Abri os olhos, me sentindo leve. Leve demais. Eu estava em um quarto branco, decorado em tons de bege. Sentei assustada, sentindo o cobertor que estava no meu busto cair. Eu estava nua.
Me enrolei no edredom e procurei algo que eu pudesse me defender, encontrando apenas um abajur. O tirei da tomada e tirei o fio, que só atrapalharia. Abri a porta lentamente, vendo o corredor tão limpo quanto o quarto. Estava quase silencioso, a não ser pelos pássaros cantando e o vento batendo nas árvores.
Da janela do corredor, pude perceber estar em uma casa grande na cidade, com grama verde e um jardim bem cuidado. Comecei a andar pelo corredor, indo em direção a escada. Quanto mais perto chegava da mesma, ouvi o barulho de talheres batendo contra porcelana, fazendo com que eu apertasse mais forte o abajur.
— Que bom que acordou, Evpraksiya — uma voz conhecida soou. Era minha mãe, adotiva, que estava sentada na mesa, com meu pai e minha mãe biológica.
— Mas que po... — comecei, mas meu pai interrompeu antes que eu terminasse.
— Não fale palavrões, querida.
— Desculpe. Estou meio perdida — olhei em volta. A casa toda era em tons claros, e meus olhos começaram a doer pela claridade que entrava pela janela.
— Avisei para não ir dormir tarde ontem — minha mãe biológica sorriu. — Mas como Jim foi embora pouco depois da meia-noite, deduzi que você dormiria um pouco mais essa manhã.
— Jim? — perguntei confusa.
— Seu namorado. Pensei que não esqueceria dele, principalmente pelo barulho que fizeram ontem a noite — minha outra mãe sorriu, piscando.
— Eu ainda degolo aquele menino — meu pai falou frustrado, bebendo um gole de café.
— Mas eu namoro a Enid — franzi o cenho, me aproximando deles.
— Quem é Enid? — perguntaram os três juntos.
— E-eu não sei? — procurei nas minhas lembranças, e um rosto vagamente familiar apareceu. Era uma das líderes de torcida. Jim tinha me traído com ela, e eu dei o troco na mesma moeda. Fiquei com a garota.
Minhas lembranças estavam muito confusas, assim como os meus sentimentos. Eu amava Enid?
— Vá se trocar para a escola, querida — a voz de um dos adultos soou, me tirando do transe.
Apertei mais o edredom, antes de subir a escada novamente. Era estranho o jeito que tinha lembranças nessa casa, sem nunca ter entrado nela antes. Lembrava de momentos com Jim e Dayse, apesar de todos estarem mortos. E tinha um motivo para eu estar aqui. Mas eu não me lembrava.
Coloquei o edredom em cima da cama, indo para o banheiro. Atrás da porta tinha um espelho, qual fiquei encarando meu corpo por alguns minutos. Tinha alguns chupões nas minhas coxas, assim como no meu pescoço. Passei a mão nas partes onde deviam estar as mordidas, não encontrando nada. Nem mesmo do tiro que levei de Andrea. Meu corpo parecia estar mais maduro, e meu cabelo um pouco mais longo do que eu me lembrava.
Prendi o cabelo antes de entrar no chuveiro, apenas para tomar uma ducha. Quando sai do banheiro para me trocar, vi um pequeno papel adesivo grudado na cabeceira da cama, junto de um pano vermelho pequeno. Tirei o pedaço de papel da cabeceira, aproximando ele para ler.
Hoje a noite de novo? ;)
EnidPeguei o pano vermelho, percebendo ser uma calcinha fio-dental. De repente alguns flashs apareceram na minha cabeça, me deixando mais confusa. As memórias da minha primeira vez com Enid no shopping começaram a se misturar com lembras que não eram minhas, nesse mesmo quarto. Não era Jim que estava comigo ontem. Era Enid.
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Cocaine - TWD (HIATUS)
RandomE se o mundo virasse de ponta cabeça? E se os mortos se levantassem e tentassem te comer? Basta apenas uma mordida. Um arranhão e tudo já era. Como será que é a vida de um garota de 12 anos nesse mundo?