II

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Era ele ali, me observando com um sorriso aberto de orelha a orelha, seus dentinhos de coelho e suas singelas covinhas aparentes, que, como Jin dizia, eram os "defeitos" genéticos mais lindos que alguém poderia ter.

― É linda, não é mesmo? – Perguntou com uma voz aveludada, deixando transparecer todas suas boas energias, que me circularam como em um manto de proteção. Ele tinha ao seu redor um campo de força que me atraía. Seu cheiro me embriagou de forma suave, como um dia em um campo aberto. Era um "cheiro de paz".

― Sim, é sim. – Respondi, com toda certeza não falando da moto. Meus olhos iam direto aos dele e tive mais certeza ainda que aquele que me inebriava o percebeu, pois desviou o olhar para um pilar e ficou violentamente corado. Com a mão direita cobrindo um riso silencioso, ele segurava uma chave junto a um chaveiro do Mang.

Talvez tenha sido egoísta em pensar Merda ele realmente é o preferido dele com uma ponta de ciúmes, sem sequer saber de onde vinha esse sentimento. Ele parecia completamente artificial. Poderia ser resultado da bomba de hormônios que aquele campo de força estava me causando. Se em algum momento duvidei do garoto ser um ligado, neste momento essa dúvida se dissipou por completo.

― Eu mandei envelopá-la a pouco tempo. – Comentou, quebrando o silêncio e voltando a me olhar nos olhos. Eu não havia movido um único músculo e continuava a o olhar com a mesma intensidade, lentamente absorvendo as palavras e só então direcionando minha atenção à moto.

― Ela era preta, não é? – Questionei, mais em um tom de afirmação. No mesmo momento me arrependi, pois ele pareceu surpreso por eu saber disto. Meus olhos me traíram e voltaram a encará-lo. Ficamos ali em silêncio, nos olhando pelo que pareceu uma eternidade. Até ele corar de novo e forçar uma pequena tosse, como que se preparando para falar e levando a mão a sua orelha.

― Era sim, era preta. – Disse por fim, com um pequeno sorriso enquanto passava a mão pelas bochechas, como se tentando tirar todo rubor com os próprios dígitos. Quase que desconfortável.

Por um momento ficamos novamente em um silencio por mais estranho que fosse ainda parados ali, entretanto meu interior se contorcia por algo e acabei cedendo.

― Taehyung, prazer. – Estendi a mão em comprimento e sorri o mais aberto que pude. Ele acolheu minha mão hesitante em um suave toque, que me entregou uma onda eletrizante. Não pude sentir sua mão por completo, luvas de couro cobriam sua palma, deixando somente as pontas dos dedos expostos, o que impediu que a onda fosse ainda maior. Na mão contrária segurava um capacete branco fosco com um detalhe holográfico. Era o símbolo do grupo e ele se mostrou acanhado quando percebeu que notei. ― Vi você no show.

Falei achando que isso o faria se acalmar e talvez ficar mais confortável, mas os olhos arregalados mostraram que não. Ele parecia até mesmo desconfortável com toda aquela situação e eu já não sabia dizer o por que, talvez fosse o fato de nem por um segundo eu ter desviado os olhos enquanto ele continuava a desviar para qualquer que fosse o lugar. Ainda segurando minha mão ele murmurou inquieto um 'Woah', quase que suspirado.

― Desculpe, eu não tenho muita facilidade em conversar com as pessoas no geral. – Contou mexendo nervosamente em sua pulseira – a mesma de antes – contra o próprio jeans, ele soltou uma lufada de ar que pelo inverno rigoroso criou certa nuvem de fumaça que logo sumiu. ― É um prazer conhecê-lo Kim Taehyung-ssi. – Cumprimentou em voz baixa. Pareceu ponderar por um momento e quando seus lábios se abriram novamente ele soou tão mais baixo quanto um sussurro, mas eu ouvi claramente. ― Park Hyungsun.

Se apresentou, mas por algum motivo soou como uma grande mentira. Todo seu corpo respondia quase que em repúdio ao próprio nome e suas feições não pareciam contentes em pronunciá-lo.

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