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Phill

Dois anos e meio...

Dois anos e meio desde que eu vim parar aqui.

Não há um dia em que eu não pense na S/N e na minha irmã e também no mal que causei nas duas. Ja escrevi muitas cartas pedindo ou até mesmo implorando perdão a S/N mas nunca tive coragem de envia-las... seria muita cara de pau fazer isso.

Guardo todas elas dentro do enchimento fino do meu travesseiro e também do colchão.

Em minha cela divido com mais outro detento, seu nome é Gael acusado de roubar um banco, o processo dele ainda não foi encerrado, ainda não se sabe se ele é culpado ou inocente, ja que as gravações são bem ruins e não da para identificar o rosto do ladrão mas pela silhueta chegaram a conclusão de que era ele. Gael jura até a morte que é inocente.

Quem me dera ser inocente também, me arrependo até a última gota do meu sangue do que fiz e se eu pudesse voltar no tempo nunca teria feito aquilo... mas não posso fazer isso, estou entre quatro paredes pagando pelos meus pecados.

Durante todo esse tempo que estive aqui houveram várias e várias fugas de outros detentos, já até explodiram as paredes das celas porém eu não movi um dedo daqui, aceito de braços abertos a ideia de que posso passar o resto da minha vida aqui porém estou sendo chamado muitas vezes para conversar com o chefe da prisão e temo que minha "liberdade" possa estar próxima.

Também nesses dois anos e meio conheci várias pessoas, desde ladrões, assassinos e serial killers. O que todos eles tem em comum é seu passado, onde tiveram infâncias difíceis, pais drogados ou alcoólatras, alguns sofreram bullying e apenas queriam fazer fazer justiça com as próprias mãos, queriam se vingar daqueles que lhe causaram dor mas essa ideia de vingança subiu a cabeça e o desejo de sangue derramado, sangue seco por baixo das unhas, gritos de desesperos de suas vítimas, sensação de ser poderoso subiu a cabeça e se tornaram o que são hoje.

Esse tipo de gente me ensinou a sobreviver nessa selva, onde animais tem seu território marcado e não gostam de novos integrantes. Me ensinaram a fazer armas, tenho duas, uma feita de bala em forma de gancho, não mata mas pode me dar alguma vantagem em brigas e uma escova de dente que eu derreti a ponta e afiei até ficar cortante, essa sim mata.

O sinal que soa por fora da cela nos indica que a hora de irmos para o pátio, vamos pra lá por uma hora mais ou menos, la os detentos podem jogar basquete, cartas dentre outras coisas.

Gael se levanta de sua cama e eu faço o mesmo, sempre levando a escova de dente comigo dentro da meia, no mesmo momento as portas de ferro maciço se abrem e todos os detentos saem, todos tumultuados indo pra fora ver a luz do dia pelo menos por uma hora.

Já do lado de fora o dia está ensolarado e bem bonito... também estava assim no dia em que a sequestrei

-Ta pensando nela de novo? -meu colega diz ao meu lado observando as pessoas jogando em nossa frente

-É impossível não pensar, foi o que eu fiz com ela que me fez parar aqui

-Aham

Olho pro lado e vejo grossas grades com cercas elétricas no topo e vários polícias passando por entre elas, do outro lado é a ala feminina, que estão fazendo o mesmo que nós, jogando basquete, cartas, jogando conversa fora, traficando drogas, ou até mesmo dando em cima de policiais, tudo pela sobrevivência.

Com esses dois anos não sinto mais vontade de fumar, talvez tenho parado com esse vicio, pelo uma coisa boa tenho que tirar aqui.

Também com esses dois anos Gael me ensinou a desenhar rostos e adivinha só faço desenhos dela e da minha irmã... será que ela ainda está do mesmo jeito que eu lembro? Ou esta completamente diferente?

Antes de ser transferido pra essa prisão fiz um pedido a um amigo que me devia um favor, pedi que protegesse a S/N de qualquer pessoa que tentasse feri-la, Scott aceitou meu pedido e espero que esteja fazendo o que combinamos.

-Sabe o que eu estava pesando Phill? -nego com a cabeça- O que vai fazer quando sair daqui?

-Uma pergunta difícil, perdi meu bar, minha casa, minha irmã me odeia, toda a cidade sabe sobre mim... e ela nunca vai querer me ver em sua frente e o namorado dela muito menos

-Você nunca mencionou que ela tinha um namorado

-É bem provável que eles estejam comprometidos, desde de sempre eles gostavam um do outro.

-Entendi

-E sabe o que é pior? Ele sempre avisou a ela pra ficar longe de mim, sempre deixou claro que eu era um suspeito e que não gosta de mim mas mesmo assim ela veio até mim, mesmo com todos os avisos ela não se importou, acreditou que eu era um boa pessoa e eu vou e fiz isso com ela

-Ela é uma pessoa boa?

-Você nem faz ideia do quanto

-Então talvez ela te perdoe

-Acho muito difícil mas sonho com isso todos os dias

-Sonhos podem se tornar realidade

Olho torto pra ele e o mesmo apenas ri, acabo rindo junto e o mesmo sinal toca indicando que é para voltarmos pra nossa cela, nem percebi que ja está escurecendo.

Ja em nossas celas me deito na cama e me viro para a fria parede de gesso e tento dormir.

Agora pra SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora