano, suas piadas são tão ruins que só podem ser de outro mundo-
-adoro como você sempre pensa em uma resposta na hora- corei notando que ele estava realmente perto, o que esse idiota pensa que está fazendo? Alex passou a parte de trás da mão na minha bochecha, não havia percebido mas algumas lágrimas ainda desciam pelo meu rosto
-se contar para alguém que me viu chorando eu mato você-
-sim, senhora, você sempre foi durona assim?- ele perguntou voltando para o lugar que estava antes, seus pés cobertos por uma meia fina e preta encostarem nos meus e um pequeno arrepio percorreu meu corpo
-não sou durona-
-você não é pouco, nos conhecemos a três anos e eu não sei quase nada sobre você-
-também não sei de você-
-o que quer saber?- encarei minhas mãos e as apertei, não devia perguntar, não devia me meter, mas não conseguiria, precisava saber, por que queria tanto saber? Por que me importava tanto?
-ouvi você e seu pai conversando... você... esquece, não precisa falar- apertei ainda mais minhas mãos, eu e minha língua grande, duvido que ele quisesse falar sobre isso comigo
-ele me odeia, queria que eu fosse um juiz como ele ou algo assim, na maioria das vezes acho que sou um fardo, não importa o quanto eu me esforce-
-você... tem mãe?-
-tenho, ela não é muito melhor que ele, não me defende nunca e sempre fecha os olhos para todas as merdas do meu pai, isso machucava antes mas agora não ligo-
-sinto muito, Alex-
-não sinta, nem todos tem sorte como você, seu pai é irado, M-
-eu sei, tenho muita sorte mesmo, não seria nada sem ele-
-e a sua mãe?-
-somos apenas nós dois, ela morreu quando eu era criança-
-é a da foto?- concordei e ele assentiu, ficamos em silêncio por um tempo olhando para o teto, por que o pai dele fazia isso? Por que a mãe não o defendia? Não conseguia entender, era o filho deles, tinha plena certeza de que meu pai daria a vida por mim
-ela deve ter muito orgulho de quem você se tornou- o encarei surpresa, Turner ainda estava parado na mesma posição com as mãos dentro do bolso do moletom, droga, estava chorando de novo
-você... não é um fardo, não sei como ele é capaz de te odiar, se ele pudesse ver como você tratou o Nick hoje, a forma como você o acalmou, aposto que ele ficaria orgulhoso-
-não busco mais a aprovação dele, mas é bom ouvir isso de você- Turner passou a mão novamente pela minha bochecha, sequei as lágrimas, droga, preciso parar de chorar, o garoto sorriu batendo seu ombro no meu
-vou indo, você tá com sono-
-pra onde vai?-
-acho que pra casa, vou ouvir um sermão mas tanto faz, posso dizer que tô com dor de cabeça ou sei lá-
-fica mais um pouco, seu melhor amigo chega do boliche daqui a pouco e ele pode até te dar uma carona- Alex voltou a sentar no sofá, ficamos conversando sobre música por bastante tempo quando ouvimos o barulho da chave na porta, Arnold sentou do lado do Turner e perguntou sobre o Bob Dylan, seu artista favorito no mundo

-por que não passa a noite aqui? Vocês podem ir pra detenção juntos amanhã- alternei olhares entre os dois e Alex me encarou como se esperasse alguma reação, dei de ombros e ele assentiu para o meu pai
-arruma sua cama para ele e vem dormir comigo, certo? Boa noite, Alex-
-muito obrigado, senhor-
-por nada, traga a guitarra na próxima vez- eles riram e eu neguei com a cabeça, arrumei a colcha da cama para ele e entreguei um cobertor limpo
-se precisar de algo pode ficar a vontade-
-obrigado, M-
-por nada, pode me agradecer esquecendo completamente que eu chorei-
-não sei se consigo, você ficou fofa chorando-
-cala a boca, Alex, boa noite- disse desligando o abajur e virando as costas, o garoto segurou a minha mão, não conseguia ver direito no escuro mas senti seus braços me envolverem, aquilo era um abraço? O que ele estava fazendo? Por que eu estava tão nervosa?

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