Capítulo 1

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Observei seu rosto na pintura, bem mais detalhado do que qualquer outro que já fiz. Seu maxilar perfeitamente marcado, aqueles lábios grossos que tiravam todo o meu fôlego e aqueles olhos... Aqueles olhos azuis que me deixavam instável e totalmente submisso a ele. Eu não entendo, nunca entenderia. Andrew Musgrove não era bom, não era gentil. Mas eu o desejava, o desejava mais do que qualquer coisa ou pessoa que já tenha passado por mim, que tenha tomado meus lábios ou corpo.

Ao lado da pintura de Andrew, está ela. A beleza incomparável de Florence Pringle retratada em uma pintura não tão detalhada quanto a do rapaz, mas ainda sim, muito bonita. A pele negra escura, os olhos que pareciam uma obsidiana, os cabelos castanhos e crespos amarrados em um coque que ela costumava usar no dia a dia. Florence tinha traços únicos, simplesmente a garota mais bonita que eu já vi em toda minha vida, tanto por dentro quanto por fora. Era ela quem meu pai me pressionava todos os momentos, desde da infância escrevendo meu destino e o de Florence. Segundo o querido prefeito Lewis Theodore, Florence Pringle é a garota perfeita para mim. Eu gosto de Florence, tenho um grande carinho por ela e ela por mim mas... Não temos a menor química.

Durante essas férias de inverno, tenho me encontrado muito as escondias com Andrew e sendo obrigado a participar de jantares luxuosos com Florence. Às vezes me pego pensando o quanto seria mais fácil se eu amasse um deles e tivesse coragem o suficiente para enfrentar meu pai e expressar tudo que me corrói e sufoca por dentro. Mas, infelizmente a sombra que me persegue se chama insegurança.

Desvio o olhar das pinturas e vejo a neve já começando a derreter pela janela, logo começaria a primavera.
Sou apaixonado pela estação das flores, mesmo que eu pertença mais a melancolia do inverno. Eu simplesmente amo como a grama fica deliciosamente verde, as flores cheirosas e belas tomam a nossa atenção e as chuvas frescas caem como lágrimas de um apaixonado.

— Pinturas novas? — Sou tirado de meus devaneios quando a porta é aberta bruscamente. A voz fina de minha mãe toma o cômodo silencioso. — Que quadro lindo esse da Florence, vocês formam um casal tão fofo. Espera... Esse é Andrew Musgrove?

Desviei o olhar para minhas mãos sujas de tinta.

— Pensei que você... — Escutei os passos dela se aproximando, seus típicos saltos pretos faziam um barulho conhecido. — Você não odeia Andrew Musgrove? Todo mundo o odeia.

— Eu não odeio ninguém. — Respondi calmamente. — Para sua alegria, eu não gosto dele. Apenas o pintei por um repentino vislumbre de inspiração.

— Ah — Ela murmurou, nem um pouco convencida. — O jantar está sendo servido, Judith iria te avisar mas resolvi vir. Você está a horas aqui, queria ver como estava...

Assenti, largando meu pincel — devidamente limpo — ao lado das pinturas.

— Se limpe antes, Seu pai vai enlouquecer se ver você nesse estado na mesa.

— É claro que vai.

O rosto de Rachel Theodore foi tomado por uma expressão melancólica. Suas mãos deslizaram pelo meu cabelo, um carinho com algum significado especial... Mas o qual eu não entendi. Escutei atentamente o barulho do seus saltos, evitei me virar antes que ela estivesse fora do cômodo. Suspirei cansado antes de me levantar, minhas costas doíam devido as horas que fiquei sentado pintando, minha postura era um tanto relaxada — menos na presença de Lewis — e sempre fora muito difícil para mim permanecer com ela perfeitamente ereta em momentos de lazer. Eu raramente pinto em pé, talvez isso esteja se tornando um problema.

Assim que termino de lavar as mãos, me observo no espelho do banheiro. Felizmente não há nenhum resquício de tinta em minhas roupas — um fato sobre mim: Eu sou muito cuidadoso — Ajeito meu cabelo com as mãos e esfrego meu rosto, eu preciso despertar do meu estado de reflexões para conseguir lidar com Lewis.

PrimaverilWhere stories live. Discover now