Prólogo

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Às vezes um momento, uma fração de segundos, pode ressignificar uma vida inteira, ressignificar cada cor do arco-íris e te cobrir de novas sensações. Como uma grande epifania de cada distinto sentimento eu tive certeza assim que olhei nos seus olhos que você iria ressignificar tudo na minha vida.

16 de agosto 2019 - NY

Espresso, cappuccino, latte, macchiato e muitos outros tipos de café se dispunham no grande cardápio. A cafeteria leste da universidade de Nova York, estava tão lotada quanto em todas as quintas, talvez a diferença fosse a pressa a mais de alguns clientes atrasados para a palestra do dia. Era um fato que as cadeiras estavam muito concorridas no grande auditório do pavilhão EAMLT (Estudos Avançados na Medicina de Ligações e Tino). Havia uma ilustre palestrante naquele dia em especial.

Quem não gostaria de estar na presença de um ligado completo? Um famoso e raro Tino era tão difícil de se encontrar quanto uma agulha em um palheiro. A Doutora Draldron era a agulha, talvez até mesmo a mais famosa e interessante agulha. Ao menos para aqueles estudantes de medicina, enfermagem e física, que lutavam por um bom assento, ela, com certeza, era. Todos correndo feito baratas tontas com suas mochilas nas costas e cabelos desgrenhados, padrão de um dia de palestras.

Em contraste aos outros alunos, a calma de JungKook ao pegar seu café no balcão, era tanta que chegava a deixar uns e outros um tanto quanto irritados. Contudo, era só passar entre os largos ombros daqueles brutamontes, que, como mágica, seus nervos se acalmavam. Alguns dos veteranos de medicina diziam que ele sempre foi assim. Enquanto irritava alguns com sua paciência e calma, sempre conseguia se safar por seu carisma ou algo do tipo, já que nunca conseguiram explicar o que os atraía no moreno de estilo tão comum.

Com um copo de café gelado em uma das mãos, e o celular na outra, Jeon andava em direção ao auditório com sua forma firme e um tanto quanto pomposa, muitas vezes comparado a um pavão por seu jeito de caminhar. Mesmo sempre se vestindo de forma simples, mantendo diálogos curtos com quem não fazia parte de seu grupo e simplesmente abominando qualquer categoria de evento social que não envolvesse pijamas, o jovem estudante ainda causava comoção por onde passava. Alguns dos muitos olhares eram por raiva, ele despertava raiva em vários, desses, talvez uns seis com ótimos motivos, outros nem tanto. Haviam também olhares de inveja, carinho, paixão, mas os que JK mais odiava eram os de posse de um indivíduo específico, indivíduo esse que ele avistou assim que adentrou o lotado auditório. Evitar olhar na direção do estudante de física que o incomodava era a melhor alternativa, por isso seus olhos percorreram entre as fileiras, caindo sobre o único olhar que ele gostava de ter queimando sua pele.

Passar despercebido era uma tarefa difícil para um 'hippie' vestindo roupas coloridas, e para o moreno era impossível. Mesmo que estivesse vestindo, pela milésima vez, uma blusa de gola alta listrada e um cardigã cinza por cima. Como em um clichê filme de adolescentes, assim que colocou seus pés no prédio, os olhares, um a um, se direcionaram para seu apático rosto. Seu andar de pavão perdeu o ritmo e um pouco da pompa, os ombros se encolhera e ele se embrenhou em meio às fileiras até se sentar ao lado de Harper, uma loira que era um grande dilúvio de carisma real, boa personalidade e o mais lindo dos sorrisos, ao menos para JungKook – e 90% da universidade. Harper era o que chamavam de anjo caído, um rosto esculpido, deusa grega e quantas outras frases batidas do tipo, ela realmente era a definição de perfeição, a soma de beleza, inteligência e bom humor. Aquele moreno orgulhoso engoliria toda sua pompa e sem pensar duas vezes se tornaria o cachorrinho particular daquela loira se isso lhe desse a liberdade de se deitar na cama da mesma. Contudo, ele não precisava disso, o Jeon tinha o que quase todos daquela universidade queriam, ele tinha toda a atenção e carinho de Harper, exclusivamente para si.

Infelizmente, mesmo que o que mais quisesse fosse deitar a cabeça no ombro da mulher ao seu lado e sentir seu cheiro floral, ele não podia, pela segurança dos dois, o melhor era manter as aparências, mesmo que para suas próprias amigas. Amigas que já se acomodavam no confortável estofado daquelas poltronas azul-escuro do auditório. Anahí passou a mão por seus curtos cabelos cor de mel e despretensiosamente deixou a mão no ombro de Kat, que fingiu se incomodar – mesmo que não estivesse nem um pouco incomodada – ainda que não pudesse chamar atenção. Ela estava ali como penetra.

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