Ensino Médio

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"Antes de tudo, me escute. Sei que está chateada, eu também estou. Espero você hoje a noite para lhe explicar tudo. Amo você, não se esqueça disso."


Eric, enviado há dois minutos atrás.

Eu tinha corrido para pegar meu celular e li com avidez a mensagem assim que chegou.

Eu queria acreditar nele, verdadeiramente acreditar em nossas boas memórias juntos. Que isso seria suficiente para que tudo pudesse ficar bem novamente.

Suspirei e enviei a mensagem.


"Tudo bem"


Ele respondeu logo em seguida.


"Legal gata, acredite em mim, vai ficar tudo bem."


Disso eu não tinha dúvidas, ia mesmo ficar tudo bem. Por um tempo.

Ele iria me mimar para me fazer perdoá-lo, presentes caros, restaurantes, noites em claro transando. Até que eu esquecesse por completo o que tinha acontecido e lhe entregasse meu coração novamente. Por dias eu teria toda sua atenção e acabaria o perdoando. Mas isso ia acabar também. Logo depois ele iria sumir novamente, por algumas horas, depois alguns dias, depois semanas. Até acontecer outra vez.

E eu sempre acabava cedendo.

Não culpava minha amiga por estar cansada disso, não era para menos. Eu estava há dez anos nisso.

Quando eu e Eric nos conhecemos eu tinha dezessete anos e ele tinha dezenove. Nessa época eu estava no segundo ano do ensino médio e foi quando tive que enfrentar o pior momento da minha vida... minha avó tinha começado a ter dores fortes na cabeça e quando fomos ao hospital ela foi internada e não voltou mais para casa. O diagnóstico foi rápido, o câncer já estava avançado e o médico não me deu esperança nenhuma. Por dois meses inteiros o hospital passou a ser minha casa, cuidei da minha avó — minha única familiar restante — até seu último dia.

Foi lá onde conheci Eric, ele deu entrada no hospital e teve que passar dois dias internado após ter se envolvido em um acidente de carro. Nada grave, mas por ele ser quem era, os médicos aconselharam que ficasse em observação. Uma hora depois ele já estava se esgueirando pelos corredores, dando em cima das enfermeiras e desfilando com seu bumbum de fora.

Não sei porque uma garota deprimida e desarrumada teria chamado sua atenção naquele momento, mas ele me encontrou quando eu mais precisava e sentou ao meu lado. Eu estava desolada e desamparada, sem saber o que seria do meu futuro. Quando Eric apareceu e me estendeu a mão... foi como uma luz no fim do túnel para mim.

Nos envolvemos tão rapidamente e em questão de dias ele já estava em minha vida, tomando as rédeas da situação após a única pessoa que cuidava de mim ter partido. Ele tinha contatos que facilitaram os papéis para que eu pudesse voltar para casa mesmo ainda faltando meses para completar dezoito anos, proporcionou minha alimentação e segurança por longos meses até que eu conseguisse um emprego.

Eric me ajudou a superar a perda da minha avó de todas as formas possíveis, ocupou o vazio e a carência que estavam em mim. E claro que eu me apaixonei perdidamente por ele.

Eu era jovem demais, acreditava que amor curava tudo. Merda, era um psicólogo que eu deveria ter encontrado naquele hospital. Mas ao invés disso encontrei... dependência emocional. Eu não tinha vergonha de dizer, era a isso que se resumia nossa relação. Eu não era ingênua, já tinha visto isso em filmes e novelas, já tinha lido postagens na internet.

Conta ComigoWhere stories live. Discover now