Capítulo 2 - Do outro lado

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Era uma noite fria de dezembro, o vento assoprava leve lá fora, as corujas piavam, e dentro da minha casa o silêncio se fazia presente. O brilho da lua iluminava metade do meu quarto, as estrelas pareciam brilhar mais que nas noites anteriores. Decidi me levantar e abandonei o meu cobertor, olhei para o meu relogio de parede, indicava que já era quase meia-noite.

- O frio está aumentando, acho melhor eu preparar um chá. -falei para mim mesmo.

Vesti o meu casaco e meus sapatos macios, desci os degraus sem muita pressa, e segui para a cozinha no escuro, ao chegar lá acendi as luzes e fui até o fogão, e comecei a preparar o chá enquanto escutava o som lento de um violino que surgiu de repente, de um lugar distante. Olhei para o retrato da minha esposa sobre a estante, ao lado de um vaso de flores brancas. Suspirei, e lágrimas desceram dos meus olhos.
De repente uma memória invadiu a minha mente, estávamos indo viajar de carro, era noite, parecia estarmos só, não havia sinal de nenhum veículo na estrada, e uma garoa dificultava à nossa visão à frente. Conversávamos sobre o futuro, quando de repente surgiu um rápido clarão vindo em nossa direção, gireio volante o mais rápido que eu pude, mas não consegui desviar, um carro bateu forte contra o meu e fomos arremessados para longe. Quando acordei percebi que eu estava sobre a cama de um hospital, haviam vários arranhões e alguns ferimentos por todo o meu corpo, me sentia parasilado, e sem força. Ao meu lado, há alguns metros de distância, estava um médico que observava atentamente os meus batimentos cardíacos, chamei por ele com a voz rouca e fraca, e rapidamente ele veio até mim. Perguntei sobre como a minha esposa estava, ele não respondeu e desviou o olhar, como se tivesse perdido a voz.

- Onde ela está? -insisti.

Ele me olhou em silêncio novamente e colocou sua mão direita sobre o meu ombro.

- Sinto muito ter que lhe dizer isso, mas a sua esposa teve uma parada cardíaca e não suportou. -disse ele.

Senti uma forte dor no peito, minhas mãos começaram a tremer e mesmo sem forças comecei a chorar intensamente.
Logo a minha lembrança foi interrompida, pois percebi que o chá estava pronto, peguei a xícara e segui para a sacada.

- Sinto tanta falta do perfume dela. -falei enquanto olhava para o céu. - Agora me restou apreciar o perfume da noite fria e passageira.

Nuvens escuras surgiram no céu, um vento forte a frio se passou por mim, e o som do violino se aproximava. Senti alguém tocar de leve o meu ombro e chamar por mim, senti um calafrio intenso, assustado, soltei a xícara de chá, e me afastei, ela caiu e se despedaçou quase em cima dos meus pés, me virei e me deparei com a imagem da minha esposa à minha frente, sorrindo intensamente, seus olhos pareciam brilhar.

- Aproxime-se Dante, eu não vou lhe fazer mal.

Comecei a chorar muito de tanta felicidade naquele momento, tenso e com medo me aproximei dela. Com uma das mãos ela tocou a minha, e um sentimento bom invadiu o meu triste coração. Ela se aproximou de mim e me deu um leve beijo, mas seguida me abraçou.

Tentei dizer algo, mas de repente me senti paralisado e perdi a fala, fechei os olhos, o som do violo foi ficando cada vez mais intenso, quase insuportável.
Abri os olhos, o som do violino cessou, eu estava deitado, com os olhos fixos no teto, a luz do sol havia adentrado o quarto por uma abertura na cortina.
Esfreguei os olhos, me viro e ao meu lado está deitada a minha esposa, dormindo profundamente. Havia sido um pesadelo horrível. Me aproximei dela, lhe dei um leve beijo sobre a testa e disse sussurrando:

- Você é especial para mim, sei que algum dia terá que partir, mas fico feliz por saber que ainda está ao meu lado. Eu te amo muito.

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