Capítulo um: Desordem

2.1K 140 512
                                    


Enquanto Willow tornava a falar sobre sua colega de trabalho irritante da faculdade, a Noceda bebericava sua xícara de café. Ela estava parecendo mais olhar através da menina do que realmente estar prestando atenção na conversa.

Achara que o universo tinha feito uma brincadeira consigo, já que depois de prometer não se relacionar com mais ninguém acabou fazendo exatamente o contrário, e para piorar, a garota acabara de desaparecer depois de ter conseguido o seu número.

Aos olhos de Luz, a garota gentil que lia livros para as crianças da biblioteca, nunca pareceria ser o tipo de pessoa que começaria um flerte para depois desaparecer sem qualquer pista de seu rastro. Principalmente depois de ter passado três semanas buscando pela latina ou encontrando-a atoa pelos lugares que gostava, pois elas pareciam compartilhar de vários gostos em comum.

A uma semana não via a garota na biblioteca, nem mesmo quando lançamento do livro da Azura, a saga preferida das duas, havia estado impresso na fachada do lugar.

Nunca mais havia encontrado-a na cafeteria, a mesma que estava sentada com sua amiga nesse momento.

E ainda mais, depois de questionar o paradeiro da tal Amity na loja, que tinha certeza que ela trabalhava, lhe disseram apenas um: "ela não trabalha aqui". Como resposta de um cara que ela não se lembrava de ter visto naquele estabelecimento sequer uma vez.

Luz não parava de pensar sobre oque Willow falava sobre sua imaginação fértil, estava tão absorta na sua falta de sorte que chegara a considerar ter imaginado a mera existência da esverdeada, também pensou em dar uma pausa no seu otimismo desenfreado a respeito do caráter das pessoas.

Estava ficando louca.

- Luz! - disse Willow irritadiça depois de perceber que estava apenas tagarelando ao vento, pois sua melhor amiga estava nesse momento em outra dimensão - você ouviu alguma coisa sobre oque eu disse?

- mas é claro que sim! - expôs treatralmente desacreditada da pergunta bem colocada da amiga.

- então oque foi que eu disse?

- sobre o quanto a Boscha é insuportável, claro! - viu Willow semicerrar os olhos.

- oque está acontecendo com você? Andou distraída o dia todo.

- é que... - mencionou acuada pensando em como falaria aquilo para Willow, ela e todos os seus amigos testemunharam milhares de vezes suas tentativas de se afastar de possíveis crushs que se colocavam em seu caminho. Se sentia temerosa em tentar mais uma vez e acabar quebrando a cara, por mais que quisesse tentar, sua extrema desconfiança com as pessoas não permitia - eu tô ficando maluca - suspirou. Naquele momento a garota viu que a situação parecia ser séria, não era comum ver Luz entrar em um estado como esse - euconheciumagarota - disse tudo de uma vez não dando nem chance da jovem de óculos entendê-la.

- calma, calma, fala mais devagar.

- eu conheci uma garota na biblioteca, sabe… ela parecia ser gente boa - e começou a tagarelar sem escrúpulos - nos conhecemos um pouco e teve esse dia que ficamos "presas" na cafeteria naquele temporal da semana passada. Então, eu acabei dando meu número pra ela e depois desse dia ela simplesmente sumiu! Isso porque a gente se esbarrava em todo lugar - proferia gesticulando as mãos para lá e para cá, enquanto a amiga só acenava a cabeça - na volta da faculdade, nas minhas caminhadas matinais, na biblioteca, ela até trabalhava aqui na cafeteria, mas parece que devo ter ficado louca no processo porque disseram que nenhuma garota com o nome dela tava trabalhando por aqui. Ela simplesmente "puft".

- talvez ela tenha uma ótima desculpa, quem sabe aconteceu um acidente… - disse Willow tentando manter o otimismo da amiga intacto - sabia o quão a questão do abandono era um tema delicado para a Noceda, e não queria tirar conclusões nesse viés sem saber direito sobre a situação.

As duas não demoraram muito mais dentro do estabelecimento, estava ficando muito tarde e o clima ameaçava esfriar.

Luz chegou em casa depois do cansativo dia na faculdade e do curto tempo que passou com Willow, acendendo apenas a lâmpada da sala, na qual deixava o resto dos ambientes pouco iluminados, como na cozinha e a sacada.

Sentou se na rede tricotada em tom de terra cotta feita por sua mãe, como um dos presentes dados quando a Noceda teria se mudado. Trouxe consigo um maço de cigarros na qual deixara descansando em cima do toco de madeira, que ficava ao lado da rede, e que sustentava um cinzeiro cor de bronze em formato de folha.

Se abaixou para tirar seus tênis esportivos e se deitou confortávelmente na rede, abrindo a caixa de cigarros e acendendo-o.

Ao mesmo tempo que sentia sua ansiedade se esvair, pensava ser inteiramente hipócrita, já que estudava educação física, treinava a equipe de atletismo do colegial, e saia para caminhar todos os dias para manter sua qualidade de vida, por causa da sua limitação.

Sabia que fumar pioraria sua lesão no joelho, mas mesmo assim não podia evitar acabar usando um ou dois cigarros quando ficava estressada. Era comum fazer isso quando alguma coisa lembrava seus traumas emocionais, oque não acontecia com frequência, já que a latina tinha nutrido o hábito de afastar qualquer interesse amoroso de sua vida por alguns anos.

Infelizmente para ela, mesmo fazendo o máximo de coisas boas possíveis, ainda tinha o gênio de alguém impulsivo e inconsequente, de alguém que fazia muitas promessas que não podia cumprir.

O som dos grilos era audível àquela hora, o beco que dividia o espaço entre as casas era tão estreito que outra sacada quase tocava a sua.

Portas marrom escuro com janelas embaçadas, grade enferrujada e um canteiro sem vida. Ninguém nunca havia morado ali, pelo menos no tempo em que já estava habitando o seu apartamento.

Uma outra luz fraca iluminava a pequena entrada do beco, chegando até mesmo na sacada da latina, que estava a uma altura considerável dos outros apartamentos abaixo. E que sinalizava muito bem sua presença devido a sua bandeira bi presa nas grades dali de cima.

Bateu a ponta do seu cigarro no cinzeiro para disperçar oque já havia sido consumido, e ao mesmo tempo em que sentia o cheiro insuportável da fumaça, também sentiu um aroma gostoso que nem sabia como descrever, parecia como algum tipo de perfume natural, talvez algum tipo de erva que ela não tinha conhecimento.

Deu mais um trago no cigarro e ouviu o som nada típico da porta ao lado destrancando-se por dentro.

Expeliu a fumaça devagar mirando o movimento. Observava a silhueta nem um pouco clara devido ao ambiente escuro do lado de dentro da casa antes desabitada.

Luz só conseguia avistar caixas e mais caixas pelas frestas da porta antiga. Sua curiosidade não tinha nem um pingo de vergonha na cara, permaneceu ali sentada a meia iluminação de seu próprio espaço.

Viu as luzes se apresentarem no local e uma pessoa familiar aparecer de costas para a latina, observou-a pegando em mãos um jarro mediano de plantas, virando-se para levá-lo a sacada.

Ou pelo menos tentou, já que ao avistar a imagem da Noceda pouco iluminada, a garota gritou e agarrou o vaso em seus braços firmemente, para que não se espatifasse no chão.

Imediatamente a latina pulou da rede e ligou o interruptor da sacada, revelando então sua identidade sem escrúpulos, junto a da outra também.

- Luz?

- Amity?

I don't wanna be your friendDonde viven las historias. Descúbrelo ahora