Capítulo dois: Percepção

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- você tá… diferente - e como ela estava, a antes esverdeada agora tinha seus longos cabelos ondulados pintados de roxo.

- espero que seja um diferente bom - proferiu com um sorriso simpático enquanto colocava o vaso no chão - desculpa ter sumido esses dias, meu celular quebrou e eu não pude concertá-lo antes, estava ocupada com a mudança e com o novo trabalho no hospital, esqueci de te contar que meu contrato ia acabar - falou surpreendendo a latina. Willow estava certa, ela realmente tinha uma ótima desculpa.

A Noceda respondeu com um sonoro "uhum" de sua garganta, enquanto acendia o outro cigarro preso entre os seus lábios. Podia jurar ter visto um pequeno rubor nas bochechas da outra ao lhe flagrar nesse pequeno ato. Já haviam a dito que ficava sexy com um cigarro e ela estava começando a acreditar.

- ainda não me acostumei, você parece muito nova para ser médica - a outra confirmou com a cabeça e se aproximou, encostando-se na grade para pegar o cigarro das mãos da latina e colocar na própria boca.

Apreciando mais uma vez os traços da Noceda, desde os seus cabelos cortados em channel, com as pontas da frente bem maiores, até a sua boca, finalizando a memória com a expressão surpresa da latina, já que era raro receber uma atitude tão direta de Amity, normalmente Luz que a desconcertava mesmo evitando se envolver.

- isso é algo que sempre ouço. Eu terminei o colégial mais cedo e entrei na faculdade com dezesseis anos, finalizei com vinte e um - depois dessa revelação Luz pôde lembrar um pouco de como a garota era um tanto misteriosa, suas conversas nunca se aprofundavam tanto e apesar de saber sobre a faculdade da latina, ela não sabia muitos detalhes da vida da pediatra. Ainda não acreditava ter ficado numa área tão superfícial durante três semanas. Só agora conseguia ver claramente certas coisas que seus traumas impediam-na de se aprofundar.

- você quer ajuda aí? - perguntou a Noceda pegando o cigarro de volta, também se encostando no parapeito da sacada. A outra negou.

- não quero te incomodar, meus irmãos vão passar aqui amanhã de manhã, estou só tentando deixar o lugar mais limpo.

- você não me incomoda, além do mais, preciso de outra coisa para focar e não terminar fumando essa caixa de cigarros inteira.

- dia difícil?

- tipo isso - a médica sorriu compreensiva. Nem imaginava que ela seria o motivo das paranóias da latina - eu tô no número 7, quarto andar  - Luz acenou com a cabeça, confirmando e apagando o cigarro dentro do cinzeiro, deu meia volta calçando suas pantufas confortáveis em cor branca, deixando sua sala com a iluminação ligada para trás. Pegou suas chaves, sua carteira, seu casaco verde e saiu rumo a casa da pediatra.

Andou poucos passos até ficar de frente para o prédio, começou a subir os lances de escada até dar a quarta volta. Ela já sentia o joelho reclamando, odiava escadas mas por pura distração não pensou em verificar se aquele prédio tinha elevador.

Avistou o número sete bem no início do andar. Cada corredor tinha pelo menos três apartamentos e eles não pareciam ser muito grandes, a latina imaginava que tinham pelo menos de 45 à 50m².

Luz tocou a campanhia mesmo sem saber se estava funcionando e logo obteve resposta, a porta se abriu e ela observou a garota lhe receber com um sorriso bonito, ficando também um pouco corada quando recebeu uma piscadinha da maior. Fazendo a médica desviar o olhar para baixo, se afastando para dar passagem à Noceda. Parece que seu momento provocativo tinha se esvaído de vez.

Assim que entrou, Luz logo foi tomada pela essência do aroma de flores, que sentiu da sacada ao pisar dentro do apartamento da outra, concluiu que talvez fosse algum tipo de insenso.

I don't wanna be your friendOnde histórias criam vida. Descubra agora