Capítulo 7

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– Eu juro por Deus, Renata...– Doutora Camila disparou assim que a porta da saleta foi aberta, marchando sobre o piso de porcelanato a fim de que seus scarpins fizessem o máximo de barulho possível – Que vou te encaminhar pra um psiquiatra na próxima vez que você fizer isso!

Gargalhei alto. A veia na testa dela estava tão saltada que tive a impressão de que ela estouraria e nos daria um banho de sangue a qualquer momento.

– Isso não tem a menor graça! Você não pode chegar no consultório de uma terapeuta e dizer pra recepcionista evangélica...– sacou o celular e coçou a garganta – "Vou literalmente me matar se a Dra. não aparecer aqui em cinco minutos"– leu em voz alta. – Porra, garota!

Dei de ombros.

– Bom, funcionou, não funcionou? Você nunca me atendeu tão rápido!

Ela me encarou como se eu fosse um inseto asqueroso na sola do sapato dela.

– Brincadeirinha..

– Vou anotar "dialeto suicida" na sua ficha e mandar pros seus pais, sua pirralha sem noção. – resmungou, jogando a bolsa sobre a cadeira giratória atrás da mesa e prendendo os cabelos longos e loiros em um coque desajeitado com o auxílio de um lápis. – Quero ver você arranjar tempo pra gracinhas amarrada numa camisa de forças.

Enquanto ela revirava os arquivos atrás do meu registro, me espreguicei no divã de couro surrado e fechei os olhos, completamente à vontade.

Com paredes em tons de caramelo, plantinhas e velas aromáticas espalhadas por todos os cantos e luzes amareladas, o consultório da doutora Camila continuava o mesmo desde 2008 – quando nos encontramos pela primeira vez –, e ela com seu corpo esguio, óculos redondos de armação dourada e batom vermelho canela, também. Levando a vida instável que eu levava – viajando o tempo todo, sempre sob pressão – aquela constância era reconfortante para mim: nas horas mais difíceis, era algo ao qual eu sabia que podia me agarrar.

Acho que foi por isso que nunca me permiti procurar outra terapeuta.

– AHÁ! – exclamou, balançando a prancheta no ar; e então saltitou até a poltrona em frente ao divã com ela em uma mão e uma lata de energético na outra. – Bom, na última vez que nós conversamos você disse "Nunca estive melhor!" – fez aspas com os dedos – E então passou cinquenta minutos enchendo linguiça. Levando em conta o seu show de hoje, suponho que dessa vez você vai abrir o jogo e me deixar fazer o meu trabalho?

Fiz uma expressão de ultraje.

– Eu devia te denunciar pro conselho de ética!

– Boa sorte. Quero ver quem vai cuidar dessa tua cabecinha dodói se eu não estiver aqui. – e virou todo o conteúdo da latinha num gole. Intimidade é mesmo uma merda.

Levei um tempo para juntar as palavras certas e começar a contar tudo o que aconteceu nas últimas semanas. Quando Bruno saiu do meu apartamento na noite anterior, tudo o que eu mais queria era falar sobre ele. Mas depois de acalmar os nervos e analisar toda a situação...ele voltou a ser a boa e velha ferida que parecia não cicatrizar.

– Bom, tem a ver com o Breno.

Conheci a doutora através do tio Bernardo, então eu obviamente mascarava alguns detalhes como nome, idade e profissão de Bruno. Sei que ela jamais contaria algo a alguém, mas era uma maneira de me sentir mais...segura.

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⏰ Última atualização: Oct 07, 2022 ⏰

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